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Pensamentos imediatista X planejador

Quanto mais agimos de maneira impensada, sem planejamento para o futuro e visando a solução de um problema imediato, mais criamos conflitos para o futuro porque a remediação de um problema gera efeitos colaterais tal como um remédio. Sem planejamento, agimos de maneira improdutiva para o futuro por nossas decisões apresentarem efeitos produtivos imediatos e efeitos danos em momentos posteriores.

Em momentos de crise, onde a sobrevivência está ameaçada como uma situação de refém ou estar perdido em algum lugar sem que haja outras pessoas, tomamos decisões que nos deem benefício no momento, alongando a nossa existência por mais alguns minutos ou horas. Comemos para satisfazer a fome e nos garantir mais um pouco de tempo de vida, porém se comermos regularmente este alimento podemos desenvolver doenças num futuro mais distante. Bebemos água que não temos garantia de que esteja própria para o consumo porque eliminar a sede imediata é mais importante do que as possíveis consequências horas depois. Também nos colocamos em risco, tentando atravessar rios ou pular de uma pedra para a outra para conseguir chegar a um alimento, atitude que pode custar a própria vida. Quando não estamos sobre estresse conseguimos pensar com mais facilidade e as pessoas que conseguem administrar o estresse de maneira mais elaborada, sem se colocar em situações de risco imediato e posterior, são as que conseguem ter mais produção e satisfação na vida.

O pânico, uma reação que acontece por intenso medo, induz a pessoa a não usar do pensamento planejador e estratégico restando a reação instintiva que, muitas das vezes, gera o resultado oposto e, com isso, levando a pessoa à morte. A calma e o pensamento analítico são deveras importantes para a sobrevivência do indivíduo por fazê-lo agir de maneira a gerar mais satisfação possível e, com isso, alonga a sua sobrevivência não apenas no momento, mas posteriormente por criar mais qualidade de vida.

Este ciclo do ser humano, onde quanto mais imediatista é uma pessoa menor é a qualidade de vida ou a expectativa desta e o inverso também é verdadeiro na maioria dos casos, pode ser observado não apenas em situações que comumente são consideradas extremas. As pessoas mais ricas e as mais pobres mostram esta característica de forma clara.

As pessoas mais ricas são resultado das próprias produções, não apenas a quantidade que produzem, mas produzem ao longo da vida. Elas se planejam. Planejam estudar para aprender, planejam ter mais diplomas e títulos porque são formas de conseguirem uma remuneração mais alta. Elas planejam ter filhos ou casar mais tardiamente porque sabem que relacionamentos exigem atenção, tempo e investimento, reduzindo as suas capacidades de investir em carreiras ou algum empreendimento. Nem todas são assim. Algumas nasceram de famílias que agiram assim e, portanto, conquistaram tais benefícios no passado. Estas, sem planejar e investir para garantir um futuro mais satisfatório, usam das fortunas que lhes chegam e, inevitavelmente, não terão mais tais benefícios. Afinal, não é possível ter o que não foi criado.

As pessoas mais pobres costumam ser imediatistas. Agem de maneira a resolver o problema no momento sem cogitar os possíveis resultados para o futuro. Assim, criam futuros conturbados que, quando chegam, são mais problemas. Escolher não estudar para trabalhar e conseguir imediatamente dinheiro, não planejar relacionamentos ou filhos, não prever os eventos prováveis de se acontecer para se preparar e lidar de maneira mais tranquila e produtivas são exemplos comuns. Claro que, assim como as pessoas ricas, nem todas são assim.

Ascender socialmente (ou financeiramente?) não é raro. A pessoa de origem pobre pode investir em estudos e qualificações para, depois, exigir uma remuneração maior. Ela pode planejar ter filhos quando a vida estiver mais estável e adequada. Ela pode decidir investir em relacionamentos após conquistar um patamar que se sinta confortável. Pessoas assim são comuns, é como o pobre deixa de ser pobre e passa a ser rico, em algumas gerações.

O meio influencia o indivíduo, afinal ele está se relacionando com os itens que estão ao seu redor. Porém, o indivíduo também influencia o meio por ter capacidade de alterá-lo. Não somos um resultado do externo somente, somos a mistura entre nós e o meio em que estamos.

