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Somos bichos inconscientes agindo por instinto

Num mundo selvagem em que os fortes sobrevivem, a força é o determinante para a sobrevivência dos indivíduos e sua espécie. Contudo, não basta ter força se não souber usá-la. Ademais, também é muito provável que indivíduos fracos, porém com inteligência, consigam criar meios alternativos que favoreçam a sua sobrevivência e, além disso, existe o fator sorte, em que o indivíduo ter a graça de não se envolver em situações perigosas ao acaso.

Ainda que queiramos ser inteligentes, somos animais instintivos e selvagens. Lutamos contra tudo e todos que não favoreçam as nossas vontades e brigamos com o mundo quando não nos agrada.

Do mundo físico ao psíquico, passando pelo emocional e englobando todas as partes do ser humano, agimos em todos os aspectos da maneira mais selvagem que temos: lutando contra o que não queremos e buscando adquirir o que desejamos.

Brigamos para ouvir a nossa opinião nas vozes de outros porque nos faz sentir que estamos certos; lutamos para não acatar as vontades dos outros porque não queremos nos submeter; fazemos o que podemos para nos impor; responsabilizamos outros por sentimentos ruins que temos…

Sempre temos impor as nossas vontades, os nossos desejos, as nossas opiniões, os nosso sentimentos sobre os outros ao mesmo tempo que resistimos quando os outros fazem o mesmo conosco. Estamos sempre lutando como se defendêssemos um objeto concreto de suma importância para que não seja quebra ou mesmo arranhado por outra pessoa, algo que acontece quando alguém discorda de nós ou pior, prova que nossas ideias não são verdades.

Nossas ideias e os nossos ideais são objetos abstratos que sofrem dando sempre que alguém os critica ou os derruba com argumentos contrários irrefutáveis. Também é parte de nós e, portanto, se os nossos ideais são machucados com críticas e provas de que são mentira, nós somos machucados também. Por isso lutamos tanto para impedir que outros machuquem estes preciosos objetos que não são passíveis de serem tocados. Mas, se não podem ser tocados, como podem ser machucados?

Dentro do âmbito onde tais objetos estão, as feridas têm estruturas semelhantes. Assim como objetos concretos são danificados por ações concretas e físicas, os objetos abstratos são lesados por “ações igualmente abstratas”. Assim, se contamos uma ideia com palavras em forma de estrutura verbal, os ataques que sofre são feitos com palavras e estruturas verbais como os argumentos. Do mesmo modo acontece com a parte emocional que temos: nós nos sentimos prejudicados quando temos sentimentos que nos geram mal-estar. Portanto, o que nos gera mal-estar são as coisas que identificamos como perigos e agressores emocionais. Daí que, se acreditamos em uma ideia que nos gera bem-estar e alguém afirma que tal ideia está errada e prova que está errada, nós nos sentimos prejudicados e machucados ao sentirmos o mal-estar de não conseguir garantir que a nossa ideia está correta. Como foi uma pessoa que provou que estamos errados nos gerando o mal-estar, nós a identificamos como agressora que nos machuca. Mesmo que ela nunca tenha nos tocado ou mesmo nos visto. Basta que ela tenha tido acesso à ideia que temos e provado estar errada para que nos sintamos lesionados. É assim que nações inteiras conseguem odiar pessoas que sequer sabem que existem. Milhares ou milhões de pessoas odiando outras com quem nunca se encontraram porque viram em algum lugar que tais pessoas são contra a sua ideia.

Como continuar acreditando que somos inteligentes se agimos como selvagens estúpidos lutando por ideias e até matando pessoas para que elas não possam mais contra argumentar com os nossos ideais e nos gerar esse mal-estar?

 

E se o machismo for uma maneira de proteger a masculinidade frágil?

 

Se o homem é mais forte que a mulher, ele acredita conseguir mais e, portanto, sobreviver mais. É a (uma das) lei da natureza.

Por conta da força, são os homens que agem nos aspectos físicos que necessitam de mais força na sociedade. Guerras são feitas por homens que têm mais força e agilidade e políticas são feitas por mulheres que manjam a arte de socializar.

Sendo a política em grande escala feita usando força através de das forças armadas, guerras e ameaçadas à vida, naturalmente quem coordena tudo isso costuma ser um homem já que lida com vários outros homens e vive numa situação de ameaça constante.

É a grande política a responsável por criar a paz ou anunciar a guerra. É quem organiza a sociedade em grande escala usando da força e da ameaça para tal como as leis que ameaçam punir quem não as obedeça. A força policial, que necessita da força física para coibir crimes de pessoas mais fracas, é um exemplo do motivo de os homens serem sua maioria. As mulheres podem participar, porém, são os homens que normalmente têm mais força e agilidade para perseguir bandidos, entrar em conflitos violentos e têm uma estrutura corporal mais robusta que intimida as pessoas sendo um dos aspectos que corrobora para coibir os crimes de oportunidade.

