Na incapacidade de alcançar o que desejamos,
Não suportando a realidade de não ter o que queremos,
Sem conseguir abrir mão de não ter o que desejamos,
Nós esperamos.
Passamos em acreditar em milagres porque é a maneira que conseguimos imaginar conseguir o que queremos. Visto que nós mesmos não conseguimos conquistar o que desejamos, resta-nos acreditar que de alguma forma o nosso objetivo, o nosso desejo, será realizado. Seja por pessoas boas que nos darão, seja por uma entidade divina que nos dará, seja por um acontecimento que desconhecemos e que gerará o resultado que desejamos, seja por um milagre.
Manter a esperança é indispensável ao ser humano porque, sem ela, não temos motivação para fazer nada e, sem fazer nada, resta apenas a morte. É como se o ser humano tivesse isso grafado em sua alma ou em seu corpo e criar qualquer esperança é muito mais produtivo, ainda que imerso à loucura do que não ter esperança alguma. Veja mais em Delírios saudáveis e Delírios saudáveis II.
A imaginação é o resultado dos nossos sentimentos e das nossas emoções em forma visual ou mesmo abstrata. Imaginamos o que tememos, o que queremos, o que sufocamos dentro de nós, mas sempre retrata parte de nós e imaginar o que desejamos é uma forma de manter a ideia de que seremos felizes de alguma forma, ainda que não façamos nada para concretizá-la porque mais vale nutrir crença de que o nosso desejo pode e será realizado do que aceitar a realidade que nos deprime.
Diante da sensação de impotência, nos sentimos acuados, fracos e passivos e, quando passivos, não reagimos, não nos planejamos, não executamos, não vivemos. nós nos transformamos em pseudo-objetos: ainda temos emoções e sentimentos, mas ficamos inertes, aguardando, esperando e, junto do instinto humano de termos esperança, criamos uma forma de que o que desejamos seja realizado juntamente com o nosso estado estático. Assim, certos de que não conseguiremos o que queremos, esperamos e, sem sabermos o que fazer ou sem acreditar que possamos fazer alguma coisa, esperamos que o que desejamos chegará a nós de alguma forma, ainda que desconheçamos.
É um pensamento louco por não haver lógica uma vez que esperar não é um bom plano para conseguirmos o que desejamos enquanto que planejar e executar é. Escolhermos o mais improvável do que o mais provável por não termos confiança em nós de que possamos satisfazer as nossas vontades e por ser o mais fácil. Sem nos esforçarmos, aguardamos e, enquanto não recebemos o que desejamos, nós brigamos, reclamamos, exigimos dos outros e os responsabilizamos como se fossem os responsáveis por nos satisfazer somente porque criamos a ideia de que alguém deva nos dar o que queremos.
Diante da incapacidade de conseguirmos o que queremos, buscamos por pessoas que nos deem o que buscamos e usamos de várias táticas para afirmar que o outro tenha o dever de fazê-lo. Tudo isso somente porque nós queremos, não temos e não aceitamos a nossa insatisfação.
Veja mais sobre a construção desse pensamento em A confusão de um pensamento e Por que confundimos desejos com realidade?
Não importa o quão independentes somos, sempre dependemos dos outros, sempre há algo que queremos e não temos e costuma haver algo que desejamos e não conseguimos ter por nós mesmos. Todos nós, em algum nível, exigimos que os outros nos satisfaçam, nos obedeçam e nos alegrem, seja em casamentos, amizades, relacionamentos profissionais, íntimos ou familiar porque é assim que o ser humano é.
As pessoas mais capazes são mais independentes e exigem menos. As mais inabilidosas de realizarem a si mesmas são as mais dependentes, que mais exigem dos outros, que afirmam que seus desejos sejam direitos e que os demais tenham o dever de agir conforme elas querem porque é a maneira que conseguem imaginar serem capazes de serem felizes: com outras pessoas as satisfazendo.
Mesmo sendo um pensamento louco imaginar algo improvável ou mesmo impossível é um pensamento benéfico à espécie por gerar esperança e, através dessa, fazer a pessoa persistir e se manter viva. Em outras palavras, é um meio que aumenta a expectativa de vida do indivíduo e, portanto, da espécie. Mais vale uma loucura viva do que uma realidade morta.
Ainda assim, cabe a cada um de nós exercitar o cérebro que temos e buscar formas de conseguirmos conquistar o que desejamos. O meio mais eficiente é através da aprendizagem porque, uma vez que saibamos como nos satisfazer, podemos ter a satisfação sempre e, assim, somo felizes.
Então, mesmo sendo difícil valorizar mais a realidade do que a imaginação, se esforce e tente.
Não espere milagres. Espere realidade.
Não seja negativo nem positivo. Seja realista.
Não negue possibilidades somente por serem ruins e não tome como verdade acontecimentos improváveis.
Pense, não sonhe.
Viva no mundo daqui, não na imaginação do desejo, mas nunca esqueça que é na imaginação que ocorre a criação de ideias e de planos. Portanto, use a imaginação com equilíbrio e sabedoria.
Isso é fácil? Claro que não. Mas manter o padrão de pensamento em acreditar que milagres acontecerão é evitar melhorias ou situações agradáveis através de si mesmo. É simplesmente esperar por milagres e viver miserável em vez de criar uma vida melhor e encontrar a felicidade em si mesmo.