Em locais mais pobres há menos planejamento, como visto. É observável esta falta de planejamento nas construções feitas sem análise, nas ruas e calçadas pavimentadas e não pavimentas, a alternância entre ambas com calçadas diferentes a cada casa e asfalto com buracos tampados sem que a rua seja refeita. Tudo isso é resultado de “gambiarras” ou maneiras de se resolver o problema de forma imediata. O resultado é que as ruas são funcionais, isto é, é possível usá-las para se locomover, porém a segurança é baixa e qualidade afeta os indivíduos que transitam por elas seja no âmbito emocional, ao incomodar a pessoa, seja no âmbito físico, ao afetar a coluna após anos de trânsito em tais ruas várias vezes ao dia. No momento em que a pessoa deseja apenas se locomover, a rua é útil. No entanto, sem pensar sobre as consequências de uma rua assim após décadas, ninguém conclui que ter uma rua melhor seja importante e, então, se esforçar e investir para tal resultado parece uma tolice.

Muitas pessoas se alimentam com um lanche na hora do almoço por ser mais conveniente. É rápido e acaba com a fome que incomoda. Então voltam ao trabalho. Décadas sem alimentação adequada gera prejuízo. Desnutrição associada à obesidade é um quadro que poucas pessoas conseguem entender, mas é comum. Ambos desencadeiam outras doenças afetando a saúde e, portanto, a longevidade e qualidade de vida. Pessoas que pensam em apenas satisfazer a fome no momento em que a sentem são pessoas que não preveem as consequências dessa escolha e, então, não se planejam para o futuro. A culpa pode não ser dela de acordo com a definição que as pessoas têm de “culpa”, no entanto a pessoa é responsável por suas escolhas, sejam elas conscientes e planejadas ou não. Como culpar outrem por escolhermos nos alimentar com lanches e doces durante a vida?

É interessante observar que as perspectivas das pessoas estão alinhadas ao próprio meio de viver, embora não seja uma regra aplicada a todos. Pessoas que crescem vendo o seu entorno se comportar de uma maneira têm a tendência de repeti-las porque o ser humano aprende predominantemente por observação e repetição. Então, uma família que vive de maneira imediatista terá filhos que possuem mais tendência de viver dessa forma, exceto se estes desejarem muito terem uma vida diferente e, então, esforçar-se-ão para conseguirem tal resultado. Este é o exemplo citado de ascensão social.

Tem-se que, pessoas imediatistas agem de forma a gerar mais prejuízo a longo prazo, encurtando suas vidas, e famílias imediatistas tendem a gerar descendentes também imediatistas, fazendo gerações de pessoas com tal comportamento ou “cultura”. Pessoas que possuem baixa expectativa de vida não se planejam para além desta. Por quê planejar ter filho aos 38 se a expectativa de vida é de 40 anos? Não faz sentido. Por quê investir em graduações, pós-graduações e começar a trabalhar e fazer dinheiro aos 25 anos se todos ao redor já possuem empregos e famílias nesta idade? Por quê planejar construir uma moradia adequada e segura se há outros problemas que necessitam de mais atenção e solução imediatamente? Tudo que pode ficar para o futuro inimaginável fica. O que precisa ser solucionado possui prioridade e, assim, a vida passa, sendo problemas atrás de problemas e um estresse constante.

Quanto maior é a expectativa de vida, mais planos pode-se fazer. Tem-se tempo para estudar, viajar, se relacionar, casar, ter filhos, criá-los, se aposentar e ainda continuar vivo. Porém, para quem não tem este privilégio por conta da genética, da periculosidade de onde vive (lembrando que existe a opção de buscar viver num lugar melhor) ou pela incapacidade de planejar a própria vida, não é possível ter o “luxo” do tempo. Assim, a vida precisa ser mais rápida e o resultado são pessoas que não gastam tempo em estudo. Elas precisam fazer dinheiro rápido seja para complementar a renda da família de origem, para pagar as necessidades de suas própria famílias ou para se sentir independentes e adultas já que a fase adulta para elas é mais cedo do que para as pessoas que possuem mais expectativa de vida.

