Um dos instintos ou vontades do ser humano é satisfazer as pessoas que lhes são queridas. Dentro disso há a vontade de saciar os filhos, dando-lhes o que julgamos bom ou necessário, oferecendo-lhes prazer.
Muitos pais se sentem mal por não conseguir dar aos filhos o que eles pedem, seja um iogurte, uma roupa, um brinquedo, uma festa ou outro item. Eles se sentem impotentes e se julgam mal por conta disso, ao se sentirem responsáveis pela insatisfação dos filhos.
Quantos pais já falaram ou pensaram “se eu pudesse, teria dado”, ou “não fiz melhor porque não pude ou não sabia” ou “queria ter mais dinheiro para comprar para o meu filho”? São pensamentos oriundos dessa vontade de agradar junto com a falta de capacidade para tal. Contudo, e se fosse possível dar aos filhos tudo o que eles desejassem?
Pais ricos não são tão diferentes de pais pobres. Os ricos podem comprar e dar o que os filhos querem e, tendo a mesma vontade de agradar e satisfazer os filhos, eles fazem. Crianças crescem com os brinquedos que querem, com as festas e passeios que desejam, compram roupas que agradam e tudo o mais que podem. Os seus desejos são similares aos pobres, a diferença é que podem comprar o que querem, o que gera um resultado bem diferente.
O pobre acha injusto essa situação, uma vez que observar pessoas com a sua idade possuindo o que deseja enquanto ele mesmo não pode usufruir do mesmo. Desejar e não ter nos é interpretado como injustiça, como visto no livro Hipocrisia: certa ou errada? Boa ou ruim? Por quê? e para aliviar essa sensação buscam culpar outras pessoas, sistemas, divindades ou o que mais puderem. Ademais, achar um “culpado” é tido como achar alguém que lhes ressarcirá, ofertando algo de bom.
O fato é que os pais dão aos filhos o que podem visando agradá-los. O limite está na capacidade de oferecer aos filhos o que eles desejam ou não. O limite não está na educação, mas na falta de capacidade de conseguir o que deseja, no caso, comprar agrado para o filho.
Com isso, pode-se perceber que é mais fácil impor limites aos filhos quando não se pode dar a esses o que querem, como brinquedos ou roupas caras, diferente das pessoas com mais poder aquisitivo. Como um dos primeiros limites que conhecemos e aprendemos são os limites físicos e concretos, de poder fazer ou de possuir um objeto, aquele que não possui o que deseja aprende mais rapidamente que às vezes não se tem tudo o que se deseja e aprende a lidar com esta frustração. Mas quando pode-se comprar o que deseja e fazer o que se quer por possuir capacidade para tal, qual é o limite que deve-se aceitar ou respeitar?
Quem cresce tendo as suas vontades satisfeitas desconhece a frustração. Apesar disso, a frustração é uma emoção que acontece na vida de todos, seja mais cedo ou mais tarde, já que não somos capazes de fazer tudo. Então, mesmo quem desconhece esta sensação, lidará com ela, ainda que quando for mais velho.
Enquanto o pobre lida com a impossibilidade de compra, que acarreta na frustração de não obter o objeto que deseja, o rico compra e posterga essa sensação.
Quando bebê ou criança, o indivíduo fica com raiva e tristeza, expressando com agressividade ou choros, tendo birras. Achamos bonitinhos, nos apiedamos e acolhemos. Muitas vezes damos algo para fazê-los felizes e não lidarem com essa sensação, o que não deixa de ser uma forma de tentar postergar essa sensação desagradável de não ter o que se deseja. Tentamos resolver o problema e, se não conseguirmos, nós tentamos confortar diante da impossibilidade de realizar o que se deseja. Quando o indivíduo não aprende quando criança, ele continua tendo este comportamento, já que não aprendeu a lidar com tal situação. Assim, crianças mais velhas, adolescentes e até adultos fazem baderna, brigam, gritam e arrumam confusão quando se deparam com uma situação que não gostam e não aceitam a realidade de não terem o que querem. Com suas vontades não atendidas, ficam revoltosos e este comportamento tido como infantil é visto em pessoas mais velhas.
Há quem demore a aprender e sempre reaja dessa forma, ainda que passe por tal situação de frustração desde jovem, mas é mais visto em pessoas com mais poder aquisitivo por conta do que foi explicado.
Muitos falam que os pais são os responsáveis por não impor limites aos filhos. Contudo, essas mesmas pessoas fazem o mesmo, satisfazendo os seus filhos tanto quanto o possível. Ademais, é muito difícil para muitas pessoas negar um pedido do filho, ou de outra pessoa querida, quando é possível realizá-lo e isso é independente da situação econômica da pessoa. Não apenas pais mimam os seus filhos, mas avós, tios, padrinhos e madrinhas também estimulam todo esse ciclo de comportamento da criança, dando-a o que ela gosta e quer. Com isso, podemos ver que não são somente os pais os responsáveis por este comportamento do jovem rebelde, mas aqueles que o cercam.
Criticamos um comportamento específico quando este está fora do que conseguimos lidar. Quando é uma criança que resmunga ou grita exigindo que suas vontades sejam satisfeitas, nós realizamos ou “impomos limites” usando de outros meios, como a autoridade. Mas, quando a criança se torna fisicamente adulta, a autoridade já não é compreendida por ela e, dessa forma, impor limites se torna caótico. Enquanto os pais brigam para colocar limite, o filho luta para não aceitar tal limitação, já que sente que está sendo restringido e nunca fora antes. Afinal, por que só agora, depois de adulto e “autônomo” ele terá limite? Isso não faz sentido.
Esse comportamento rebelde é visto como errado, ruim e nocivo por muitos da sociedade, inclusive por outros pais, mas é incentivado pela mesma vontade de agradar as pessoas que são queridas. Quem critica tal comportamento alega que os pais são os culpados, mas não oferecem soluções viáveis para impedir ou reduzir tais situações. Tais pessoas sabem inconscientemente que agiriam de forma similar, já que satisfazem os seus filhos tanto quanto o possível, porém não sabem lidar com esse resultado. Mais que isso: não querem lidar com tal situação, querem apenas que alguém resolva o problema do adulto rebelde e responsabilizar os pais por tal é uma forma de fazê-lo.