Muitas pessoas apreciam a atividade de comprar e algumas fazem isso compulsivamente. No cenário atual, onde há muito medo e pânico de adoecimento, muitas pessoas estão em casa e o comércio fechou. Contudo, esta cena não se manteve por muito tempo e, quando o comércio reabriu, muitas pessoas foram às compras, ou mesmo somente para olhar.
Diversas pessoas criticaram tal comportamento por considerá-lo não essencial, porém, para estas pessoas, tal atitude não foi analisada dessa forma.
O que se passa com alguém que passeia, faz compras ou “só dá uma olhadinha”?
Sair de casa promove um bem-estar, se comparado com ficar confinado em casa. Não é à toa que a privação de liberdade seja uma das punições de crimes.
Ver o mundo, pessoas, carros, o céu, construções, árvores, ruas ou quaisquer outros itens são estímulos para as pessoas. Como qualquer estímulo, o excesso ou a escassez cansa/estressa. Na medida certa/adequada os estímulos promovem saciedade, prazer e bem-estar para as pessoas. Por isso que sair de casa ou passear seja algo agradável.
Assim como sair nos proporciona prazer por vermos coisas diferentes e termos estímulos diversos, o mesmo acontece quando vamos a lojas e vemos muitos itens. Nós avaliamos cores, texturas, odores, formas, sons… Temos uma experiência multissensorial agradável, o que nos motiva a buscá-la quando possível.
Para quem ficou muito tempo em casa, sem estímulos prazerosos, sair e ir as compras, ou mesmo apenas para olhar, foi uma medida desesperada por prazer, algo que acontece quando entramos num estado deprimido/triste.
Quando ficamos deprimidos, buscamos maneiras de obter prazer para aliviar o desconforto/tristeza e uma das maneiras de se chegar a tal estado é não ter prazer ou ser privado de boas sensações, como sair de casa. Ter sempre os mesmos estímulos, como ver sempre os mesmos cômodos, as mesmas cores, os mesmos móveis, o mesmo chão, as mesmas pessoas, falar sempre a mesma coisa e manter uma rotina estritamente repetitiva gera estresse emocional, acarretando a insatisfação, infelicidade, tristeza e depressão. É como se o cérebro tivesse um circuito que, se não for utilizado vai enferrujando até que deixa de funcionar ou, se superativado, queima e estoura, momento em que a pessoa tem um surto comportamental por não aguentar carregar tanto peso emocional. Quando o cérebro chega em seu limite, tanto para excesso ou escassez, ele gera uma sensação de angústia tão grande que a pessoa não consegue segurar e reage. No primeiro caso a pessoa busca por prazer negligenciando os riscos porque o desespero é enorme. Assim, fazer compras “fúteis” em meio a uma pandemia ou experimentar droga quando a vida está sem esperança é uma saída para o cérebro tentar continuar vivo (funcional). Já no segundo caso a pessoa busca se livrar do que incomoda através da exposição, seja gritando, xingando, brigando, fugindo, desabafando ou outra reação que exponha o excesso de sentimentos e diminua a sua carga emocional. É como se fosse o fusível que queima para proteger o circuito cerebral.
Nas compras em si, além disso tudo, há outras partes da pessoa que são saciadas. Comprar costuma gerar uma sensação prazerosa de poder, uma vez que a pessoa escolhe o que comprar/ adquirir, já que escolhemos o que nos sacia/alegra. Além disso, ela consegue tal sensação agradável sem ameaça, mantendo-a segura. A pessoa também supre a necessidade de ansiedade, ou seja, de ter estímulo novo como mencionado, sem o excesso, isto é, sem medo ou sem entrar em pânico.
Ademais, interagir com outras pessoas, ainda que pouco, como o vendedor, satisfaz a parte social do ser humano, o que também gera prazer. Como para fazer compras é necessário sair de casa, há os estímulos citados acima. Tudo somado faz com que as compras sejam algo excitante, prazeroso e agradável, motivo pelo qual gostamos.
São diversos prazeres pequenos, mas somados nos dá saciedade e satisfação. Assim, terapia de compra costura ser uma maneira de saciar várias áreas da vida de uma pessoa e, por causa disso, acaba sendo uma forma de buscar múltiplos prazeres ao mesmo tempo, motivo pelo qual muitas pessoas recorrem a tal recurso para aliviar o estresse e relaxar e um exemplo disso são pessoas que fazem comprar exatamente para relaxar como forma de lazer.