A cultura influencia muito o ser humano sendo parte do ambiente onde ele está inserido. Pode não ser claro, óbvio ou visível, mas nós a sentimos. Locais onde todos falam baixo e usam determinado tipo de roupa tendem a se manterem assim. As próprias pessoas replicam o que vêm e sentem, fazendo a manutenção de tal cultura. Em locais onde as pessoas não estudam e tem filhos “cedo” (cedo depende da definição e cada um) estimula as próprias pessoas a agirem assim. Locais mais ricos e mais pobres retratam esta diferença: os mais ricos, por terem mais planejamento, gerenciamento de riscos de suas ações e previsão dos resultados possuem maior expectativa de vida e qualidade dessa. Eles não precisam correr para viver, ao contrário: eles freiam o que podem. Os estudos duram mais tempo, a formação de uma família surge depois de estabilização financeira e filhos aparecem quando desejam. Não há pressa em ter uma família ou trabalhar. Já as pessoas imediatistas buscam satisfação no momento e não pensam nos resultados futuros. Elas criam as próprias complicações e vivem tentando resolver os problemas que criaram. O estresse crônico (permanente) junto da falta de cuidado da saúde faz a expectativa de vida ser mais baixa, então, como postergar feitos se não há tempo para tal? Como planejar ter filho aos 40 se é observado que com esta idade as pessoas ao redor já são consideradas idosas? Por que continuar sendo criança, estudando, com mais de 20 anos se todos ao redor já são adultos com suas responsabilidades familiares? Por que evitar ter filho se os amigos, colegas e vizinhos já os tem e o assunto é precisamente este?

O ser humano busca sempre se entrosar em algum grupo. Seja família, colegas de escola ou trabalho ou vizinhos, o ser humano busca ser parecido com os demais para se sentir parte do grupo porque o ser humano é sociável e dependente do grupo. Por isso que não agir como as pessoas ao redor é tão difícil. Então, se os conhecidos, amigos e parentes têm filhos aos 16 anos de idade, por que evitar sê-lo também? Então não é somente a falta de planejamento, mas a cultura que influencia, o indivíduo (a sua capacidade de planejar) e o meio (a cultura absorvida), em outras palavras, o consciente e o inconsciente.

Outro exemplo que mostra esta característica de que quem possui mais tempo faz as coisas mais devagar é a dança e a forma de flertar. Pessoas com expectativa de vida mais alta busca encontros, jantares, atividades, conversas e danças menos sensuais ou provocantes. Elas podem namorar por anos antes de decidirem fazer uma família. Já que possui menor expectativa de vida deseja aproveitar o pouco tempo que possui. O encontro pode ser uma frase ou mesmo um beijo sem saber o nome do outro e a dança tende a ser mais sexualizada e provocante. Parece que eles não têm o que perder ou que estão curtindo o pouco tempo de vida que possuem. Enquanto o primeiro passa mais tempo em cada fase, demorando inclusive para se tornar adulto (no comportamento e emocionalmente), o segundo não possui esta dádiva, então, o que quiser fazer na vida deve-se fazer logo.

Apesar destas diferenças ambos são da mesma espécie e, portanto, não é possível de ser alterado. A criação ou educação dos filhos continua levando o mesmo tempo para ambos, então o primeiro possui duas décadas para educar o seu filho, sendo 25% de sua vida (tendo a expectativa de vida de 80 anos, enquanto que o segundo gasta as mesmas duas décadas para criar ou educar o seu filho, representando 30% de suas vidas se a expectativa de vida for de 65 anos. Porém os números não são tudo. Uma pessoa planejada que cria um bom futuro para si chaga não apenas aos 80 anos, mas a qualidade de vida é maior do que daquelas que não se planejam. Estas podem chegar aos 65 anos de idade, porém aparentarão ter muito mais podendo, até mesmo, parecer mais velhas do que as primeiras. Isso significa que a potência de vida (capacidade produtiva) destes dois grupos de pessoas é diferente e esta característica afeta a vida da própria pessoa e de seus próximos.

A pessoa imediatista tem maior propensão a doenças por não cuidarem de si e, quando adoentadas ou velhas, necessitam de outras, as quais ficam sobrecarregadas por ter de cuidar destas e de si mesmas. Com tanto para fazer e sem planejamento de vida, facilmente seguem os mesmos passos daquelas que são mais velhas do que as ricas de 80 anos ao terem 60 reforçando a cultura de aproveitar a vida imediatamente sem pensar no futuro. Frases como “o futuro nunca chega, então não se preocupe”, “vou aproveitar hoje porque não sei se estarei vivo amanhã” ou “primeiro salvamos vida, a economia vemos depois” são provas de como tais pessoas não planejam o futuro e apenas agem como desejam no presente, decidindo por ignorar as consequências de suas escolhas, as quais impactarão no futuro que, diferente do que pensam, certamente chagará.

