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Você finge ser uma pessoa boa ou é uma pessoa boa?

Se você se preocupa em ser exemplar diante de plateia ou público, ainda que composto por apenas uma pessoa (alguém lhe ver), então você não é exemplar. Você controla este comportamento ao se oprimir para impressionar outras pessoas visando uma boa opinião delas a seu respeito. Se você se preocupa se tem alguém olhando para você ou para o que você faz, é porque você não quer fazer o que é certo. Se não é certo, é ruim. Se é ruim, não é bom.

Como uma pessoa pode ser considerada boa ou “de bem” se deseja fazer coisa ruim, se tem medo de ser flagrada fazendo coisa errada, ter seus segredos descobertos ou tenta ter um comportamento correto/exemplar diante de câmeras ou pessoas?

É o seu medo de não ser bem-visto  pelos outros que lhe proíbe de fazer o que você de fato quer fazer. Você se oprime para conseguir um resultado social positivo a seu respeito sendo um comportamento um comportamento artificial, não natural visto que o comportamento natural, ou inato, é aquele que temos ou desejamos ter não temos medo se consequências ou castigos.

Este comportamento proibitivo ou opressor é facilmente visto em milhares de pessoas que não gostam de trabalhar e trabalham pelo medo de não conseguirem o dinheiro que receberão após o seu contrato de serviço. São pessoas trabalhadoras? Não. Elas são pessoas que trabalha, o que é diferente. Se tivessem o dinheiro que desejam elas deixariam de trabalhar provando que não são trabalhadoras, apenas estão trabalhando. É um comportamento pontual que só existe por conta do medo de não se conseguir o resultado desejado assim como pessoas que se preocupam com a sua imagem sociais se esforçam para demonstrarem ser boas pessoas quando, na verdades, elas estão (momentaneamente) boas pessoas. Ao retirar a possível consequência ruim de não serem bem-vistas como na vida particular ou em situações em que não haja público, elas agem de forma diferente revelando quem são no comportamento natural ou inato.

Todos nós, em pelo menos algum momento, fazemos o que é errado, obtendo alguma vantagem pessoa em prol de regras ou leis. Isso significa que não somos bons. Então a pergunta que surge é: de onde tiramos a ideia de que a humanidade seja boa? E a resposta é: do nosso desejo de que isso seja real. Queremos tanto isso que acreditamos que seja verdade e este pensamento está mais bem explicado em A confusão de um pensamento e Por que confundimos desejo com realidade?

Embora façamos afirmações e vejamos este resultado benévolo em alguns momentos de nossas vidas, no dia a dia nós desconfiamos dos demais exatamente porque sabemos que eles querem obter vantagens pessoais já que isso é uma característica humana, tanto em nós, quanto nos outros. A nossa desconfiança prova a nossa descrença de que a humanidade seja boa e aja a favor de ajudar o próximo.

As pessoas que se mostram boas são recebidas com desconfiança e são as primeiras a serem evitadas por não confiarmos nelas. Pensamos, ainda que de forma inconsciente, que elas desejam a proximidade para nos atacar quando estivermos desprevenidos porque é assim que vemos as pessoas: da maneira que nós pensamos, agimos e vemos acontecer.

Quem não pensa assim são ingênuas ou burras e prova disso são os golpes financeiros que existem aos montes com muitas vítimas. Os golpes são criados de modo a fazer a pessoa acreditar que receberá uma grana se fizer ou aceitar algo simples, algo que qualquer pessoas possa fazer, inclusive o golpista. Sabendo que o ser humano busca a satisfação pessoal, por que alguém ofertaria dinheiro rápido e fácil se a própria pessoa pode fazer isso? Não faz sentido. Em Esperança e altruísmo este conteúdo está mais explicado.

As pessoas ingênuas são as que não percebem ou não imaginam a malícia nas outras, sendo uma característica negativa e prejudicial porque sem prever possíveis prejuízos, a pessoa não toma cuidado e acaba por se envolver em situações danosas com mais frequência e facilidade.

Já a pessoa burra, neste contexto, é alguém que acredita ser esperto e inteligente e cai nas cantadas sedutoras de pessoas que lhe passam a perna. Elas acreditam que são muito inteligentes, porém, na vida real, acabam por se envolverem em vários problemas justamente por não serem inteligentes o suficiente para perceber o que está acontecendo, o que os outros desejam por detrás de suas ações, por não se planejarem ou por não seguirem o plano traçado.

A segregação de ideias no pensamento humano faz a espécie viver uma tormenta por estar sempre em conflito. Se há o bem, então há o mal e jamais um meio termo. Dessa forma, existem pessoas boas, as altruístas que nos ajudam, e as ruins, que pensam somente nelas e não se importam conosco. Mas, quem é a pessoa que pensa somente nos outros? Quem não pensa em si? Quem não machuca as outras pessoas? Ninguém porque não somos um ou outro, nós somos hora mais para boas pessoas e hora mais para más pessoas e quem as define como boas ou más são o público, ou seja, aqueles que recebem os seus feitos, positivos ou negativos.

Quem é mais refém da opinião pública teme não ser bem-visto e, portanto, se controla o máximo possível para aparentar ser uma boa pessoa. No entanto, como saber se ela é uma boa pessoa realmente?

Já quem depende menos da opinião pública é mais livre para ser quem é porque não precisa se controlar tanto e agir de forma altruísta e bondosa para conseguir votos a seus favor. Estas são as pessoas mais verdadeiras já que o seu comportamento está mais próximo de sua natureza em vez de ser fraudado para conseguir o objetivo de ter uma boa reputação.

