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Relativismo

O que é relativo? É uma ideia, opinião, dado que não é absoluto.

 

O que é absoluto? É o que é, sempre foi e será. Algo imutável, inalterável.

 

Vivemos em um mundo que está em constante mudança, portanto, nada é de uma determinada forma para sempre. Tudo é no presente, pode não ser no futuro e pode ter sido diferente no passado, portanto, é relativo ao tempo. Pode-se dizer que é absoluto num determinado intervalo de tempo enquanto não notamos variações, contudo, os sensores que temos são limitados e também alteráveis e, por isso, não são tão confiáveis quanto acreditamos que sejam.

 

Homens enxergam menos cores que mulheres e pessoas deprimidas enxergam menos cores quentes que pessoas não deprimidas. Então, se uma mulher enxerga mais cores que o homem, quem está certo, a mulher ou o homem? Existem todas as cores que a mulher enxerga ou não? Uma pessoa deprimida, enxergando menos cores quentes, está correta ao afirmar que elas não existem porque a pessoa não as enxerga? Se sim, entre uma pessoa com sistema visual funcional e um cego, quem está correto, o cego que não enxerga e, portanto, conclui que não existam cores, ou a pessoa que enxerga as cores?

 

Facilmente concluímos que são as pessoas que enxergam que estão certas porque nós somos elas e, ademais, são a maioria. Daí que a opinião da maioria é tida como correta: se a maioria sente algo, então este algo provavelmente existe. No entanto, se a maioria sente ou acredita que a escravidão seja uma organização social correta, como e por quê contestar?

 

Na história da humanidade muitas crenças, que são a base da organização social de qualquer sociedade, já foram criadas, alteradas e extintas. O que no passado fora visto como certo pela maioria hoje não é. Sendo assim, qual a chance de no futuro as pessoas olharam para o passado, o nosso presente e nós, e verem absurdos em nossa sociedade atual? Muito provável. Quase certo, eu diria. E a questão que surge é: se o futuro será diferente e achará que muitas crenças atuais são erradas, então, não estamos certos. Mas achamos que estamos certos, ou seja, atualmente, com a mentalidade de hoje, temos opiniões que acreditamos estarem corretas, no entanto, podem não serem vistas dessa maneira posteriormente e, assim, não tem como haver uma crença certa absoluta, apenas relativa. A crença é relativa (dependente) daqueles que a cria e nutri, não de dados, análises ou fatos.

 

Nos pautamos em crenças sensitivas: sentimos que o céu fica em cima, que caímos quando soltos no ar, que nos machucamos quando temos um choque com algo rígido, que o sol aparece todos os dias, dentre outras. São crenças construídas em experiências repetitivas. Não há como ter garantia de que o sol nascerá ou que a gravidade existirá no próximo segundo, contudo, vivemos isso tantas vezes, sempre da mesma maneira que acreditamos serem crenças certas e absolutas, isto é, para sempre.

 

Dentro da nossa perspectiva de tempo, o “para sempre” significa o nosso tempo de vida, cerca de um século, 7 décadas, por aí. Então, a gravidade sempre existiu e sempre existirá: ela existiu desde que nascemos e continuará por toda a nossa vida.

 

Quando estudamos um determinado assunto de maneira mais completa, adentramos em suas profundezas e conhecemos as suas nuances. Neste momento, as definições começam a ficamos limitadas e começamos a nos perder. Sem sabermos mais o que é norte e o que é sul por estarmos entre ambos e em pontos similares, perdemos a capacidade de distinguir as diferenças e, assim, vimos dois pontos como iguais enquanto cada um está mais próximo de uma extremidade do que o outro. Este é o nosso limite de detecção e está mais explicado em 0 ou 1.