É o homem quem fala mais alto; que é maior; que tem mais força; quem intimida mais; quem é mais agressivo. Quem quer confrontar um homem? Poucas mulheres, porque sentem que serão as perdedoras e sofrerão com as agressões deles por serem mais fracas, e outros homens que acreditam serem mais fortes.

Diante de um cenário em que sentimos que perderemos a briga, tendemos a evitá-la. Queremos a paz porque não queremos perder a guerra e não queremos brigar com homens (pessoas mais fortes que nós) porque sabemos que apanharemos mais. Então tentar outras formas de relacionamento é uma via mais promissora.

Assim como o líder de um bando de gorilas, os machos da espécie humana também buscam se impor e mandar nos outros. Às vezes da forma mais selvagem possível com lutas diretas, às vezes por vias mais suaves como a verbal. Porém, nem todos têm o corpo ou força suficiente para dominar os outros e, visando não perderem a luta com alguém mais forte, se submetem obedecendo o mais forte. Contudo, a vontade de dominar permanece e buscar pessoas mais fracas para se impor é uma das formas viáveis de se satisfazer.

Comandar mulheres, ou mesmo que seja apenas uma, é uma forma de se sentir mais forte e reconquistar a sua autoconfiança destroçada por não conseguir se impor a mais ninguém. Talvez a ideia de que o homem seja mais importante seja porque ele QUER se sentir mais importante; ele QUER se sentir mais forte; ele QUER se sentir mais confiante.

Assim como criamos ideias e acreditamos nelas apesar da realidade provar o oposto, os machos talvez sofram com esta mesma distorção do pensamento acreditando serem grandes, imponentes e fortes porque desejam se sentir assim.

O que é um homem sem uma mulher? A própria companhia feminina é uma forma de mostrar ao mundo que conseguiu alguém para controlar bem como conseguiu adquirir uma fêmea, um prêmio visto por nossa espécie assim como para outras.

A solidão aparenta que o homem não é capaz o suficiente para conseguir uma fêmea perdendo a admiração dos outros homens que o desprezarão e, consequentemente, a autoestima e autoconfiança do macho solitário também serão afetadas negativamente. Apenas quem consegue criar a própria autoestima e se desvencilhar das opiniões alheias (isso nunca é 100% porque vivemos em sociedade, então precisamos ser boas pessoas para sermos desejáveis e os outros se relacionarem conosco) se torna imune às chacotas, críticas e fofocas dos outros. Como isso não é comum na espécie por sermos uma espécie muito imatura, muitas pessoas fazem o que os outros querem para se sentirem queridas, amadas, importantes e desejadas pelos outros porque é com o valor que os outros lhes dão que elas se avaliam. Se são muito queridas, são boas pessoas, caso contrário, são más pessoas e más pessoas não conseguem muitos relacionamentos e, sem estes, não consegue muita coisa que depende dos outros.

O dinheiro é uma forma de facilitar as trocas entre as pessoas. Em vez de trocarmos afetos e bem-estar, trocamos algo numérico evitando o grande investimento emocional que é  relacionamento humano. Sem o envolvimento emocional, sentimos que não estamos presos e, se não estamos presos, estamos livres. Assim, comprar o que queremos é uma forma de conseguirmos algo dos outros sem a sensação e cobrança (de termos de ser como o outro quer para que, em troca do nosso bom comportamento, ele nos dê o que queremos).

Claro que isso só funcionam em grande escala e para as pessoas desconhecidas. Os relacionamentos e trocas de afetos são fundamentais para o ser humano. Mesmo usando o dinheiro para conseguir suprir algumas vontades, temos a necessidade social e buscamos pessoas para satisfazer tal necessidade. Contudo, podemos comprar parcialmente essa satisfação ao oferecer festas, discursos, prêmios, destaques, reuniões, presentes e quaisquer coisas que possam ser compradas e “dadas” ao outro em troca de seu afeto, afinal, quem não agradece quando recebe um presente fazendo o outro se sentir bem?

As mulheres costumam ser boas na sociabilização. Com percepção mais acurada nas sutilezas, muitos relacionamentos femininos são complexos e os homens não entendem todas as variáveis existentes neles. É muito comum os homens apenas reagirem aos “encantos” femininos, que nada mais é do que eles agirem de uma forma que não percebem e não entendem enquanto a mulher tem mais percepção a respeito. Dessa forma, a mulher consegue controlar o homem sem que ele perceba. No entanto, ser controlado é o oposto de se impor e se impor é ser o mais forte, mais admirada e desejado. Ser controlado também é a sensação de ter de fazer algo que não se deseja por se sentir ameaçado de alguma forma. Tal como as leis que ameaçam com punições quando não são obedecidas, os relacionamentos possuem várias cláusulas inconscientes, porém sentimos o que é permitido do que não é bem como as punições que receberemos se não as cumprirmos. Para evitar um mal maior, escolhemos o mal menor e agimos como não queremos, mas que gera menos mal (mal-estar para nós). É assim que muitas pessoas se sentem presas aos empregos que não gostam: para evitarem o mal maior de não terem dinheiro, escolhem o mal menor, que é trabalhar.