Ao contrário destas, as mais planejadas vivem numa cultura diferente. Não ter filho cedo é essencial para manterem-se entrosadas nos grupos em que fazem parte assim como ter diplomas, saber várias línguas e possuir objetos como casas e carros.

As pessoas imediatistas buscam o prazer imediato ignorando os resultados danosos de suas escolhas. Sexo com várias pessoas em sem evitar gravidez é uma maneira de satisfazer tanto o corpo como o social por ser desejado por alguém. Este comportamento eleva a natalidade em pessoas “jovens” (para a perspectiva de quem tem longa expectativa de vida) bem como a propagação de doenças sexualmente transmissíveis. Tanto o filho como a doença diminuem a qualidade e expectativa de vida contribuindo para retroalimentar o próprio comportamento.

Já as pessoas mais planejadas temem uma gravidez não planejada. Preocupadas com despesas com a criança, com a responsabilidade de cuidar de alguém e de não ter mais tanto tempo para si próprias, elas evitam tal situação criando um futuro com menos riscos (risco de ter filho, de adoecer, de se estressar através da criação do filho).

Este aspecto é facilmente percebido: as pessoas mais imediatistas tendem a ter mais filhos do que as planejadas.

Outros fatores também são resultado desde modo de pensar e viver. As pessoas imediatistas tendem a não estudarem muito porque desejam fazer dinheiro, o qual é feito através do trabalho. Então deixam de estudar para trabalhar enquanto que as planejadas tendem a estudar sempre que podem para aumentar a sua capacitação e, com isso, a sua remuneração. Em outras palavras: fazer mais dinheiro.

Buscando o dinheiro imediatamente, aceitam bicos, trabalhos sem carteira assinada ou trabalhos com carteira assinada que não rende muito. Insatisfeitas com o pouco rendimento, não possuem empenho para trabalhar elevando a chance de serem demitidas. Sem trabalho e com contas para pagar, aceitam qualquer dinheiro que apareça e, neste ponto, há mais chance de aceitarem trabalhos ilegais e violentos, afinal, a própria vida está sob risco por não ter como pagar as contas (obter mantimentos).

As pessoas mais planejadas escolhem onde e em que trabalharão. Com alta capacitação, os empregadores que disputam a sua mão de obra, elevando a remuneração e dando sempre boas oportunidades para tais pessoas, ou seja, desemprego não é um risco iminente. Ademais, estas pessoas tendem a trocar de emprego em vez de serem demitidas e, então, procurar por outro emprego. Ter oportunidades e ter pessoas desejando a sua mão de obra faz com que elas se sintam mais valorizadas e o bem estar emocional é maior o qual afeta todo o restante por ser parte da própria pessoa.

Muitas diferenças acontecem pela simples forma de pensar. Ricos podem se tornar pobres se não planejarem o futuro; ricos podem manterem-se ricos ou enriquecer mais se planejarem o futuro; pobres se mantém pobres por não se planejarem; pobres podem enriquecer caso se planejem. A regra não está ligada à condição da pessoa (meio), mas à própria pessoa. O meio influencia, mas o indivíduo determina (tem poder de influência quase absoluto).

Existem pessoas (talvez a maioria das pessoas imediatistas) que não conseguem se planejar, sendo uma deficiência pessoal. Pode ser fisiológica, psicológica ou outra, mas não conseguir se planejar não faz com que outras devam fazer por elas ou que devam resolver os seus problemas (o que não teria sentido já que a própria pessoa é a origem de seus próprios problemas). Não ser culpada (escolher conscientemente) não faz a pessoa deixar de ser responsável por suas escolhas e sua vida assim como não ter ciência de um evento não faz o evento desaparecer. Se não gostamos de algo, então cabe a nós, individualmente, estudar e aprender a fazer diferente para ter um resultado melhor.

Temos a sorte ou azar, condições que estão além de nosso controle e nos impactam. Contudo, não somos pessoas completamente incapazes de pensar. Quem se prepara mais, possui mais chance de ter mais “sorte” ao produzir situações mais favoráveis. Quem se prepara menos para o futuro vindouro tem menos chance de conseguir o mesmo resultado de quem se preparou e quem não consegue se planejar não possui o direito de exigir que outrem faça por ela

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