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Ideais no cotidiano

Criamos ideais em nossas mentes seguindo as boas sensações que temos ou que achamos que teremos.


Idealizamos a vida perfeita, o trabalho perfeito, a família perfeita e etc e passamos a vida buscando pelos ideais que construímos. Nós reforçamos o que nos agrada, com elogios e outras formas de estímulo para que a experiência se repita, e condenamos, ignoramos, reprimimos e repudiamos o que nos desagrada.

Os estereótipos sobre a vida são individuais, porém a sociedade compartilha de traços comuns. Homens são atraentes quando se aproximam da nossa ideia sobre a perfeição de homem, isto é, quando ele possui características que apreciamos, gostamos e temos prazer em usufruir de alguma forma. O mesmo vale para a mulher.

Atualmente temos algumas características desejadas e idealizadas em homens e mulheres. Buscamos e estimulamos tais características.

Homens são mais atraentes quando fortes, maiores que as mulheres e oferecem segurança, tanto física, quanto intelectual e financeira. Por isso tais características são percebidas como masculinas ou associadas a homens, como se fossem exclusivamente provenientes destes.

Mulheres são mais atraentes quando carinhosas, delicadas e bonitas e a mesma percepção de que tais traços sejam proveniente do feminino acontece em nossas mentes. Dessa forma, tais características são percebidas como traços de sexo ou gênero da pessoa, não como características de personalidade desassociadas ao aspecto sexual.

Tudo que estimule ou satisfaça tais percepções é elogiado. Quando se faz o oposto é repudiado.

Quando um homem não age como este ideal de homem não é visto como um. Quando mostra características que são atraentes em mulheres estas pessoas são chamadas de “mulherzinhas”, numa demonstração de rebaixamento na categoria “homens” e aproximação da categoria “mulheres”. Da mesma forma, quando a mulher demonstra comportamento que é atraente em homens, é vista como “mulher-macho” ou “sapatão”, demonstrando que ela se se aproxima mais da categoria “homens” do que a de “mulheres”.

As próprias palavras ou expressões usadas carregam a entonação emocional do significado que desejam expressar. Mulherzinha, bicha ou viadinho são formas de mostrar que a pessoa não é forte nem astuta, ou seja, sem a qualidade que define homem.

Já sapatão, mulher-macho ou sapata são maneiras de falar que a pessoa possui mais agressividade e força, características tidas como masculinas. Mais uma vez a entonação emocional é a responsável por fornecer o significado que deseja ser transmitido.

Estas maneiras de se referenciar a uma pessoa são formas de desprezá-la e desvalorizá-la, sendo formas de reprimir tal comportamento ou característica que não gostamos nelas.

Tratamentos e cirurgias para realçar características desejáveis são estimuladas. Cirurgias que fazem a mulher se aproximar do ideal de mulher, como lipoaspiração, implantes de silicone, tratamentos de pele e de cabelo, bem como maquiagem para aumentar as características tidas como femininas, são estimuladas e o mesmo vale para os homens. Quantos homens buscam formas de ganhar massa muscular porque o ideal de homem forte existe? Eles pintam cabelos, fazem barbas, tratamentos para calvície e outros procedimentos para alcançarem este ideal. A maquiagem é uma maneira de alterar o corpo para que este fique mais próximo do belo, do ideal, e homens também aderem a esta ferramenta para tal.

No caso de cirurgia, em que grande alteração no corpo é feita repentinamente, as pessoas possuem mais resistência de aceitação, pois que se acostumar com a nova imagem não é simples, nem fácil, nem rápido. Contudo, quando esta alteração gera bons resultados, ou seja, satisfação e prazer, a aceitação é mais rápida, fácil e até acaba por estimular ou encorajar outras pessoas a se submeterem a tratamento igual ou semelhante.

Quando a pessoa decide fazer uma cirurgia ou modificação que a faz ficar mais distante da categoria que a sociedade julga como boa, certa ou desejável, a pessoa é repudiada.
Não precisa ser algo tão drástico para mostrar que exigimos que os outros sejam de acordo com o que desejamos. Um exemplo disso é o padrão capilar. Homens usam cabelo curto e mulheres cabelo comprido. A mulher raspar a cabeça ou o homem ficar com cabelo comprido já gera repúdio, o qual é demonstrado com descontentamento, críticas, desvalorização e humilhação.

Outro exemplo é mulher ficar com o corpo musculoso, popularmente visto como característica masculina, ou homem ter comportamentos tidos como femininos, como alguns cuidados com as unhas ou pele, por exemplo. As roupas também são determinadas por gênero: homens usam calças e mulheres saias ou vestidos. As calças femininas são diferentes das masculinas por serem mais justas, visando reforçar os contornos desejáveis de seus corpos, enquanto que os dos homens são mais largas. Ademais, homens não usam saias ou vestidos, sendo peças exclusivamente femininas e vestir-se diferente destas regras gera estranheza e repúdio.

Os exemplos mais estrondosos por conta da grande alteração e distância do desejado são as mudanças de sexo ou de comportamento. Quanto mais distante a pessoa está do que desejamos, mais repudiamos. Por isso que homens que mudam seus corpos para ficarem mais próximo de um corpo feminino ou mulheres que alteram os seus corpos para se aproximar de um corpo masculino são tão estranhos, repudiáveis e contestáveis. Eles fazem modificações que NÓS não gostamos e julgamos por isso. Já as pessoas que fazem alterações para ficarem mais bonitas, segundo a nossa ótica, conquistam mais a nossa atenção e afeição.

No fundo estamos dando a nossa opinião sobre o que achamos do outro.

Além disso tais alterações nos fazem confusão. Como temos um ideal de como uma pessoa deve se comportar, criamos a expectativa de que assim seja. Então quando tais expectativas não são correspondidas nós repudiamos e desvalorizamos aqueles que nos frustram. Assim, homens com comportamentos tidos como femininos são desvalorizados bem como mulheres que possuem comportamentos tidos masculinos.

O mesmo vale para os corpos. Não conseguirmos identificar o sexo da pessoa nos gera confusão e não sabemos como agir porque a forma de nos relacionar com homens é diferente de nos relacionarmos com mulheres. A forma de falar, de nos posicionar e até de nos cumprimentar são diferentes e, quando não sabemos se a pessoa com quem falamos é homem ou mulher ficamos sem saber como reagir, como nos comportamentar e nos relacionar.

O fato de repudiarmos o que não desejamos ou achamos errado é válido não somente em relação a parte sexual ou de gênero, mas geral. Comportamentos de prostituição e infidelidade também são repudiáveis porque alegamos não desejá-los em nosso meio, bem como a ausência de estudo, dedicação ou dinheiro. O mesmo vale para os demais itens que consideramos ruins ou errados. Se valorizamos o desenvolvimento intelectual, evitaremos e desprezaremos quem não possuam tal capacidade; quem valoriza uma ideia recusará e ignorará quem pense diferente; quem possua uma cultura alegará que esta é ou a melhor em relação as demais.

Evitamos e desvalorizamos quem possua características que nos desagradam e fingimos desagrado por alguém quando esta pessoa possui alguma característica tida como ruim, desprezível ou errada pela sociedade quando temos plateia, pois não desejamos ser vistos com tais “más” companhias, ou seja, quem possua características socialmente repudiada para que não fiquemos malfalados pelas pessoas que nos rodeiam, as quais somos dependentes.

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