Então as pessoas não querem ser controladas porque queremos sentir a liberdade. Queremos sentir que teremos o que queremos e que não forçados a fazer o que não queremos. Queremos apenas o bem-estar e isso é a liberdade. A prisão é desejarmos algo que não podemos ter porque isso nos incomoda e, se for muito intensa essa vontade insatisfeita, ficamos obcecados e ainda mais infelizes e angustiados.

Com os machos fracos querendo se sentirem fortes, controlar e dominar a mulher, um ser mais fraco, é uma das maneiras que têm para satisfazer esse orgulho masculino que lhes diz serem fortes e grande. Serem bons machos.

O primeiro passo é conseguir a fêmea e a docilidade costuma ser uma tática muito eficiente. Com gentileza e cuidado, a fêmea fica mais receptiva e o macho pode se aproximar. Conforme o relacionamento perdura, os outros aspectos das pessoas são revelados e um deles é justamente a mágoa do orgulho masculino não satisfeito.

Ainda que o homem não queria se impor, parte de si é animal e a busca por se impor acontece mesmo que de forma inconsciente. Manter a mulher no lar é uma forma de aprisioná-la para poder jogar os seus lixos emocionais tal como sequestros e relacionamentos abusivos onde a vítima é isolada do mundo para se sentir ainda menor e mais fraca. Para evitar o confronto e provável perda da luta contra o sequestrador ou abusador, a refém obedece em troca de não ser violentada ou agredida. Física, psíquica e emocionalmente, do menos intenso para o mais intenso respectivamente, a refém perde as suas proteções. Sem ter um escudo para evitar os socos, sem ter uma ideia estruturada para enxergar o que se passa e sem ter autoestima o suficiente para não aceitar as agressões emocionais, a refém obedece em todos estes aspectos acatando às ordens, concordando com as ideias de seu dono e aceitando as críticas (emocionais) se desvalorizando nestes aspectos com esse relacionamento.

As mulheres que possuem seus círculos sociais têm mais capacidade de obterem ajudas para confrontar o agressor porque pode se unir a outras. Ademais, pode fugir do agressor nas casas de amigas, consegue mais autoestima por ser valorizada em seus círculos sociais e pensar mais por si mesmas por não ficar completamente imersa no ambiente hostil que só a degrada.

A sociabilidade salva vidas. Salva tanto que o ser humano criou sociedades justamente porque o benefício de se conviver com outras pessoas favorece a expectativa de vida e a qualidade de vida. Uma pessoa isolada sofre porque a sociabilização é uma necessidade fisiológica do cérebro, é fonte da segurança intelectual e promotora de bem-estar emocional ao promover o indivíduo socialmente. Portanto, retirar a sociabilização de um indivíduo é tão grave e danifica  a sua capacidade de pensar, de sentir e de sobreviver.

Diante de reuniões e festas, o homem demonstra afeto e cuidado para com o seu cônjuge para se mostrar como uma boa pessoa e, assim, ser querida, respeitada, admirada e elevar a sua autoestima enquanto, fora dos holofotes ele despeja os seus lixos num cenário oposto do que demonstra socialmente.

O poder social é tão forte que muitas pessoas aparentam ser de um jeito perante os holofotes sociais e são de outra maneira completamente diferente quando não precisam fingir serem que não são. Narcisistas são exemplos desse tipo de pessoa que faz com que as pessoas distantes e grandes grupos lhes vejam como boas pessoas enquanto, dentro de casa, trata a todos como lixos e escravos que têm o dever de lhes servir. O isolamento que os narcisistas promovem é justamente para deixar suas vítimas fracas para não conseguirem saírem de suas guarras porque, na verdade, é o narcisista quem precisa do refém assim como é o homem quem precisa da mulher porque, se ela não existir, ele não tem como se impor e se colocar acima de alguém para se sentir superior.

Será que o comportamento de isolar a fêmea ao mantê-la reclusa em sua casa é uma tática para reduzir seu poder social frente ao orgulho masculino ferido ao não ser visto como forte e imponente para os demais da sociedade?

Veja mais sobre a sociabilização humana em “Tirania ou afeto?” (colocar link de 1 de janeiro de 2025) e “somos tão diferentes dos outros animais? (link de 21 de maio de 2025).

 

 

 

 

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