Diante de um meteoro que colidirá com o planeta matando as pessoas, uma cientista fica com medo e busca um meio para interferir esse acontecimento através da política.
As pessoas que encontra na política, com poder de direcionar dinheiro suficiente para criar e executar o seu plano de impedir a colisão e a sua morte não é levada a sério. Isso a revolta. Mas por quê?
As pessoas são diferentes e possuem interesses diferentes. Isso significa que elas podem não se importar com a colisão do meteoro e a sua morte ou de outrem. Não se importar com a morte, não pensar sobre a morte ou não tentar posterga-la são pensamentos ou sentimentos que as pessoas podem (têm a capacidade) ter.
A cientista acredita que todos pensam como ela. Que todos querem viver. Que todos têm ciência do meteoro. Que todos sabem sobre a provável colisão. Que todos querem impedir a colisão. Que todos são como ela. Ao perceber a realidade, que as pessoas não são como ela a irrita profundamente. A sua revolta é de ver que as pessoas não se importam com o que ela acredita ser importante e valorizam o que ela não considera importante. É essa diferença de valores que faz com que ela se revolte. Ela despreza o que essas pessoas prazem (popularidade e fama) e elas fazem o mesmo, criando uma disputa para desmerecer o valor do outro.
Provavelmente os espectadores do filme concordem com ela. Por quê? Para ela era óbvio e certo que o meteoro destruiria o planeta e que as pessoas queriam sobreviver. Portanto, para sobreviver seria necessário evitar a colisão, o que, por sua vez, exigiria atenção e dinheiro público. Se todos pensassem como ela, como os espectadores que concordaram com ela, todo esse raciocínio é lógico e óbvio. Porém se mudar uma premissa base do raciocínio, de que todos querem sobreviver, todo o raciocínio perde o sentido. É essa falta de sentido que o faz ser descredibilizado pela população.
Isso mostra dois grupos de pessoas no filme: as preocupadas com a colisão do meteoro e a morte, e o de pessoas que não se preocupam com isso por possuírem outros assuntos que consideram mais importantes.
Como pode haver mais importância do que a sobrevivência?
O ser humano é motivado a buscar prazer, como visto em Hipocrisia: certa ou errada? Boa ou ruim? Por quê? Para algumas pessoas a possibilidade de morrer gera aflição, medo e desprazer. Uma das maneiras de diminuir esse desprazer, elevando a percepção de prazer, é diminuir o risco de acontecer o evento que causa medo. Isso gera tranquilidade, paz e bem estar. Então, em seu pensamento, evitar o evento que lhes causa medo é óbvio.
Porém nem todos pensam assim. Há quem não se importe em morrer. Há quem deseje morrer. Há quem busque prazer de outras formas para diminuir o desprazer do medo (distração). E há quem esteja satisfeito por sentir prazer o suficiente para não temer o acontecimento ruim, negativo ou prejudicial. Para esses quatro tipos de pessoas se esforçar para evitar o acontecimento que elas não têm medo ou não querem saber não faz nenhum sentido já que o ser humano não faz nada que não deseje, seja a ação em si ou a sua consequência. Por que alguém faria algo que não quer para ter um resultado que não deseja?
O filme mostra o espanto que a cientista tem ao descobrir que as outras pessoas não pensam nem desejam o mesmo que ela. Ela se baseou na premissa de que “todos são iguais (a mim)” e o choque com a realidade a fez se revoltar contra a mesma.
Se as pessoas são iguais polarizações políticas não aconteceriam por todos pensarem de forma igual. No entanto a história até o presente mostra o oposto: a existência constante de desacordo entre as pessoas exatamente porque elas não possuem os mesmos desejos ou pensamentos.
O filme mostra também a origem dessa raiva e revolta que o ser humano sente: da realidade não atender às suas expectativas. A revolta pode ser tão intensa que ele não se conforma e reage com agressividade e violência, último recurso humano para mudar a realidade que o desagrada.
O filme mostra o comportamento humano de um ponto de vista exagerado para facilitar os espectadores compreenderem o assunto tratado. Não é novidade. A reação humana (exagerada no filme) retratada não é algo atual, é uma característica humana que sempre existiu na espécie. O que nos gera a sensação de ser diferente dos demais momentos da história da humanidade é que vivemos a situação, somos participantes que sofremos com a situação, o que gera uma perspectiva diferente de quando estudamos a história sem fazer parte dela (somos observadores sem sofrer nada).
Para entender mais sobre isso veja Nostalgia de um passado inexistente (adicionar link).