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Homem ou menino?

A sociedade não compreende a própria natureza e lida com a vida da forma que pode dentro da sua escassez de inteligência.

A espécie humana possui dois sexos: masculino e feminino. A partir deste fato a sociedade se estrutura.

O relacionamento entre homem e mulher leva em consideração as suas habilidades e, portanto, a força. O homem é mais forte e facilmente se impõe com a força. Tem-se que homem se impõe e mulher se submete. Esta é a organização básica social: alguém se impõe e é considerado homem, e alguém se submete, sendo considerado mulher. Todos que ajam de maneira diferente dessa relação é considerado “não natural”, estranho, diferente, errado ou outros adjetivos usados com o mesmo objetivo ao longo da história da humanidade.

Ser dominante é necessário para se impor e se impor significa ser homem. Logo é necessário ser dominante para ser homem. A mulher se submete, sendo dependente. Logo ser dependente é uma característica feminina.

A sociedade é fundamentada nisso: mulher é fraca; dependente e submissa. O homem é forte, independente e dominador. Simples.

Onde as crianças entram na sociedade? Elas são mulheres ou homens futuros!

Enquanto bebês e muito dependentes, são vistas como mulheres, por serem fracas, submissas e dependentes. Ao crescer as suas características vão aparecendo, porém é um processo gradual. Assim como visto no artigo “1 ou 0”, estar no meio, sem definição, é confuso para as pessoas. Essas enxergam 1 ou 0, mulher ou homem, dominante ou submetido, não há espaço para adolescentes. Como a menina, submissa, fraca e dependente, se transforma em mulher, submissa, fraca e dependente, a sociedade aceita tranquilamente. Contudo no caso de menino é diferente.

O menino deixa de ser submisso, fraco e dependente para ser forte, dominador e independente, segundo a percepção social da comunidade. Mas essa mudança é gradual, não repentina. É difícil acompanhar essa mudança ou aceitá-la porque foge à regra de 8 ou 80, imposição e submissão. A sociedade não oferece estrutura para esse menino se desenvolver e exige que ele seja menino ou homem, não aceitando a possibilidade de que seja um garoto (adolescente). Assim os garotos são tratados como crianças, que não são, ou homens, que também não são, gerando um conflito interno e calado muito grande. Assim o garoto deve agir como um homem para ganhar aprovação e aceitação social, embora ainda não seja um.

Alguns exemplos são a exigência do garoto saber dirigir quando tiver idade para aprender. Como é possível aprender antes do tempo? Apenas se for contra as regras que a própria sociedade criou. Então, para satisfazer a sociedade é preciso burlar às suas regras que a mesma implementa e aprender a dirigir antes da lei permitir. O mesmo vale para beber. O “garoto” deve saber beber quando entra na maioridade. Novamente: como saber fazer algo quando recebe a permissão de aprender esse algo? A sociedade é contraditória por exigir que seus indivíduos sejam o que não são, ou seja, idealiza uma sociedade ou seus indivíduos e, então, cobra que estes sejam como foram imaginados.

Isso leva a uma questão: a sociedade cria regras para manter a organização e segurança e exige que garotos burlem as regras para provarem que são homens. Mas ele não são garotos?

O garoto quer ser homem e se sente menino. A sociedade cobra como se fosse homem quando ele se sente menino, o que o faz se sentir muito inseguro. Mas às vezes a sociedade trata o garoto como se fosse um menino para algo que ele já sabe fazer e se sente um homem. Ele se sente extremamente desvalorizado. É assim que muitos homens se tornam homens: com autoestima destruída e insegurança que prendem seus corações, mas sem a permissão social de externá-las porque a cobrança de serem fortes, dominantes e sabedores de tudo está enraizada a ponto deles realmente acreditarem que devem ser assim. Então choram calados em seus inconscientes, sofrendo um conflito incompreendido que transborda em comportamentos aparentemente sem sentidos, exagerados ou grosseiros.

Essa mesma sociedade que cria homens com baixa autoestima e grande insegurança exige que ele seja o dominante, conduza a mulher e tenha confiança em si,  como se soubesse de tudo. Isso é mais cobrança.

Falar em sociedade na terceira pessoa do singular é fácil. É fácil apontar o dedo para outro lugar, distante de nós por não sabemos identificar que sociedade é essa. Quem é a sociedade? NÓS! Sejamos mais compreensivos com os garotos. Vamos vê-los como são, garotos! Há deveres e responsabilidades, mas não são os mesmos que os de homens. Vamos exigir as responsabilidades de garotos, não de homens. Vamos estimular a autonomia, não acabar com sua confiança, vamos oferecer a mão de vez em quando para aprenderem com apoio em vez de serem abandonados, vamos ajudar a criar homens melhores para fazermos uma sociedade melhor porque nós somos o coletivo.

Cada um de nós é parte da sociedade e responsável por isso.

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