Por que as vítimas são criticadas e desacreditadas de inocência?
As pessoas do mundo prezam por poder, inteligência, astúcia, malandragem e egoísmo, mesmo que suas palavras digam outras. Contam vantagens quando se dão bem em cima de outros (outras pessoas são suas vítimas), quando ganham sem trabalhar ou possuem outras pessoas para lhes satisfazer. Quem não possui tais condições sonha com as mesmas. Assim, o mundo preza pelo egoísmo e se dar bem às custas de outros.
Sendo uma característica íntima, esta é exposta na prática ao contar vantagens de possuir tais “qualidades”, de questionar a vítima em vez do agressor, mostrando que concorda com o agressor de se dar bem em cima de outrem, ou seja, a própria pessoa compreende a visão do agressor de agredir alguém para benefício próprio porque é o que a pessoa faz quando pode, ainda que em outros assuntos.
Damos muito valor a sermos servidos em vez de conquistar o que desejamos por mérito próprio. Daí que o mundo é feito por pessoas que competem por quem tem mais servos ou se dá melhor na vida, que é a perspectiva do agressor.
Vítimas de agressões físicas, de violências, cárceres, assaltos, estupro, furtos, abusos psicológicos ou outros são questionadas se elas realmente são vítimas ou se concordaram com a situação, provando que entendemos o agressor, mas não a vítima. A perspectiva é de que a vítima não é vítima, mas que de alguma forma queria a situação. A mulher que deu mole para o estuprador, a pessoa que não vigiou os seus pertencem que foram furtados, aquele que aceita um relacionamento que acaba com o seu psicológico, quem não obedece o valentão e acaba apanhando, quem não vigia a sua bebida para que não seja drogado… A perspectiva é que não há vítima, mas pessoas burras que se deram mal com oportunistas e, como queremos ser oportunistas para nos darmos bem, concordamos com a visão do “oportunista”, culpando a vítima por sua incapacidade de reação, burrice ou ingenuidade.
Isso mostra a verdadeira mentalidade e perspectiva de vida da população que age dessa forma sendo, portanto, cúmplice e agressora das vítimas. Mas como não desejamos ser visto dessa maneira, alegamos que estamos do lado da vítima, que desejamos uma sociedade melhor e menos oportunista, com mais paz e menos vítimas porque, na realidade, não queremos ser essas vítimas, mas desejamos ganhar sobre estas. Então falamos que o agressor está errado e que é necessário um sistema corretivo enquanto que, por debaixo dos panos, contestamos as vítimas, fazendo com que elas se sintam ainda mais impotentes, mais vulneráveis, sem suporte e expostas ao ouvir tais críticas vinda de cidadãos “de bem”.
O mundo será diferente quando a mentalidade mudar. Desejar se dar bem em cima de outra pessoa ou não almejar objetos alheios mostrará que teremos maturidade para termos mais liberdade. Poderemos parar com os carros abertos, deixar bicicletas sem corrente, achar posses perdidas sem que tenham sido roubadas, falar no celular sem preocupação, andar na rua sem medo de sermos alvos de alguém… Tudo disso acontece porque alguém quer algo de outra pessoa e faz o que pode para conseguir, motivo pelo qual tememos sermos as vítimas.