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Feliz ano novo!

Por que dizemos isso? Realmente desejamos que tenhamos um ano melhor? Por que não falamos isso todos os dias ao longo do ano? O que acontece que somente neste período pensamos assim?

 

Primeiramente: por que no fim do ano?

O ser humano não percebe pequenas variações. Percebe somente o que lhe é perceptível e perceber e analisar um ano é perceptível. Em outras palavras: comparar e avaliar um dia e o dia seguinte não é muito produtivo porque não tem tanta variação (quando é rotina). Porém ao somar as mudanças de 365 dias é possível percebê-las. Assim conseguimos fazer um resumo de um ano, mas de um dia, de uma hora, de um minuto, de um segundo… é difícil porque não percebemos a mudança.

Na verdade a virada de ano é apenas mais uma madrugada como outra qualquer e que se repete todos os dias. Nós criamos um motivo para festejar esse dia específico porque nos é mais fácil do que fazê-lo diariamente.

 

Segundo: o ser humano estipulou um fim (de um ciclo) e isso dá ideia de que algo foi feito. É com o fim que analisamos o que foi feito, motivo pelo qual fazemos a retrospectiva do ano. Esse comportamento não é comum somente no fim do ano, mas de todo período, principalmente os mais difíceis. Quanto mais difícil é uma situação mais comemoramos o seu fim. Somos avaliamos em prova e testes acadêmicos no fim dos estudos, avaliamos os serviços que compramos quando finalizados. Inclusive muitas empresas fazem um questionário no fim do atendimento exatamente para analisar o processo que o cliente passou.

Por não fazer essa análise ao longo do ano que muitas pessoas a fazem no final.

 

Terceiro: por que ter início e fim?

Quando temos de fazer algo que não queremos (queremos somente o resultado da ação, mas não desejamos executar a ação) nós nos planejamos para iniciar esse algo porque nos é difícil inicia-lo por simples vontade, já que esta não existe. Por isso a dieta começa sempre na segunda, no próximo ano será diferente, começarei a estudar no próximo semestre e outras desculpas. Colocar um dia específico para iniciar o plano é uma tática que temos quando não queremos fazê-lo. Essa técnica nos “impõe” ou nos “força” a fazer a tarefa porque cobramos a nós mesmos quando vemos o calendário “nos dizer” que é hora de fazer o planejado.

A tática da cobrança funciona bem e por isso nós a usamos regularmente. Se sentirmos a liberdade de podermos fazer ou não nós nos sentiríamos muito incomodados e inseguros de escolher. Se podemos não trabalhar, por que trabalhamos? O que nos força a trabalhar é o resultado (normalmente a remuneração é o principal motivo). Se o trabalho não tiver hora de início ou fim nós provavelmente não seguiremos nenhuma rotina. Vamos protelar o tanto quanto possível até que não o façamos ou vamos trabalhar sem parar por não ter o que nos impedir de parar. A falta de disciplina e consciência sobre nós mesmos torna a tarefa da escolha difícil e às vezes insuportável. Poucas pessoas possuem estas habilidades para sentirem a liberdade de fazerem o que desejam e por isso não precisam de da tática de estipular um prazo para início (ou fim) de um plano (ou resultado).

 

Quarto: cultura

Nós entramos no “espírito” da comunidade. Se muitos andam de uma maneira, nós tendemos a andar parecidos. Se muitos falam de uma forma (sotaque), nós tendemos a copiá-lo. Se muitos festejam o fim do ano e desejam um feliz ano novo, nós tendemos a fazer o mesmo.

Este instinto de copiar a maioria faz com que nos integremos à comunidade, o que é essencial para nós uma vez que dependemos da sociedade.

 

Quinto: eventos sociais ou shows raros

A oportunidade de reunir pessoas costuma alegrar as pessoas. Então fazer um evento é desejado pela maioria e, se a maioria deseja, normalmente faz. Então muitas reuniões são feitas, tanto pequenas como as familiares, como em maior escala com multidões em praias e praças. O carnaval é outro exemplo de evento social.

Os shows de fogos de artifícios são raros. Eles são caros e não podem ser acendidos em qualquer lugar. Governos investem nesses shows comprando os fogos e organizando o local para a sua queima. Por ser atrativo muitas pessoas desejam vê-los e, assim, a data comemorativa acaba sendo sinônimo de ver esses shows.

 

Sexto: esperança

Na incapacidade de fazer o que se deseja e criar a própria satisfação o ser humano imagina que o que deseja chegará de alguma forma passiva, ou seja, ele mesmo não fará nada e algo ou alguém lhe dará. Essa é uma característica da espécie e está esclarecida no livro Hipocrisia: certa ou errada? Boa ou ruim? Por quê?

Assim existe a esperança de melhoria e realização de desejos no ano seguinte. Com isso as pessoas desejam feliz ano novo, paz, saúde e etc.

Quem faz o que deseja não espera que o deseja seja realizado. Simplesmente o realiza.

Sétimo: uma coisa estimula a outra

A criação de início e fim faz com que acreditemos que inícios e fins existam. Com isso avaliamos o período que se passa entre o início e o fim. Se foi bom, então há comemoração, se fui ruim há esperança de dias melhores.

Copiar a cultura é uma maneira de replicar o que já feito, como manter as percepções de início e fim. Isso faz com que a cultura se solidifique.

Tudo que é bom é desejável que se replique. Então se há momentos bons, como eventos sociais para que os aprecia, o fim do ano é um momento festivo. Estando perto de quem comemora o fim do ano, que deseja um ano novo melhor e faz análise do ano que passou facilmente copia-se esses comportamentos fortalecendo a cultura.

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