Por que temos medo de psicopata?
Em primeiro lugar, porque não o entendemos. Sem entender, como controlar? E sem controlar, como prever suas reações? Sem prever, como nos planejar e nos preparar?
Em segundo lugar, queremos empatia. Queremos que os demais compreendam o nosso sofrimento, para terem compaixão e, por isso, nos ajude aliviando a nossa dor.
Em terceiro lugar, queremos a empatia porque é através da manipulação emocional que controlamos os outros. Tendo-os sob o nosso controle, ele faz o que desejamos satisfazendo a nossa vontade.
Evitamos essas ideias porque nos iludimos acreditando que somos boas pessoas porque esta crença nos gera bem-estar. Além disso, julgamos como errado ou imoral a manipulação, mas apenas porque não queremos ser vítimas desta. É o mesmo com a violência: gostamos de ver lutas, brigas, fofocas e intrigas. Apreciamos pessoas que fazem mal (o que não gostamos) sofrerem. Contudo, achamos errado (por sentirmos ser desagradável) sermos vítimas da violência. Não queremos ser alvos de fofocas, intrigas, brigas ou lutas. Mas fazemos tudo isso quando se trata de outra pessoa porque, na realidade, queremos a violência quando nos beneficia, não quando nos gera prejuízo.
É comum o medo de um psicopata. Sem sequer saber do que se trata, a primeira coisa que as pessoas tendem a imaginar é que o psicopata mata pessoas, isto é, o medo da pessoa é expresso e ela o direciona para aquele que ela não compreende. No entanto, se o psicopata é quem não tem sentimento por ninguém, é a pessoa com a mente mais racional e previsível possível que o faz ser a pessoa menos perigosa (por ser mais previsível).
A incompreensão sobre psicopatas e alguns assassinos é o que faz as pessoas acreditarem ser a mesma coisa. A pessoa pensa assim:
– não entendo psicopatas
– não entendo assassinos cruéis
Conclusão: assassinos cruéis são psicopatas.
Veja que não existe definição do que é um psicopata nem de um assassino cruel, mas ambos “têm” a mesma característica e somente por conta disso a pessoa acredita serem a mesma coisa. É assim que se cria a ideia de que assassinos cruéis são psicopatas e como somente estes aparecem (sabemos), concluímos que todos (que conhecemos) os psicopatas (assassinos cruéis) são assassinos. Três distorções de definições criando uma ideia completamente diferente da ideia original.
No Brasil existe a cultura da vitimização, porém esta cultura não é restrita a este país. As pessoas se colocam como passivas em suas vidas tal como objetos que inertes que não fazem nada. Com isso elas afirmam que outras pessoas as machucam, ferem e as prejudicam colocando a ação tida como errada e que portanto, devem ser punidas, em outrem. Passivas e receptivas a tudo que lhes chegam, para o que é bom e o que é ruim, se focam na segunda e reclamam que são prejudicadas. Mas por que alguém tem a coragem ou até mesmo o orgulho de contar que é impotente sem sua própria vida?
Com o pensamento dual, a pessoa acredita que existam pessoas boas e ruins e, se a pessoa é boa, então as demais são ruins. Além disso, as ruins devem ser punidas enquanto as boas devem ser idolatradas e se colocam nesta posição de serem pessoas certas. Portanto, cabe aos demais apenas o papel de serem pessoas ruins que devem ser punidas. Mas não é só isso. Um dos objetivos é se colocar como uma pessoa boa para manter seu vínculo com o coletivo, se mostrar como alguém com importância para os demais e, finalmente, conseguir uma indenização da pessoa ruim que lhe feriu. Ninguém deseja mostrar a sua importância e incapacidade somente para que os demais saibam sobre a sua inferioridade. A pessoa busca mostrar que é uma pessoa superior e que este é o motivo de ser prejudicada. Em outras palavras, a pessoa conta uma narrativa de que é uma boa pessoa para conseguir atenção e afeto ao mesmo tempo que cria um vilão que causa o seu mal-estar e que, portanto, deve ser punido bem como deva ressarci-la de algum modo. Assim, a pessoa consegue atenção, afeto, alimentar a crença de ser uma boa pessoa enquanto expõe os próprios defeitos que são tidos como consequências da ação maliciosa de outrem e ainda exige que o outro lhe dê algo como forma de apaziguar a briga ou como forma de desculpa.
