Dizem que mãe não é estado civil. Mas, o que é estado civil? E por que isso é tão importante?
Representamos vários papéis sociais através de relacionamentos. Alguns são bem claros, alguns são idolatrados, alguns são detestados, alguns inconscientes… O fato é que os usamos como referências, assim como usamos classificações de coisas na vida.
O estado civil solteiro, casado ou viúvo indica se a pessoa está aberta para um relacionamento romântico ou não dentro de uma sociedade monogâmica, que acredita que todos busquem uma relacionamento romântico e que quem tenha uma relacionamento romântico não possa ter outros ou receber outras ofertas (pretendentes).
Ao falar sobre mãe, inferimos algumas ideais básicas e comuns por serem rotineiras e idealizadas:
– ser mãe significa ser cuidadora de alguém mais novo;
– os cuidados são rotineiros e sem horário de término, o que provoca cansaço e estresse permanente;
– os sentimentos de afeto e preocupação para com a pessoa sob seus cuidados são facilmente compreendidos pela população.
Com isso é possível usar do termo mãe como uma classificação de pessoa que possui tais características em sua vida. Como todos que chegam ao mundo necessitam de uma pessoa com os traços citados, pode-se concluir que tal papel social é essencial na humanidade e, portanto, exerce grande influência social através dessas mesmas características. Visto o papel social desempenhado, pode-se concluir que mãe é um estado civil.
Além disso, o fato de exercer a função social materna indica que não há tanta disponibilidade para um relacionamento romântico por ter alguém a quem se dedique. Portanto, falar que é solteira mostra ausência de relacionamento romântico e abertura para o mesmo, enquanto que explicar que é mãe mostra a dificuldade em desenvolver tal relacionamento romântico.
É provável que o mesmo acontecerá com os pais conforme forem se dedicando a criação dos filhos tanto quanto as mães para indicar exatamente as mesmas informações: que não têm relacionamento romântico e que possuem dificuldade de tê-lo por ter filho a quem se dedique.
Quando alguém pergunta o estado civil busca informações sobre a pessoa, geralmente sobre a parceria romântica. Portanto, alegar não ter cônjuge e dizer que não tem muito tempo disponível para tal é coerente de modo que mãe/pai solteira/o faz sentido.
Neste aspecto pode-se questionar outras ideias: por que é tão importante o estado civil de uma pessoa em questionários sociais, médicos e outros onde não há busca por envolvimento romântico? Talvez a resposta esteja na história.
Ao voltarmos no tempo percebemos que a forma de relacionamento entre as pessoas era diferente. Os relacionamentos diretos prevaleciam (veja Hipocrisia: certa ou errada? Boa ou ruim? Por quê?) e uma das maneiras de identificar as pessoas era pelos relacionamentos que possuía. Falava-se que alguém era filho de beltrano, primo de fulano, casado com cicrano e etecetera. Isso significava eu laços sociais eram de suma importância e, dessa forma, o casamento era uma maneira de identificar uma pessoa socialmente. Daí que a certidão de casamento mudava o nome de uma pessoa, mudava a sua classe social (de solteiro para casado), fazendo uma nova associação social, o que conferia uma nova identidade social à pessoa.
A cultura de perguntar se a pessoa é casada ou solteira era para ajudar a identifica-la bem como o seu grupo social. Tanto é que pelos sobrenomes era possível identificar uma determinada pessoas e com quais outras tinha relacionamentos/vínculos.
Atualmente isso não existe com tanta intensidade ou importância porque cada vez prezamos mais pelo individualismo (capacidade do indivíduo em si). No entanto o hábito de perguntar o estado civil permanece, mas algumas alterações graduais surgem, como a de mãe solteira, uma vez que ser mãe estava associada diretamente ao casamento, o qual não tinha possibilidade de término com o casal vivo dentro dos moldes sociais (aceitação social).