Quem está insatisfeito com a própria vida pressiona o mundo a mudar para que este o agrade. Logo, uma que deseja ser vista de uma forma pela sociedade a pressiona para esta acatar a sua vontade em vez de provar à sociedade que ela é de fato o que alega ser.
Pessoas orgulhosas são pessoas com grande vaidade, acreditando serem mais do que são, serem mais valiosas do que são, possuindo mais atributos que realmente possui, ou seja, são pessoas que desejam ser vistas de forma diferente do que são.
Uma pessoa que se valoriza e acha que é mal remunerada acredita que o seu trabalho vale mais do que o seu salário informa. Se a pessoa realmente é mais valiosa do que a sua remuneração alega, ela deixa o seu emprego e oferece a sua mão a um preço mais alto. Contudo, quando não há quem deseja pagar o preço que ela pede em troca do seu serviço e a pessoa deseja alguma remuneração, ela aceita alguma opção que não paga tão bem quanto ela julga ser merecido.
A sua visão sobre si é distorcida da realidade onde ela se encontra. Ela enxerga que o seu trabalho possui mais valor do que o valor dado pela sociedade onde ela está. Ela pode investir em melhorar a sua mão de obra, para cobrar mais caro e ter cliente para tal, ou reclamar e pedir (reclamações, críticas e exigências são as formas mais comuns) que o mundo mude para atender a sua vontade de se sentir mais valorizada sem que ela se valorize de fato.
Com este pensamento, desejando que os demais nos vejam com os nossos olhos para nos agradar, o indivíduo acaba entrando em conflito com a sociedade.
Outro exemplo disso é o desejo de mudança de gênero de palavras visando não ofender quem não se encaixa no modelo atual. Uma pessoa que não se sente bem em ser vista como mulher ou como homem quer que o mundo mude de opinião sobre ela para satisfazer a sua vontade. É a mesma ideia de que uma pessoa gorda, isto é, com excesso de tecido adiposo no corpo, querer que ninguém a veja como gorda. Não falar que a pessoa seja gorda não a fará deixar de ser gorda, bem como um homem não se tornará mulher somente porque assim deseja ou vice-verso.
O mundo é feito por pessoas e possui outros componentes. Não gostar de como é não o mudará.
Somos tratados da maneira que as pessoas nos percebem, dentro do que elas acreditam ser adequado. Tratamos uma criança como criança porque a vemos como criança. Mas também tratamos um adulto como criança quando este se comporta como criança, ou seja, não basta apenas ter um corpo de criança para ser tratado assim, é necessário possuir o comportamento condizente com a ideia que possuímos de criança.
Um homem que se veste como a maioria das mulheres, fala, se comporta, se expressa, pensa e possui atributos vistos como femininos será tratado como mulher. O inverso também acontece. Contudo, deseja ter comportamento comum de homem, pensamento de homem, se vestir como homem, agir como homem, possuir características masculinas e não desejar ser visto como tal é desejar ser rei e ordenar que o mundo caia aos seus pés.
O outro só nos ofende quando não enxerga em nós o que nós desejamos ter ou ser e não temos ou não somos.
No caso do gênero, a pessoa permanecerá passando pela mesma situação de se sentir ofendida mesmo com a alteração de gênero nas palavras porque as palavras são neutras, quem dá conotação de bom ou ruim, bem ou mal, valorização ou desvalorização, são as pessoas que fazem uso das palavras.
Um exemplo disso foi a alteração da palavra favela para comunidade.
Anos atrás a palavra favela tinha uma conotação de desvalorização porque descrevia uma ocupação específica que as próprias pessoas desvalorizavam, fosse por não serem belas, por não terem a organização de outros lugares ou outros motivos. Para tentar alterar tal situação sem fazer nada, a falava favela foi enquadrada como uma maneira de discriminar ou desvalorizar e, portanto, não deveria ser usada. A palavra para substituí-la foi comunidade.
No entanto, o objeto de referência permaneceu o mesmo e a palavra comunidade foi associada ao objeto, ganhando a mesma conotação que favela tinha no passado. Não houve valorização como se desejava, apenas criou-se um sinônimo para favela.
Um objeto não muda por ter outra palavra que o define. É preciso mudar o objeto em questão para que a alteração seja realizada. Quando isso ocorre, valorizando o objeto, a própria palavra que o define também ganha tal referência, dando uma conotação de valorização.
O fato é que quem dá conotação às palavras são as pessoas. Os objetos são livres de julgamentos. Eles não são bons ou ruins, belos ou feios, eles apenas existem. Alegar que algo seja bom ou ruim, belos ou feios são julgamentos individuais, mostrando o que a pessoa acha do objeto. Portanto, quando ela acha algo bonito ou bom, ela diz “isso me dá prazer, me agrada”.
Quando uma pessoa alega que não gosta como é chamada, o problema não é a palavra em si, mas como ela e os demais interpretam a palavra, valorizando ou desvalorizando-a.
Não se muda comportamento com mudança de palavras. Se muda comportamento com alteração de interpretação (veja o post Razão X Emoção).
A IGNORÂNCIA DA REALIDADE
A vontade de mudar os gêneros de palavras, tentando acabar com a informação sexual através da ignorância, prova como o ser humano não deseja a verdade.
Existe sexo e continuará existindo, mesmo que não gostemos, não saibamos lidar com isso, mesmo que tentemos ignorar esta informação.
Desejo não é realidade só porque assim queremos. É vontade.
Parabéns, é assim mesmo
Muito bom o texto. Esclarece com lucidez a tentativa de construir uma realidade ao seu molde e modo…. não basta a “desconstrução”, este seria apenas o primeiro passo. Após a desconstrução é necessário construir uma nova realidade…. A verdade não se constrói apena se verifica sua realidade.