Igualdade
Em vários momentos alegamos igualdade, seja no desejo de nos igualarmos àqueles que possuem os privilégios ou características que desejamos, seja para nos sentirmos mais próximos de outras pessoas.
Apesar de tentarmos nos igualarmos, nós sabemos que não somos iguais a mais ninguém, apenas possuímos alguns traços semelhantes com outras pessoas ou até objetos. A língua de um país, por exemplo, é uma similaridade entre as pessoas que a usam, contudo não as faz iguais. Sermos humanos nos iguala na característica da espécie e, portanto, possuímos semelhanças. Apesar disso, não somos iguais pois, afinal, há características diferentes dentro da espécie. Possuímos água em nossos corpos, o que nos assemelha a tudo que também possui, mas não nos faz igual. O ar possui hidrogênio, e a água também, contudo também são diferentes.
O ser humano, assim como outros animais, seres vivos e até os não vivos possui semelhanças, mas não é igual. Na tentativa de nos compararmos para os fins que desejamos nós fazemos um grande grupo, generalizando tudo. Assim, as diferenças são postas de lado e, então, as igualdades ganham evidência e, posteriormente, a conclusão.
Homens e mulheres são diferentes e todos sabemos disso. Se fosse iguais, não haveriam homens ou mulheres, mas apenas uma única nomenclatura. Além disso, todos teriam as mesmas semelhanças, ou seja, as características que fazem uma pessoa ser considerada homem ou mulher. Todos teriam características sexuais primárias (gônadas/glândulas reprodutivas) iguais e a procriação seria assexual. Claramente isso não é um fato, uma vez que não existe procriação sem mistura de gametas masculino e feminino e a espécie aprecia o ato sexual, essencial para a perpetuação da mesma.
Essa análise é baseada na espécie, não em exceções, anomalias, doenças ou manipulações através de tecnologias.
Embora saibamos que haja diferenças e que as usamos em nossas premeditações, crenças e planejamentos cotidianos, nós ainda usamos este falso argumento de sermos iguais como base para outras ideias e alteração de comportamento.
A adoção de uniformes para ambos os sexos desqualifica o sexo da pessoa. Ela é vista como uma pessoa, um indivíduo, mas sem distinção sexual. Muitos uniformes são diferenciados entre homens e mulheres. Homens costumam usar calças e mulheres saias, já identificando a diferença sexual entre tais pessoas.
A linguagem também remete ao sexo das pessoas, uma vez que usa-se masculino ou feminino para tal. Não apenas isso, a linguagem também expressa se alguém é grande ou pequeno, dependendo do sufixo empregado. Em “tem um buracão no chão” o sufixo mostra que o buraco é grande.
O objetivo da linguagem é a comunicação, a qual visa passar uma mensagem e, para que o outro a entenda é necessário conhecê-la, contudo, isso não é suficiente. É preciso caracterizar bem o objeto a qual nos referirmos para que o outro consiga identificá-lo.
Quando falamos de alguém tentamos falar características dessa pessoa que as torne única a ponto de que quem nos ouça consiga identificá-la. Assim, falamos se é homem ou mulher, criança, adolescente, adulto ou idoso, as roupas que usa, faculdade ou escola que estuda ou local de trabalho, cor dos cabelos, da pele, dos olhos, alguma deficiência… O importante é o receptor saber de quem está se falando e, para tal, ressaltamos as suas características mais marcantes a ponto de identificá-lo de maneira mais rápida possível. Não se trata de preconceito, mas de identificação do objeto do qual se fala, ou da pessoa, ao retratar as suas características.
Este exemplo deixa claro que somos diferentes e que sabemos disso, pelo menos inconscientemente, uma vez que nós usamos dessa estratégia de identificação do indivíduo, bem como a própria linguagem serve para tal objetivo.
REFLEXÃO
Nas tentativas de igualar a todos por desejo que temos a tal ideia, acabamos por ocultar, negligenciar e até mesmo reprimir características individuais. Fazemos isso através de padronização de comportamento, linguagem, sexo, gêneros, pronomes e tal. A questão que surge é: este método de implementação de algo diferente do que somos para que todos sejamos iguais, mudando a natureza do ser humano, não é uma maneira de retirar a individualidade das pessoas?
Este é o primeiro passo que o ser humano faz/fez para criar escravos: tratar as pessoas todas iguais e, se um não tem algo, é fácil decidir tirar do outro para que este se iguale. Ademais, tratá-las como iguais as aproxima de serem tratadas como animais, seres que servem para produção e saciedade de seus donos. Qual é a diferença entre animais úteis e coisas/objetos úteis que são descartados quando o dono não deseja mais? Um pensamento leva a um comportamento e este leva a um novo pensamento e, assim, as pessoas se tornam escravas, animais, coisas e, por fim, nada.
Escravos eram coisas, não pessoas. Suas mortes não tinham significado além de deixar de produzir para os seus donos como uma máquina que para de funcionar e descartamos no lixo. Os nazistas também usaram desta tática para igualar e depois inferiorizar os inimigos. Quando estes não lhe saciavam eram eliminados quando possível. Os comunistas no poder também usam ou usaram desta tática para tratar as pessoas como descartáveis e servas, reduzindo o seu valor individual?
Igualar as pessoas é uma maneira de animalizá-las e tratá-las iguais, reduzindo as características individuais, as quais nos dão a sensação de sermos importantes, únicos, queridos, especiais, úteis, amados e outras sensações importantes para o ser humano, uma vez que eleva o nosso valor, aumentando a nossa autoestima e, assim, satisfação, saciedade, confiança e felicidade. Tratar as pessoas como iguais também negligencia cuidados únicos e importantes para indivíduo, afetando-o e, como ele faz parte de um todo, a sociedade, afetar grande parte dos indivíduos é afetar toda a sociedade.
Por sermos semelhantes em muitos aspectos, nos vemos como “iguais”. Quando vemos alguém que possui algo que desejamos, usamos desse argumento de “sermos iguais” para conseguir o benefício. O pensamento que acontece nos bastidores do pensamento é: “se somos iguais, devemos ter os mesmos direitos. Se o outro possui o item A, eu também tenho o direito de tê-lo”. Assim, a base para alimentarmos a ideia de sermos iguais é conquistar o que se deseja.
O ser humano vive em estruturas sociais. Hora nos vemos/sentimos como indivíduos, hora como coletivo/sociedade e, por isso, hora desejamos direitos próprios e personalizados, hora desejamos direitos iguais. Quando sentimos que podemos conseguir um resultado melhor quando atuamos sozinhos, assim o fazemos, caso contrário, nos juntamos ao(s) grupo(s) que desejam o mesmo que nós. Assim, nós pendemos hora para um lado, hora para outro.
Que pessoa deseja a igualdade realmente? Uma pessoa que possui câncer vai desejar tratamento igual a uma pessoa que possui uma gripe? Neste momento cada uma vai deseja um tratamento diferenciado, voltado para os seus desejos. Embora o desejo de ambas seja o mesmo, de cura, a cura de cada uma é resultado de métodos e tratamentos diferentes, já que as doenças são diferentes. Já uma pessoa que deseja entrar na política e não consegue alega desejar ter o mesmo direito de ingressar nesta área que aquelas que já estão “possuem”.
O fato é que somos a mistura. O importante é a manutenção do equilíbrio: sem perder a nossa individualidade/identidade e nos vermos imerso nesse bolo de gente que se chama sociedade.