Pensar é uma atividade livre. Ainda que se imponha regras ou moldes de como fazê-lo, não é possível segui-los sempre.
Pensar é observar, analisar, criar hipótese (teoria), testar e avaliar o resultado. Parece simples, porém nossos sentimentos, desejos e crenças são partes fundamentais que afetam todo esse processo bem como são os argumentos e fatos que fazem com que a realidade exista.
Daí que todos nós pensamos e pensamos livremente já que cada um tem sua própria coletânea de sentimentos, hábitos, desejos, crenças e os muda o tempo inteiro.
Para quem “pensa” igual, repetindo o que foi dito, não pensa, apenas repete. Então existe o pensar (obviamente livre) e o repetir (obviamente retido a um padrão).
O desejo de sermos importantes, autossuficientes e valiosos faz com que concluamos que assim somos, sendo uma conclusão distante da realidade. Porém, é com essa base que pensamos sobre diversos assuntos e chegamos a outras conclusões sobre “a verdade”.
Repetir é visto como um comportamento desprovido de inteligência, e inteligência é algo que valorizamos e desejamos. Assim, concluímos rapidamente que somos inteligentes quando, na verdade, apenas desejamos que isso seja real. Essa é a primeira distorção que acontece: acreditamos que inteligência seja algo boa, motivo pelo qual a desejamos. Daí também concluímos que a repetição seja um resultado de algo ou alguém desprovido de inteligência. Como nós “somos” (desejamos ser) inteligentes, então não repetimos, nós pensamentos, já que pensar é o resultado do uso da inteligência.
Concluímos que pensamos, contudo, esse pensamento que nós mesmos “fizemos”, se realmente fosse nosso, é igual aos demais que nos rodeia. Pode acontece de pensarmos sobre um assunto e concluir algo similar ou igual a outra pessoa, no entanto, nós realmente pensamos sobre o assunto?
Quantas vezes falamos sobre um assunto sem estuda-lo? Quantas vezes emitimos opiniões sobre assuntos desconhecidos? Quantas pessoas assistem futebol por lazer e emite opinião sobre o que o técnico, uma pessoa que estuda o futebol e lida com o assunto profissionalmente, deve fazer? Quantas pessoas opinam sobre a vida do vizinho ou de parente sem saber como é de fato a vida dessa pessoa? Quantas pessoas falam sobre o que governador deve fazer sem estudar uma linha sobre política ou economia?
O ser humano é repetitivo porque a técnica da repetição funciona muitas vezes. Nós repetimos as palavras de nossos cuidadores e é dessa maneira que aprendemos a falar. Nós repetimos os passos de quem vemos e é assim que aprendemos a andar. Repetimos as ações de outras pessoas para imitá-las e aprender a fazer o mesmo. A repetição está por todos os lados do ser humano. Repetimos palavrões, repetimos comportamentos, repetimos sonhos, repetimos opiniões. É mais fácil repetir do que desenvolver toda a estrutura por si mesmo, seja na parte intelectual, emocional ou outra. Repetimos por ser fácil e inconsciente, o que permite que nos foquemos em outros assuntos.
A maior parte da vida é feita de repetição: repetimos o dia a dia, criando a rotina; repetimos o comportamento, escovando os dentes da mesma maneira, tomando banho na mesma hora e fazendo os mesmos movimentos; usamos os mesmos aplicativos nos celulares e jogamos os mesmos jogos; fazemos o mesmo percurso para casa ou para o trabalho; ouvimos as mesmas músicas, os mesmos programas, as mesmas pessoas… Repetimos. Repetimos. Repetimos.
Fazer diferente é a exceção. A repetição é a regra. Isso porque fazer diferente requer ter consciência e controle, o que são muito difíceis e requer muito esforço para serem feitos. Por isso repetimos tanto. Para algumas pessoas a repetição é tão forte que passam a vida toda fazendo as mesmas coisas, tendo os mesmos resultados e depois de muito tempo sentem uma agonia por não ter feito o que queria, por apenas de seguido a manada. Essa situação não é rara e mostra o grau de repetição que a humanidade está afundada.
Já a exceção de pensar e fazer diferente quer muito esforço. É preciso ter consciência, perceber o que acontece, analisar o evento e seus elementos, pensar numa estratégia de alterá-los, estudar os possíveis resultados e, enfim e, muitas vezes mais difícil, implementar a alteração. O esforço investido nesse processo é grandioso e exaure o ser humano, sendo a razão pelo qual é feito eventualmente. Ademais, o resultado desejado muitas vezes não é obtido, o que significa que o esforço não foi producente.
Por conta disso a repetição é um sucesso na espécie: ela pode não ser a maneira mais eficiente de se obter o resultado, contudo, por já ter sido usada inúmeras vezes, a garantia de se obtê-lo é alta. Assim, mais vale repetir sem esforço e ter um resultado minimamente satisfatório do que implementar grande esforço para talvez ter uma maneira mais eficiente de se alcançar o resultado.
Embora o pensamento, que é a base de toda e qualquer criação/inovação, seja raro na espécie e muitas vezes não ofereça o resultado desejado, quando é certeiro ele gera um resultado tão grandioso e benéfico que este é implementado, ou seja, as outras pessoas passarão a copiar a maneira de fazê-lo, repetindo a nova maneira de produzir o que se deseja.
A capacidade intelectual também não é tão grandiosa quanto desejamos que seja. A limitação intelectual faz com que muitas pessoas simplesmente não consigam pensar. Assim, a estratégia de copiar de alguém é a maneira mais eficiente que têm de alcançarem o que desejam e, se desejam ser inteligentes, copiar as opiniões das pessoas que elas consideram inteligentes é uma maneira de se sentirem inteligentes, alcançando o objetivo de se sentirem inteligentes.