A memória é feita pelo órgão chamado encéfalo. Dentro do encéfalo há várias partes sendo uma delas o cérebro.
Assim como um computador que tem um espaço limitado, o cérebro também tem um espaço de armazenamento limitado. Ao nascermos, ele está zerado e vazio, razão pela qual é tão fácil absorvermos informações. Conforme crescemos, acumulamos informações em forma de memória e, aos poucos, o espaço de armazenamento é reduzido. Assim, absorver novas informações passa a ser mais difícil e trabalhoso.
Além disso, o ser humano possui a característica de se apegar ao que se tem, incluindo informações. Sendo verdadeiras ou falsas, nós acreditamos nas informações que absorvemos, portanto, alterá-la visando atualizá-las é algo difícil. Nós não apenas não temos espaço como a informação que temos nos é valiosa, então não queremos abrir mão dela. Assim, mantemos as nossas ideias tais como foram desenvolvidas ou absorvidas em vez de atualizá-las.
O jovem, com um cérebro novo e vazio, consegue absorver as novas informações tal como nós quando tínhamos a mesma idade. Nós não tínhamos paciência para com os mais velhos e os jovens não têm paciência com a gente pelo mesmo motivo. Tendo um cérebro que compreende com facilidade, sente que o aprendizado é fácil e rápido e que todos devem ser da mesma maneira, talvez com pequenas mudanças pessoais. Então não compreendem como os mais velhos não conseguem acompanhar o seu raciocínio.
A percepção humana é “se eu tenho e sou iguais aos demais, os demais são como eu” e, logo, “se eu tenho um cérebro e compreendo rápido, os outros também têm um cérebro, eles devem compreender rápido também.” Como o mais velho não consegue compreender? Por que precisa repetir tantas vezes? Por que mesmo com tantas explicações claras ele não conseguem entender o que está em sua frente?
O mais velho tem um cérebro que guarda informações de outros tempos. Informações que não são mais úteis, mas que ocupam espaço; informações ligadas a outras memórias que reforçamos todas as vezes que as acessamos (lembramos); informações que os jovens não entendem e não conseguem imaginar.
Temos acúmulo de informações em forma de memória, porém estas memórias também estão ligadas a outras memórias e funções e mudar uma informação é mudar nesta rede inteira de informações.
Essa rede de informações são as nossas crenças, construídas através de experiências e absorção de informações. Acreditamos que cairemos se pularmos, que nossos pais cuidarão de nós, que as pessoas são boas, que o mundo progride e que a maneira de se comunicar com os outros seja através de encontros pessoais ao mesmo tempo. esse conjunto de crenças nos leva a acreditar que podemos contar com os outros, que podemos nos encontrar pessoalmente ou por algum acesso virtual que aconteça no mesmo tempo para as pessoas envolvidas, que devemos ter cuidado para não cairmos e que o mundo está melhor que antes. Então, se surge uma informação que afirma e prova que podemos nos comunicar com pessoas em períodos de tempos diferentes (passado ou futuro), nós não conseguimos absorver tal informação bem como não conseguimos nos planejar nesta informação. Logo, continuaremos a viver como estamos habituados nos enquadrando em pessoas velhas que permanecem a viver como se vivia no passado.
Atualizar a informação de que podemos falar com outras pessoas em tempos diferentes muda toda a perspectiva de vida, a forma de compreender e lidar com a vida e tudo isso já está bem fixo e sólido em nossa forma de pensar. Mudar a forma de pensar é muito difícil porque nos apegamos às ideias que temos, porque criamos hábitos que mantém o padrão de funcionamento, porque refazer um pensamento é muito mais difícil do que apenas absorver algum pensamento de outra pessoa. A memória é como um papel carbono muito usado para reter novas informações: até funciona, mas parcialmente. Apresenta falhas nas regiões usadas do papel (nas partes pouco usadas da memória) resultando em memórias alteradas.
