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O poder corrompe?

É na possibilidade de fazer tudo o que se deseja que conhecemos verdadeiramente o outro.

Muitas pessoas acham que o poder corrompe. Este pensamento faz muitas temerem o poder por medo de se corromperem.

O poder, que é a capacidade de fazer o que se deseja, não corrompe ninguém. A crença de que se é uma boa pessoa quando não se pode fazer tudo o que deseja é que cria a ilusão de uma pessoa que é corrompida pelo poder.

Uma boa pessoa é uma boa pessoa. Ela não apenas faz coisas julgadas como boas, ela GOSTA de fazê-las e, então, as faz sempre que possível. Ter poder, financeiro ou social para tal, não a faz mudar. Porém, quando a pessoa aparenta ser boa ao fazer coisas consideradas boas porque almeja algum resultado, seja agradar alguém, seja outrem ou a si mesma, a pessoa NÃO é boa, ela apenas APARENTA sê-la por fazer ações consideradas boas.

Estas pessoas, quando não precisam mais mostrar serem boas por alguma razão, seja poder financeiro, social ou outro motivo, elas deixam de agir como o de costume (com atitudes tidas como boas), o que provoca estranheza nas pessoas ao seu redor. Estas comparam o comportamento antigo com o novo e, vendo que o que mudou foi o poder que a pessoa possui no momento, acreditam que este seja a razão para a mudança do comportamento porque mantém a visão da pessoa anterior, acreditando que ela permanece boa, mas que foi o poder que a “estragou”.

Este pensamento é uma maneira de culpar ou responsabilizar a realidade desagradável a um objeto, ainda que não seja palpável, como o poder. O desejo de manter a visão da pessoa como sendo boa é tão grande que acredita-se nisso e, não sendo real por não ser condizente com a realidade vista e vivida, coloca-se a culpa da mudança do outro no poder. Assim, a imagem que se tem da pessoa permanece, nutrindo o afeto e admiração a ela, embora tudo mostre que ela não é e não foi quem aparentou ser, ou seja, a imagem que tem-se sobre a pessoa nunca foi real, apenas imaginária e representativa. A pessoa atuava, como um personagem.

Uma pessoa reprimida, que precisa de submeter a vontades alheias para efetuar trocas, não mostra quem é de verdade porque precisa agradar os demais para que estes a agradem também, satisfazendo as suas vontades, mesmo que parcialmente. Já uma pessoa independente, que não precisa se submeter para ter o que deseja, mostra a sua real personalidade, uma vez que não terá nenhuma sansão proveniente de terceiros, ou seja, ainda que desagrade outros, ela usufruirá do que almeja porque ela mesma é a responsável por fazê-lo.

Uma pessoa orgulhosa, que acredita merecer mais do que tem e que é melhor do que os outros, porém é pobre, engole o seu orgulho e o deixa guardado porque se mostrá-lo perderá o apoio social dos demais ao desagradá-los e, sem este apoio, ela não consegue o que quer, como favores, empréstimos, ajudas ou outros. Contudo, se por ventura ganhar uma grande quantia de dinheiro, tendo poder para satisfazer as suas vontades, ela deixará o local onde mora e se mudará para onde deseja. Ela também tratará as pessoas de forma que acredita ser real, conforme o seu julgamento. Neste momento situações onde ela esnobe outras podem aparecer e a verdadeira personalidade se revela.

Não foi o dinheiro que a mudou ou a corrompeu. Ela era assim, porém não podia mostrar sê-la dessa forma anteriormente por medo de perder favores, afeto, ajudas, auxílios e outros agrados. Agora, sem mais necessitar de repreender para conquistar o que deseja por ter acesso por meio monetário, a pessoa usa deste meio para tal e passa a rever a sua identidade como era antes.

Pessoas que seguem regras por medo de punições ou sansões são exemplos disso, em que fingem serem boas ao seguir as regras, quando, na verdade, só o fazem por medo. Se não houvesse punição elas escolheriam por não seguirem as regras.

O exemplo de impunidade mostra isso: as pessoas escolhem não seguir as regras quando não há medo de serem punidas de alguma forma, ainda que uma repulsão social pequena.

Muitas também fazem coisas tidas como boas para serem bem vistas e mais tarde serem auxiliadas. Um exemplo simples e rotineiro disso é “vou fazer amizade com o vizinho porque, caso eu precise, ele me ajuda”. A pessoa não quer fazer a amizade em si, mas o resultado da ajuda alheia em algum momento posterior. Isso significa que ela finge ser amiga para cobrar algum favor ou ajuda depois. Há quem ache dinheiro e o devolva visando ganhar algum reconhecimento, bônus ou crédito, não porque deseja devolver o dinheiro em si. Como vemos a ação boa, acreditamos que a intenção seja a de realizar a ação, mas, na verdade, sabemos que não é assim porque, no fundo, todos nós fazemos algo que não desejamos para obtermos algum resultado que queremos, como o trabalho, por exemplo, o que muitas pessoas não gostam e reclamam, mas desejam o resultado, que é o salário. São pessoas boas por trabalharem, mas se não tivesse o medo de não receber o salário ou não precisassem da remuneração pelo trabalho prestado, elas ainda assim o fariam?

Mas, como aceitar que fomos enganados por tanto tempo quando a pessoa “muda” quando consegue poder? Que quem julgamos ser bons não eram? Escolhemos manter a nossa visão de que a pessoa era boa e responsabilizamos o poder financeiro por não termos mais a situação que antes nos felicitava. Assim, ficamos com raiva do dinheiro e mantemos o afeto e a visão sobre a pessoa em questão, gerando o nosso bem-estar emocional (em relação a pessoa).

Existem casos em que mudanças realmente acontecem porque as pessoas mudam. Contudo, estes são mais raros porque, apesar das pessoas mudarem, estas alterações costumam levar muito tempo e percebê-las leva ainda mais. Por isso que notemos diferença nas pessoas quando a convivência é interrompida e grande período de tempo se passa até que se encontrem novamente. Comparamos o que vemos com as lembranças que temos, juntamente com as ideias que temos a respeito da pessoa, e detectamos as mudanças maiores.

Se a corrupção é não seguir alguma regra, podemos concluir que a pessoa dependente de algo ou de alguém, é a pessoa corrupta que age de maneira a quebrar com as próprias regras e crenças visando agradar outra pessoa. Ela deixa de ser fiel a si mesma para obter alguma vantagem, seja um bom relacionamento, um elogio de outra pessoa, a satisfação do outro, ou outro motivo. Dessa forma, a pessoa mais independente ou mais poderosa é a pessoa mais fiel a si mesma mostrando os seus valores e sentimentos sem medo das consequências de suas ações. Estas são mais verdadeiras.

1 comentário em “O poder corrompe?”

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