O ser humano se acha racional (consciente e controlado) porque deseja ser racional. No entanto, se retirar todas as emoções ele não terá motivação para fazer nada porque não existe lógica em se esforçar para conseguir o que não se deseja. Se não deseja comer, por que buscar alimentos? Se não se deseja dormir, por que tentar dormir?
O ser humano sente as variações de emoções e bem-estar e tem dificuldade para identificar o bem-estar em si. Quando o bem-estar é permanente, o ser humano não sente a satisfação e com isso pode-se perceber que a felicidade constante é ruim e gera mal-estar.
Em um estado alterado, quando o cérebro está deprimido e não tem sensação alguma de prazer, como ter motivação para fazer algo se nada gera satisfação? Se nada gera bem-estar, então para que se esforçar? Se fome e satisfação alimentar são iguais, para que comer? Se ficar em repouso ou se mexer gera exatamente a mesma sensação infeliz, por que tentar fazer uma atividade física? Se ficar sentada e urinar em si equivale a levantar e urinar na privada, por que levantar e se deslocar até o banheiro? Se calor e temperatura agradável são sentidos da mesma maneira, para que ligar o ventilador ou o ar condicionado? Com tudo isso chega-se a uma pergunta: se viver e morrer são iguais, por que tentar permanecer vivo? É muita energia usada para conseguir o que não se deseja, então não tem motivo de se buscar.
A motivação é tão básica e normal no ser humano que não percebemos. Nascemos com instintos e um corpo que reage ao meio de forma animal e isso que nos estimula a viver. Não buscamos a vida em si, mas a boa sensação de se viver. Queremos alimentos saborosos ou que inibem a fome para evitar o mal-estar da fome, queremos dormir porque a falta de sono nos gera mal-estar, buscamos segurança porque nos é prazeroso tê-la, buscamos relacionamentos porque nos satisfazem e o resultado de tudo isso é a manutenção da vida (corpo funcional). Isso é a vida: a busca incessante pelo prazer e, quando essa busca acaba, cessa a vida também.
Entendendo isso é fácil compreender como pessoas que insatisfeitas são mais deprimidas ou pessoas deprimidas são mais insatisfeitas sendo que ambas têm menos vontade de viver porque há pouco prazer em suas vidas.
Os prazeres corporais são os primeiros a existirem e essenciais à sobrevivência. Sem eles, não há motivo algum para gastar energia, tempo e dedicação a alguma tarefa. Tudo possui uma consequência, seja boa ou ruim. Buscamos as boas e evitamos as ruins. Quando há mais consequências ruins, com pouca satisfação na vida, a pessoa tem uma vida muito sofrida e de extremo esforço o que a desgasta mais rapidamente e deprime o humor. Quando a pessoa possui mais satisfação, é uma pessoa alegre, confiante, otimista e feliz porque sente mais prazer na vida.
Os prazeres não são apenas corporais como leigamente se pensa. Prazeres psicológicos, intelectuais e emocionais também são fundamentais à manutenção da vida porque TODOS os prazeres geram o bem-estar que buscamos eternamente.
O que alegamos ser “qualidade de vida” nada mais é do que o aumento da satisfação pessoal que motiva a pessoa a buscar mais prazer. Remédios dão a qualidade de vida ao proporcionar menos dor e mais prazer à pessoa fazendo-a ter mais motivação para viver e realizar as tarefas necessárias à vida. Assim, tudo que gera bem-estar gera motivação para viver e, se temos motivação para permanecermos vivos, a chance prolongarmos as nossas vidas é maior através de comportamentos satisfatórios entrando no ciclo onde fazemos o que nos é agradável e o que é agradável nos preserva.
Quando este sistema é prejudicado, a própria vida corre risco como já mencionado. Pessoas que possuem este sistema funcional e o desconhece julga todos como se o tivessem também, portanto, como compreender uma pessoa que não é feliz? Que não quer viver? Não existe uma resposta para tais pessoas e, dessa forma, todos que pensam de maneira tão distinta são considerados como loucos rapidamente. Uma mera falta de conhecimento para um julgamento tão prejudicial àqueles que já sofrem com a falta do bom funcionamento cerebral.
Com todo esse raciocínio, pode-se perceber que, as pessoas que possuem mais satisfação com o prazer corporal são mais felizes. Visto que necessitamos manter o corpo funcional e que, para isso, precisamos realizar tarefas rotineiras, quem sente bem-estar ao fazê-las é mais feliz. Já quem precisa realizá-las unicamente para manter o funcionamento do corpo tem uma sensação diferente sobre a vida. Gastando o mesmo tempo e energia para manter a funcionabilidade do corpo tais como os demais, sobra menos tempo para realizar o que se gosta. Portanto, a vida é mais difícil, menos bela e com menos felicidade enquanto as pessoas que ficam felizes em tomar banho, dormir, comer e conversar possuem mais satisfação na vida. Visto que, gostando ou não de tais atividades, precisa fazê-las para manter o corpo funcional, quem possui satisfação nestas atividades possui mais prazer na vida e, logo, é mais feliz.
Um exemplo fácil de se perceber é quando se tem um trabalho indesejado. O prazer que se tem com o trabalho é negativo, ou seja, trabalhar é ruim, não gera satisfação. Contudo, é necessário para se conseguir dinheiro, que é o que se deseja de fato. Assim, as pessoas que trabalham fazendo o que não gosta possuem uma visão sobre a vida pior do que quem trabalha fazendo o que gosta porque estas pessoas possuem mais satisfação/prazer. Ambas possuem a satisfação de receber a remuneração, as segundas possuem a satisfação em realizar as tarefas do trabalho.
A ausência de sentimentos como desejos, que nos motiva a buscar, e medos, que nos leva a evitar, é a essência da vida. Sem sentimentos, não temos vontade de fazer nada e nos deparamos com a sensação de sermos um objeto inanimado sem qualquer pingo de sentimento ou emoção. Portanto, emoções e sentimentos são o que geram vida (consciente) dentro da nossa percepção sensorial e corporal.