Isso mesmo: a pessoa mostra que não é responsável por si, que deve ser idolatrada e que outrem deve fazer as suas vontades. Tudo isso de modo que ela seja vista como vítima quando, claramente e logicamente, ela é a planejadora de todas essas ações visando os objetivos sociais e pessoais.
Além que desejarmos a compaixão dos outros para que eles nos satisfaçam por dó, desejamos usá-los como desejamos. Nós os manipulamos de diversas formas, com elogios, críticas, olhares, comentários sutis, ameaças e todas as táticas que sabemos usar e que o outro é receptivo e reage da maneira que queremos. Criticamos as pessoas nos colocando novamente na posição de vítimas como se eles fossem os culpados e informamos de várias maneiras o que o outro deve fazer para se desculpar conosco. Assim, o outro age de modo a nos agradar para conseguir esta desculpa e a briga/rixa encerrar.
Elogiamos as pessoas que queremos que nos escolha, oferecemos bons momentos e tentamos conquistá-las. Sem sermos nós mesmos. Isso é mais facilmente percebido em início de relacionamentos, românticos ou amigáveis, onde escondemos os nossos defeitos e realçamos as nossas qualidades agindo de maneira a manipular o outro para que goste de nós.
Ameaçamos com castigos, silêncios e rispidez para que o outro aja como desejamos. Para evitar este nosso comportamento que o incomoda, ele age como desejamos e, mais uma vez, nós o controlamos através da manipulação.
Manipulamos com narrativas e fofocas àqueles que são mais sensíveis a tais métodos. Com medo de serem alvos de fofocas, agem da maneira que desejamos reagindo a esta ameaça sutil conforme queremos. Também contamos histórias para envolver o outro e fazê-los acreditarem em nós. Uma vez tendo conquistado a confiança dele com as nossas narrativas, podemos usar deste meio tanto quanto desejamos para fazê-lo ter o comportamento que queremos.
Isso é facilmente visto nas políticas onde há discursos que incendeiam corações perdidos na vida. Com um público que não sabe o que deseja e não faz ideia do que sente, qualquer história que alimente os seus sentimentos são sentidas como verdades e, assim, se conquista um público inteiro com uma história sem qualquer prova de veracidade e ganha-se uma público fiel que fará tudo que for pedido porque o público sente que o discursante está correto uma vez que conta o que é desejável ouvir, isto é, o público ouve o que alimenta seus sentimentos experimentando sensações intensas, as quais são percebidas como reais, verdadeiras, fatos. Se o discursante faz o público se sentir certo uma vez que fala sobre estes “fatos”, o discursante passa a ser o ídolo, um deus a ser seguido e obedecido.
Esta maneira de manipulação em grande escala é vista em quaisquer grupos sociais. Seja um grupo de condôminos, um grupo religioso, um grupo intelectual, um grupo político, um grupo online… Onde houver grupo de pessoas com pessoas manipulativas e pessoas facilmente manipuladas através dos sentimentos (através da empatia), haverá manipulação e seguidores.
Outro exemplo da manipulação através da empatia são os crimes. Conhecendo que a pessoa obedecerá se ameaçar a família dela por conta do vínculo emocional que se tem para com esta, muitas pessoas roubam as outras em assaltos e sequestros. Somente por conta da empatia: conhecimento emocional sobre o outro.
Os psicopatas também são passíveis de serem manipulados. Sendo pessoas com sentimentos, possuem desejos, medos, dores e prazeres. Portanto, a ameaça de punições como as punições legais são formas de manipulá-los a agirem conforme a lei. Essa manipulação acontece com todos. A diferença para os psicopatas é que eles não têm empatia (não entendem o que o outro sente) ou não têm compaixão (não se importa cm o sofrimento alheio). O curioso é que TODOS nós somos assim. A diferença é que psicopatas não têm vínculos (empatia ou compaixão por pessoas próximas), somente esta.
A essência do ser humano, suas emoções e seus pensamentos básicos, não são alterados. Podemos aprender muitas coisas, mas as reações básicas permanecem. Assim, temos as mesmas características que um psicopata e mais algumas demonstrando que somos similares a estes e podemos compreendê-los. Afinal, não nos importamos com pessoas que não temos vínculo nem expectativa, somos compassivos diante da violência para com desconhecidos e não nos chocamos com os noticiários que relatam e mostram o sofrimento alheios. Somos muito parecidos com os psicopatas.