Há quem diga que nunca se trabalhou tanto quanto hoje em dia. Mas houve um passado onde se trabalhava 14, 18 horas diárias;
há quem diga que o mundo nunca foi tão violento. Mas houve duas grandes guerras no século passado, castigos físicos e decepamentos eram comuns, além de torturas para entretenimento do público;
há quem diga que o sistema de saúde está caótico, no seu pior momento. Antes do SUS não havia assistência à saúde para muitas pessoas e, observando rapidamente a história, assistência a tratamentos de saúde não era pública, mas serviço fornecido por profissionais da área que cobravam por tais consultas ou tratamentos;
há quem diga que hoje há mais estresse do que no passado, mas isso é verdade? As pessoas não se estressavam vivendo pouco, com muitas doenças, muitos filhos, pouca renda, trabalhando 10, 12, 14 horas por dia, sem várias, folgas ou fins de semana além da insegurança contra animais como ratos e insetos?
há quem diga que hoje há mais doenças do que no passado, mas acontece que no passado as pessoas ficavam doentes, apenas não se sabia de quais doenças. Elas sobreviviam como podiam até não aguentarem mais. As doenças mais “silenciosas”, sem sintomas físicos visíveis ou evidentes, eram as mais desconhecidas. Quantas pessoas devem ter morrido de envenenamento ou câncer e terem sidas consideradas punições divinas? Quantas pessoas com diabetes e obesidade sobreviveram às suas condições sem saberem o que havia de errado dentro de si?
Muitas doenças não eram conhecidas. Muitas pessoas viviam anos doente até falecer e, por conta disso, não se sabia a causa da morte, se a doença era de longo período ou qual doença era. As pessoas tinham apenas os sintomas, não o conhecimento para identificar ou tratar como há hoje;
Não havia vacinas, analgésicos ou antibióticos;
Não havia alimentos bem tratados e enriquecidos com vitaminas e minerais que impedem diversas doenças;
Não havia energia elétrica, algo tão fundamental e básico que sequer conseguimos imaginar como a vida pode ser sem essa preciosa tecnologia;
Não havia água encanada ou tratada. Muitas doenças eram transmitidas por água contaminada;
Não havia elevadores, condicionadores de ar ou de aquecimento;
Cirurgias não eram opções: uma vez com dor ou alguma doença, a pessoa sofria sem ter o que fazer. Infecções internas eram causas de diversos sofrimentos e mortes como apendicites;
Não havia transporte como hoje. As pessoas tinham de viver no meio de trabalho porque não havia ônibus, metrôs ou trens;
Viagens eram a cavalo ou outro animal com função similar. Aviões não existiam nem em sonhos e navios precários era o que o meio que as pessoas tinham de se locomover em grandes distâncias;
Banhos, xampus, cremes, sabonetes não existiam. A higiene era precária e motivo de muitas doenças;
A única forma de o passado ter sido melhor do que o presente é na fantasia onde podemos idealizar o passado e comparar com o que sentimos (não é fato, é sensação) sobre o presente.
Muitas vezes comparamos o nosso passado, quando éramos crianças e não sabíamos como era a vida de adulto, com a vida de adulto que temos hoje. Concluímos com essa comparação que a vida era melhor porque não precisávamos trabalhar, pagar contas e não nos preocupávamos com mercado. Porém, como validar essa comparação se estamos comparando coisas diferente? É como comparar maçã com azul. Talvez se fizermos uma enquete com as crianças e adultos por várias gerações consigamos ter uma resultado mais dentro da realidade.
Será mesmo que o momento em que vivemos agora é o pior da história ou nós estamos demasiadamente focados no que nos incomoda no momento atual que desvalorizamos o que já se passou?
Uma característica que o ser humano tem é de esquecer o que incomodou, a menos que tenha sido intenso demais para ser classificado como trauma fora isso, esquecemos e, assim, como acreditar que a comparação que fazemos sobre o que lembramos do passado com o que sentimos hoje, normalmente algo desagradável, possa ser válida e proporcional? Ao deixarmos de ter algo que nos desagrade, esquecemos, como se não tivesse existido porque ficou no passado. As emoções do presente são mais intensas, então sentimos que são “mais verdadeiras”, “mais reais”, “com mais valor” do que as passadas porque deixamos de sentir as antigas.
Veja mais em Nostalgia de um passado inexistente e Conseguimos perceber a realidade ou nos afogamos em nossos próprios sentimentos? (colocar link em 11/abr/2024)