 

Além disso, os nossos sistema que identificam e analisam o meio ao redor de nós também pode ser alterados gerando resultados não coerentes como um cego que não enxerga cores. Podemos perder as nossas sensibilidades (sensações) por diversos motivos como remédios e uso de substâncias que afetem os nossos órgãos. Assim, podemos sentir algo que não existe ou não sentir o que existe e, portanto, o que nós identificamos como existente ou não é relativo: relativo ao funcionamento dos nossos sistemas.

 

Quanto mais intensa é uma sensação, mais certeza sentimos que de que ela é real, não apenas uma sensação e com isso concluímos que essa sensação seja um fato, um dado, uma realidade. em assuntos mais fáceis de serem percebidos e mais conhecidos, compreendemos essa noção rapidamente. Uma pessoa de pele clara e uma pessoa de pele escura sentem o calor do sol de formas diferentes. A mais clara sente que o sol queima muito e a pessoa com a pela mais escura sente que o sol queima menos. O mesmo sol, no mesmo lugar, sensações diferentes. Por percebemos a diferença entre ambas através da visão, notamos que a pessoa com a pele mais escura é mais resistente ao sol. Ademais, sabemos da existência da melanina na pele e o seu resultado de bloquear alguns raios solares, então percebemos que existe a diferença entre as pessoas, não uma diferença entre os sóis que elas sentem.

 

Quanto vamos para assuntos abstratos e desconhecidos, ignoramos essa realidade de sermos diferentes e, por isso, “concluímos” que somos iguais. Daí achamos que as crenças devem ser iguais a todos por todos serem iguais e, assim, acreditamos que as nossas ideias são as certas e que, portanto, devem ser aceitas por todos bem como disseminadas. SEM QUALQUER COMPROVAÇÃO.

 

Muitas pessoas acreditam em um deus onipresente, onisciente e onipotente. Por quê? Porque sentem que é realidade e, com isso, acham que todos devam acreditar neste deus e com isso criam brigas e guerras, matando, torturando e ferindo outras pessoas enquanto afirmam que tais prejuízos sejam para o bem das mesmas. Isso mesmo: a pessoa consegue fazer o mal afirmando que é o bem numa contradição que só suportam por não estudar a própria ideia, por não questionarem as premissas e por não buscarem provas que sustentem suas crenças/ideias.

 

Isso não acontece apenas com pessoas que se proclamam religiosas, acontece com (quase) todas as pessoas. Talvez exista alguma exceção, mas o comportamento padrão do ser humano é criar ideias que lhes gere sensação de bem-estar, acreditar nestas por sentirem ser corretas/verdadeiras (boas; sensação de bem-estar) e então tentar impor sobre os demais. Criamos a ideia de que mãe seja uma boa pessoa, ignorando suas falhas e mães que claramente ferem e matam seus filhos ou outras pessoas; criamos a ideia de que matar seja errado enquanto defendemos o morte por legítima defesa; criamos a ideia de que as pessoas sejam boas enquanto a própria espécie é responsável pela morte de inúmeros indivíduos da mesma; criamos a ideia de que uma etnia seja superior às demais e que deve ser servida pelas outras ou criamos ideia de que alguns grupos são ruins e devem ser extintos como negros, homossexuais, pedófilos, assassinos, islâmicos dentre tantos outros enquanto vários indivíduos desses grupos são pessoas produtivas e que colaboram com a sociedade; dentre outras tantas ideias.

 

Observe como uma ideia ou um conjunto de ideias criar lutas e mortes para pessoas que vivem em locais distantes e são desconhecidas. Um grupo acredita em uma ideia e acha que deve matar ou ferir pessoas que ele desconhece somente por conta de uma ideia que o próprio grupo não sabe explicar como foi criada ou seus fundamentos. Essa é a verdade que as pessoas “sabem”: suas sensações. Sendo as ideias a exposição de suas emoções, sentimentos e sensações em forma de palavras e abstrata, não possuem sustentação reais, coerência entre premissas ou conclusão lógica. Existe apenas a sensação da pessoa, que é a sua opinião, e que é percebida como fato/realidade e, sendo real, deve ser implementada a todos. Somos todos loucos? Sim, provavelmente.