É por isso que as crendices populares são tão arraigadas e as pessoas conseguem acreditar em ideias sem pé nem cabeça ou até mesmo em ideias que são prejudiciais acreditando que são benéficas. Ideia de que deixar os chinelos de cabeça para baixo mata a mãe não tem fundamento e sequer alguma origem além da criatividade de alguém que possivelmente tinha transtorno obsessivo compulsivo e usou desta ideia para induzir outras pessoas a não deixarem os chinelos virados para baixo. Ainda assim, passar os primeiros 20 ouvindo isso é uma forma de absorver tal informação, ainda que mentirosa, e agir de modo a aplicá-la na vida. Assim, a pessoa tem medo de deixar o chinelo de cabeça para baixo porque não quer que a sua mãe morra. Sem fundamento. Sem prova. Apenas uma narrativa repetida diversas vezes na época em que o cérebro era mais absortivo que faz com que a pessoa a use com convicção de que seja real.
Aparentemente pode ser algo que não prejudica ninguém. Quem vai ter algum problema se insistir em manter o chinelo virado para cima? Provavelmente ninguém. Mas se mantemos este comportamento pelas próximas décadas em nossas vidas, o que uma narrativa mentirosa tem capacidade de fazer quando pregada insistentemente em uma sociedade como um todo? Da mesma maneira, mesmo não tendo provas, evidências ou mesmo suposições que de seja verdadeira, a população manterá a crença de que ela é verdade e comportar-se-á de como se fosse verdadeira e, assim, entramos na cilada da repetição de mentiras como se fossem verdades numa manipulação social que a população não conseguirá se livrar. Será necessário mais jovens que pensem a respeito para desfazer tal narrativa, começar a divulgar narrativas novas para, então, gerações depois, o antigo comportamento baseado numa narrativa seja alterado e possivelmente atualizado.
Muitas pessoas podem desejar culpar alguém para se eximir de sua responsabilidade de acreditar em algo sem sentido, no entanto, somos todos responsáveis por questionar ou não as informações que temos acesso e selecionar quais devem ser verdade e quais devem ser mentiras baseadas em estudos, observações e análises. Quantas mães morreram porque o chinelo estava de cabeça para baixo? Faz sentido acreditar nesta ideia? Quantas pessoas passaram a ser ricas ao acreditar que o estado deve e pode prover a felicidade do povo? Quantos exemplos disso se têm no mundo? Quantas pessoas acreditam que a felicidade é uma questão de merecimento e que, para recebê-la, devem seguir alguns preceitos, regras e crenças? Quantas pessoas vivem infelizes por acreditarem que a felicidade chegará após a morte se continuarem com suas vidas infelizes? Quantas pessoas acreditam que deus proverá suas necessidades? Se elas realmente acreditam, não se planejam e apenas esperam que deus as provenha, mas elas realmente agem assim? Elas acreditam nesta ideia?
O ser humano tem a proeza de conseguir segmentar o raciocínio a ponto de acreditar emocionalmente em uma coisa e intelectualmente no oposto. Assim, ele consegue afirmar (intelecto) que deus cuida de tudo e, portanto, não há motivo de se preocupar, ao mesmo tempo que sente medo em atravessar o trânsito quando os carros passam (emocional). Da mesma maneira consegue afirmar que as pessoas são boas enquanto desconfia de estranhos; acredita que o estado provê ao povo enquanto este luta para se sustentar; acredita que os pais amam seus filhos enquanto brigam corriqueiramente com os familiares; acredita que as crendices dos velhos são engraçadas por não terem fundamento enquanto não abrem mão das suas e até as defendem sem argumento algum .
Uma coisa é o que pensamos, outra é o que sentimos. Só que não.
Os pensamentos são pequenos flashes de ideias que representam alguns cacos de sentimentos. Sem sabermos pensar de maneira coerente, nós misturamos a inteligência com a emoção criando pensamentos/ideias que não têm coerência, mas que defendemos com unhas e dentes porque sentimos que são verdadeiros enquanto os outros ouvem o que falamos. Veja mais em “A confusão de um pensamento” e “Razão X Emoção”.
Além desses fatores e consequências, não temos como deletar uma informação e colocar outra porque não temos este controle sobre nossas memórias. Nós somos reféns das memórias que temos, sejam reais, distorcidas ou criadas.
Então dizer o que temos de fazer não tem significado algum já que não existe a possibilidade de executar a ação. Como podemos controlar a memória? Temos meios de manipular a memória, ainda assim, é parcial e o controle sobre as partes que podemos mudar também não é total.
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