Ao buscarmos o melhor para nós, buscamos as pessoas que nos fazem felizes e são, aparentemente, boas. Ver este bom comportamento e somar com a nossa vontade de que isso seja real faz com que não acreditemos que a pessoa esteja fingindo para nos impressionar e, quando segredos e maus comportamentos são revelados nós negamos porque desejamos manter a imagem social daquela pessoa como era porque nos fazer bem. Já as pessoas mais sinceras nos incomodam. Por não buscarem a nossa aprovação, não se esforçam para nos satisfazer e, assim, não somos são felizes com elas. Daí que as pessoas mais sinceras são as mais repudiadas enquanto as mais mentirosas são mais sociáveis.

A socialização é uma troca como em qualquer relacionamento e as pessoas mais sociáveis são aquelas que geram bem-estar nas outras através de elogios, admirações, aceitações e todos os comportamentos que geram satisfação no outro. Dessa forma, se alguém deseja ser inteligente ou acredita que é, é um alvo fácil para quem fizer tal afirmação ou elogio, dependendo da interpretação da pessoa. Em qualquer caso, a pessoa fica feliz em “saber” que mais alguém a vê como inteligente e, portanto, quem faz tal afirmação é bem-vindo e querido.

Esta tática funciona particularmente bem para pessoas orgulhosas com distorção da realidade acreditando serem mais do que são ou terem mais do que têm. Qualquer pessoa que estimula o seu ego ou o seu orgulho ganha a sua atenção de imediato porque a pessoa se sente ainda maior, mais importante e melhor. Assim, a pessoa se coloca como inferior ao valorizar ou elogiar alguma característica na outra é quem tem o poder da manipulação e isso é facilmente percebido em discursos sociais onde muitas pessoas sem valor se aglomeram e se afirmam, umas para as outras, que são importantes, que são melhores, que merecem o que desejam e que, portanto, alguém deva lhes dar num discurso populista.

São estas pessoas que falam que o ser humano é bom ou que deva ser bom ajudando os mais necessitados ou quem possuem menos. Curiosamente, elas se contradizem porque dizem que são melhores e importantes enquanto exigem que outras pessoas, quem julgam ser inferiores, lhe dê o que querem. Ora, se elas são as melhores, não era para elas ajudarem os demais?

Ademais, o altruísmo está regularmente em seus discursos em afirmativas mentirosas. Elas alegam que o ser humano deva ser menos egoísta e mais altruísta porque desejam que os outros sejam altruístas para lhes beneficiarem num comportamento que dedura o próprio egoísmo. Se elas são altruístas ou desejam ser, deveriam agir como tais e ajudarem outras pessoas em vez de se aglomerarem e exigirem satisfações de outros grupos, afinal, elas não são as melhores?

É interessante perceber que as pessoas mais egoístas costumam ser as mais produtivas na sociedade e ajudando muito mais. Elas têm objetivos, planos e os executam gerando produção. Por não gastar tempo em socialização, elas investem o seu tempo em produtividade e ideias, as quais costumam necessitar de muitas outras pessoas envolvidas e, assim, as contratam gerando empregos e trabalhos, o que eleva autoestima e valorização destas pessoas bem como a melhoria do seu padrão de vida. Muitos benefícios porque estão focadas em fazer em vez de demandar.

A sociedade funcional é pautada no egoísmo porque é um traço da humanidade e todas as ideias que ignoram qualquer característica da espécie, incluindo o egoísmo, falha por ser distante demais da realidade. Criar um  modo de vida onde a pessoa se alimenta uma vez por semana não é funcional porque o ser humano precisa de mais alimento e em uma frequência maior, uma característica da espécie. Criar cidades subaquáticas também é impossível e disfuncional porque o ser humano não consegue viver embaixo d’água, sendo outra característica humana. Da mesma maneira, criar uma sociedade sem comportamentos egoístas é impossível porque cada indivíduo busca a própria satisfação e todos sabem disso, afinal, ninguém trabalha de graça, todos (a maioria) trabalha “contra a vontade” porque querem a remuneração monetária posterior. Isso não é um egoísmo, trabalha somente para conseguir o que se deseja?

Contudo, somos seres delirantes e loucos que acreditamos mais em nossas imaginações do que na realidade, então acreditamos no que nos faz bem e no que queremos. Portanto, se queremos que a sociedade seja boa e nos faça feliz, afirmamos que a humanidade seja boa e altruísta bem como exigimos tal comportamento mesmo sabendo de tantas guerras e mortes de seres humanos pelo próprio ser humano, mesmo sabendo de torturas e violências, as quais, muitas vezes, somos a favor, ou será que não gostamos de ver o outros serem castigados e prejudicados quando não seguem as regras que nós seguimos? Para não acreditarmos na realidade, de que somos violentos e que gostamos de violência porque julgamos ser errado e nos julgamos como certos, nós afirmamos que somos a favor da “justiça”. Mas, o que é a justiça senão a sensação de igualdade de sofrimento? Se nós sofremos, os demais, principalmente quem nos fez sofrer, também “merece” sofrer, logo, queremos o seu mau. Ainda assim, nos consideramos como boas pessoas ao usar todas as artimanhas possíveis para distorcer a realidade de modo que consigamos manter a nossa imaginação viva dentro de nós. Afinal de contas, queremos a nossa felicidade, o nosso bem, individualmente.

Leia Hipocrisia: certa ou errada? Boa ou ruim? Por quê? Para se aprofundar nos temas abordados.

E aí, você é uma pessoa boa ou finge ser boa?

 

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