 

Se cada um tem as suas sensações e suas opiniões que acreditam serem fatos, cada um tem a sua verdade sobre o mundo e, sendo verdade, não é relativa, mas absoluta e, sendo absoluta, os demais devem concordar porque não é uma opinião, mas um fato inegável. No entanto, não concordamos com 100% das ideias alheias, então encontramos um paradoxo: se todos sabem/sentem a verdade e todos discordam de todos, como podemos estar todos certos?

 

Muitas pessoas afirmam sobre a relatividade porque elas sentem o mundo com seus sensores e acreditam estarem corretas. Diante de grupos que afirmam que suas ideias não estão corretas, ou seja, que as suas sensações não estão de acordo com a realidade, se sentem mal, humilhadas, inferiorizadas e inseguras. Como acreditar e confiar em seus sentidos? Em seus sensores? Visando conquista a confiança em si mesmas, mantêm suas afirmações e, diante de uma discordância, afirmam que “cada um tem a sua verdade”, “que todos estão certos”, “que a verdade é relativa”. Observe que a “conclusão” de que a  verdade é relativa não é resultado de um raciocínio lógico tampouco possui algum dado para fundamentar o seu pensamento. A “conclusão” é somente a sensação de estarem certas diante de pessoas que acreditam que estão erradas. A maneira de preservar a sua ideia como válida e não entrar em conflito com os demais é afirmar que ambas (ou todas) as ideias estão corretas apesar de serem excludentes.

 

Como visto em A lógica emocional da divindade, o objetivo desta conclusão não é concluir nada, mas apaziguar a briga validando as crenças das pessoas para que todas elas se sintam confiantes sobre si mesmas e se sintam bem por não serem ignoradas ou desprezadas pelas demais, ou seja, afirmar que todos estão certos é uma maneira de manter os laços afetivos, evitar rixas ou brigas e manter a paz no grupo.

 

Quanto a pessoa tem o objetivo de estudar um assunto, ela não aceita ideias diferentes sem as devidas explicações (desenvolvimento do raciocínio) e, portanto, todos que não o possuem não são vistos como pessoas adequadas para debater/estudar o assuntos e, portanto, são desprezados para esta finalidade. O resultado é que tais pessoas sentem que suas “verdades”(opiniões) são ignoradas e não têm importância. Como o componente mental do ser humano é parte do próprio ser humano, não ter as suas ideias validadas ou levadas em consideração é sentido como se a pessoa inteira não tivesse validade ou importância, isto é, a pessoa se sente desprezada, humilhada e sem valor.

 

O objetivo da vida é o prazer. Prazer no corpo, na mente, no coração e em quaisquer partes que tenhamos. Queremos ser amados, validados, importantes e valorizados. Não queremos o desprezo, a humilhação, a ignorância, o desprazer. Portanto, evitamos quem nos gera tais sensações como quaisquer outras que nos incomodem e, assim, não queremos pessoas que não validem nossas ideias, que as ignore ou as questione. Queremos pessoas que acreditem em nós para nos sentirmos bem, nos sentirmos importantes e querido. Dessa forma, evitamos pessoas que queiram estudar assuntos de maneira mais profunda ou que peçam pela explicação de nosso raciocínio quando não o temos. Em outras palavras, evitamos tanto quanto podemos as pessoas que gostam de debates quando nós só queremos sermos validados e aceitos sem questionamento.

 

Tendo a maioria das pessoas este comportamento e este objetivo, pode-se dizer que, de forma geral, o ser humano busca o apaziguamento das rixas e, para isso, aceita as contradições que existem ao ignorá-las num comportamento nada lógico. Por isso que pessoas que gostam de debater e esmiuçar um assunto visando o esclarecimento são comumente tidas como chatas ou estraga-prazeres.

