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Gênios anônimos

A vida é feita pela mistura de habilidades e oportunidades. Ter um sem o outro não leva a nada.

Usar do que temos nas circunstâncias em que estamos inseridos é um processo que chamamos de vida. Quando não temos as chances que desejamos, afirmamos que somos desafortunados, prejudicados e desgraçados (sem a graça). Nós imaginamos como nossas vidas poderiam ser se tivéssemos uma determinada oportunidade e nos ludibriamos com essa ilusão que existe apenas em nossa imaginação.

Como se não bastasse comparamos o que temos com o que “poderíamos ter” (na nossa imaginação), nós constatamos que somos infelizes, desgraçados e que azarados como se uma única oportunidade pudesse mudar completamente a nossa vida sem que tivéssemos de fazer mais nada. Ficamos com raiva da vida que não nos deu tal oportunidade, acreditamos que outras pessoas a tenham e, assim, concluímos que os outros têm o que queremos enquanto nós mesmos não o temos. Apelamos para a nossa imaginação visando conseguir a conclusão que, na verdade, já temos. Primeiro temos uma “conclusão” (nossa opinião criada pela nossa forma de sentir e interpretar o mundo) e depois buscamos por argumentos que defendam a nossa conclusão.

Mas a vida não é feita apenas de oportunidades, mas das situações que nós mesmos criamos. Não adianta termos oportunidades se não temos como usá-las por falta de capacidade. Muitas vezes sequer percebemos a oportunidade diante de nós exatamente por não termos aptidão intelectual de reconhecê-la.

 O que fazemos gera resultados e estes criam as situações que vivemos, sendo oportunidades (sorte) ou desgraças (azar), mesclados com outras circunstâncias das quais não temos controle. Consideramos sorte, ou azar, tudo que nos afeta sem que percebamos a nossa própria responsabilidade. Dessa forma, para as pessoas mais inconscientes e que não percebem os resultado de suas escolhas ou mesmo não percebem as suas opções em si, a vida é o resultado do “acaso”, da “sorte” ou do “azar” porque, se não vemos o que fazemos, consideramos que não o fizemos.

É assim que criamos muitas oportunidades sem percebermos. Estudar cria a oportunidade de ter acesso a outros alunos e professores bem com conhecimentos que podem ser usados em outros relacionamentos. Trabalhar cria oportunidades na área de trabalha e com as pessoas com quem se envolve no ramo em que se trabalha e assim criamos nossas oportunidades que são uma mistura entre o que fazemos e o que os outros fazem.

Da mesma forma que não adianta ter uma oportunidade sem ter a capacidade de usá-la, não adianta ter uma capacidade se não houver uma maneira de ser usada. É assim que pessoas com grandes talentos são forçadas a deixá-los de lado e seguir por um rumo diferente em que o seu talento não tem serventia. Pessoas que poderiam inovar ou fornecer serviços ou bens melhores são menosprezadas e subestimadas quando endereçadas a afazeres que desprezam o seu potencial.

Para muitos, isso é bom porque iguala tais pessoas com quem não tem talento algum sendo todos apenas empregados fazendo os mesmos serviços sem qualquer diferencial.

Pessoas presas a regras e modos de vida infelizes que as tratam como menos do que são por não poder usar de seus talentos em seu campo de trabalho.

Do outro lado do triângulo, tem-se pessoas com oportunidades e sem habilidades. Pessoas provenientes de famílias ricas, com aulas de tudo o que deseja, com os melhores estudos, roupas, carros, cursos e casas, mas sem qualquer capacidade de organizar e manter tudo isso. São pessoas que conseguem oportunidades por conta do dinheiro, porém, sem habilidade, não conseguem manter a oportunidade que “receberam” (conquistaram através do dinheiro). assim, vemos crianças em corpos de adultos mimados e cuidados como crianças irresponsáveis por pais que insistem em lhes dar as melhores oportunidades que podem, assim como grande parte dos pais.

O terceiro lado é onde o talento e a oportunidade sem encontram e surgem os talentos e suas obras. Uma pessoa com talento na música não comporá nem apresentar-se-á em qualquer lugar se não praticar e estudar mais a fundo o próprio talento. Uma pessoa que sabe desenhar desde criança não tornar-se-á um desenhista se não usufruir do talento que tem e uma pessoa ótima em matemática não fará nada de especial em sua vida se permanecer seguindo as regras e estudar na mesma série que pessoas que não sabem matemática e a aprendem.

 

Ter grande inteligência ou ser um gênio pode não ser percebido se a pessoa não tiver a oportunidade de investir nas áreas que necessitam dessa característica. Suas possíveis invenções não são realizadas e a sociedade não conhecerá esta pessoa que possui habilidade de construir grandes avanços. Um futuro que não existirá porque o gênio não teve a oportunidade de mostrar quem é e o que é capaz de fazer.

 

Assim estes gênios passam no anonimato tendo vidas comuns, aprisionados em vidas medíocres sem criar nada além de uma pessoa comum, sem genialidade, sem toda a grande produtividade que poderia ter.

 

A sociedade não conhece estes indivíduos e suas possíveis produções não se concretizam. Os gênios conhecidos são conhecidos por terem não apenas a genialidade, mas pelas oportunidades de expor suas genialidades e muitas vezes essas oportunidades são ter investimento capital, social para suprir as necessidades de produção (aquisição de matéria prima) e divulgação.

Para quem é orgulhoso, isso e péssimo porque deseja tanto ser melhor que não suporta não o ser. Então ter alguém que se mostre melhor é uma situação ruim e desagradável e, portanto, que deve ser evitada. Para estas pessoas o melhor é que estes gênios permaneçam no anonimato, sejam comuns e não ganhem a atenção que os orgulhosos disputam ferozmente. Uma vida com menos comodidades e menos tecnologias, fisicamente mais sofrida, é mais agradável para os seus grandes egos que vibram com o poder e sensação de status social com tal intensidade que vale passar por qualquer dor física.

O próprio talento é uma oportunidade de seguir no rumo do mesmo. É um dom que favorece a pessoa em um rumo específico e cabe à pessoa, ou aos seus cuidadores, investir neste rumo ou não, aproveitar a vantagem ou a ver como um defeito.

Vale a pena arriscar ser o melhor ou o risco de não conseguir e ferir o orgulho com o fracasso justifica se aprisionar no molde de expectativa social?

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