 

Esta opinião sobre pessoas que buscam o conhecimento é tão comum que cientistas são comumente perseguidos e punidos por confrontarem as contradições e “criarem” as brigas por questionar, por não acatar, por duvidar ou mesmo por provar que as ideias comumente aceitas não são reais ou verdadeiras.

 

O ser humano cria muitas regras sem entender os motivos para tal. Então, visando impor as regras e não ter qualquer questionamento, faz afirmações que são inquestionáveis para tornas as regras “válidas”. Dizer que deus criou tais regras, que são direitos naturais, que são deveres básicos dentre outras são maneiras de afirmar que “estas regras estão certas, devem ser seguidas e não podem ser questionadas”.

 

Para cada regra criada sem a sua devida explicação lógica, pessoas as questionarão e, somente por isso, haverão brigas. Brigas entre as pessoas que não concordam (não entendem o motivo da regra) e as pessoas que querem que estas as obedeçam.

 

O surgimento da ciência na região europeia séculos atrás mostrou esse confronto. Com crenças religiosas ditando as regras sociais, pessoas questionavam de onde vinham tais regras, porque deveriam segui-las e se elas eram certas ou não. Cientistas que ousavam questionar e buscar explicações eram a afronta que a religião recebia por tentar manter a sua tirania que explicar o motivo desta existir.

 

Atualmente este cenário também existe, contudo, parece ser um pouco mais brando dependendo do assunto tratado. Quando os cientistas buscam o que os líderes desejam, são vistos como heróis, no entanto, quando os líderes querem implementar regras e os cientistas querem testar se tais regras são válidas/verdadeiras, os líderes tentam calar os cientistas como podem mostrando exatamente o mesmo comportamento de séculos atrás que achávamos ser primitivo e antigo. Pois é, ainda somos os mesmos.

 

A pandemia da covid mostrou o retrato desse comportamento. Com líderes políticos criando novas regras e cientistas buscando explicações para estas bem como as estudando para verificar se eram adequadas/produtivas, os líderes, desejando manter seu poder e sua tirania, fizeram o que podiam para calar esse grupo de cientistas que não acatavam às suas ideias. Enquanto líderes tentavam controlar as pessoas com a desculpa de que seria para o bem delas, os cientistas provavam que tais medidas não teriam o resultado que afirmavam que teria, ou seja, os líderes faziam afirmações de que tais medidas seriam boas enquanto não havia nenhuma prova ou indício de que tais medidas teriam tal resultado.

 

Mai suma vez caímos na básico do pensamento humano:

– sinto algo

– este algo é real

– se é real todos devem acatar.

 

Apenas opiniões ditas com firmeza e sem provas. Mais uma vez cientistas lutaram para averiguar o que era verdade e o que não era, perceberam que muitas afirmações não eram verdade e, ao desmascarar os líderes que fizeram tais afirmações expuseram a falta de embasamento do pensamento destes fazendo-os perderem a credibilidade política, isto é, suas “verdades” (opiniões) foram desacreditadas, ignoradas, desprezadas e os líderes se sentiram com menos poder, menos importância, menos confiança = mal-estar. E como o ser humano busca o bem-estar sempre, tentar eliminar a “origem” do mal-estar é a maneira corriqueira que o ser humano tem de buscar bem-estar/prazer. Então, eliminar todos que invalidam as suas opiniões, todos que atestam que suas opiniões não são verdadeiras/válidas, todos que mostram que suas opiniões não são reais é o modo padrão de comportamento. Assim, cientistas foram xingados, desprezados, desacreditados, perseguidos, torturados e mortos. Exatamente como séculos e milênios atrás. Nada mudou.

 

Somos seres humanos, seremos emocionais, seres reativos, seres passionais e eliminamos tudo que nos incomoda porque o objetivo é o prazer.

 

Veja mais em O que é a verdade?, A verdade não importa e A verdade é absoluta.

 

Para uma explicação mais completa veja Hipocrisia: certa ou errada? Boa ou ruim? Por quê?

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