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Dependência emocional

Adependência emocional, como visto em Dependência, é a sensação de precisar de algo que venha de outra pessoa. Normalmente se busca alguma sensação de carinho, importância e afeto e, por isso, acredita-se tratar de amor. Acreditando que o amor seja algo bom, então buscá-lo também é algo positivo e, portanto, buscar tais sinais de amor no outro é aceitável.

Por conta dessa necessidade, descobrir que o outro não corresponde é algum muito triste e desesperançoso. Se a única forma de se sentir é com a atenção do outro, saber que o outro não dará atenção é ter certeza de que nunca sentir-se-á bem novamente. Como lidar com a sensação de que o sofrimento será eterno?

Por isso que pessoas com corações partidos se sentem mortas: ao perderem a esperança de serem felizes, que é o objetivo de vida de todos, não há o que fazer e a dor não desaparecerá nem diminuirá.

Esse sofrimento é tão grande que se cria belíssimos textos, peças e histórias sobre “amores” (paixões) não correspondidas. Porém, mais do que os não correspondidos, os amores impossíveis são quem mais vendem. Por quê? Porque oferecem a esperança de que o “amor” (paixão) seja belo, feliz e perfeito, uma coletânea de bem-estar que faz com que o público imagine a sensação de ter todas as suas necessidades e vontades atendidas e encontrar a felicidade por completo. Daí se criou a ideia do felizes para sempre: é o que todos buscam, a felicidade ao longo da vida toda.

Tendemos a cuidar do que nos é importante por nos gerar bem-estar. Obedecemos no emprego, satisfazemos quem gostamos e limpamos nossas casas. Cuidamos do emprego ao sermos bons empregados e não darmos razão para sermos demitidos; cuidamos dos nossos relacionamentos ao satisfazer as vontades dos outros visando receber a troca posteriormente; limpamos nossas casas para mantê-la agradável e confortável. Cuidamos para não perdermos o que gostamos bem como para reforçar o relacionamento com o objeto ou pessoa que nos gera bem-estar.

Dependemos de nossos pais quando pequenos e trocamos a nossa obediência por cuidados que precisamos, sejam os físicos ou outros. Buscamos pessoas que possam nos dar o que queremos e evitamos quem não nos oferece nada que desejamos e os demais também são assim. Dessa forma, desejar alguém é desejar oferecer algum bem-estar em troca de receber outro, no entanto, quando o que temos a ofertar não é de agrado do outro, entramos em um problema.

Se queremos o que acreditamos que o outro passa nos oferecer e oferecer o que ele não quer, ele afastar-se-á de nós e não teremos o que queremos. Isso nos deixa tristes e incomodados. Portanto, tentamos mais vezes. Algumas pessoas tentam tanto que são consideradas perseguidoras por não respeitar a vontade do outro de querer distância e ausência de relacionamento. Mas, se estamos apaixonados e nada mais pode nos fazer felizes, temos a opção de continuarmos tentando e o incomodando por isso ou de respeitá-lo e sofrermos com a infelicidade e desesperança, algo quase impossível de ser aceito visto que o objetivo da vida é o bem-estar.

Esse comportamento mostra o que sentimos e a intensidade de nossos sentimentos. Quanto mais precisamos do outro, mais dependente dele nós somos. Portanto, na esperança de termos alguma atenção ou afeto, aceitamos passar por muitas situações difíceis e inaceitáveis para quem está de fora.

Quando não buscamos a felicidade em alguém significa que não precisamos de ninguém. Sem desejarmos a atenção ou carinho de alguém, não aceitamos satisfazer as vontades do outro. Isso gera a sensação de independência e de poder. Se não precisamos do outro, significa que não precisamos do que o outro nos oferta, então, para que nós demos o que o outro quer, elevamos a nossa exigência. É dessa forma que o outro depende de nós e nós não dependemos dele. A situação oposta é o citado no parágrafo anterior.

A união de duas pessoas independentes costuma ser superficial e pautada e poucos assuntos/interesses em comum. Esse tipo de relacionamento é visto nos empregos onde apenas produtividade do empregado tem importância para o empregador e o dinheiro do empregador é importante para o empregado. São pessoas que independem uma da outra emocionalmente.

A união de duas pessoas dependentes emocionalmente uma da outra pode parecer ideal para muitos porque imagina-se que cada uma possui o que a outra deseja como se fosse almas gêmeas, metade da laranja ou peças de um quebra cabeça. Esse sonho é a representação do sentimento que as pessoas têm associado à crença de que encontrarão alguém que as satisfará sempre e em tudo que lhe falta. No entanto, sendo duas dependentes, são duas pessoas que aceitarão passar por muitas situações humilhantes e perigosas e por muito sofrimento (fazer o que não gosta visando receber o que se deseja posteriormente) e visando receber o afeto do outro.

As pessoas dependentes emocionalmente são pessoas que se sentem constantemente infelizes e acreditam que outra pessoa possa lhes dar o que lhes falta para se sentirem bem. Isso significa que, com duas pessoas emocionalmente dependentes uma da outra, ambas exigirão muito uma da outra (exigirão toda a felicidade que desejam ter e estão longe de terem) e, visando a satisfação da outra para depois conseguir a retribuição, aceitarão passar por muitas humilhações e farão tudo o que podem para conseguir dar o que a outra quer. São duas pessoas muita carentes que exigem uma da outra a felicidade que não têm e, por serem carentes, não têm como ofertar à outra. Resultado: muitas brigas por se sentirem sempre muito exigidas e terem pouco resultado vindo de seus esforço. No entanto, por precisarem da outra, não abandonarão o relacionamento porque isso seria aceitar que serão infelizes, algo que não funciona para o ser humano. Quem aceita ser infeliz se o objetivo de vida é ser feliz?

A terceira opção é a união de uma pessoa dependente emocionalmente e outra independente. É como paixão não correspondida: a dependente se esforça e faz tudo o que pode para conseguir uma migalha de atenção da outra enquanto a outra não se importa com a primeira. A primeira vive se esforçando e cansada enquanto a segunda está mais feliz e menos cansada. A sensação de injustiça por uma se esforçar muito enquanto a outra não faz o mesmo faz com que os outros enxerguem esta dependência.

Embora pareça simples e fácil de compreender e identificar, o comum são relacionamentos codependentes em que ambos precisam um do outro, mas em assuntos diversos. Em alguns temas, um dos dois é mais independente e o outro mais dependente e em outros acontece o inverso. Dessa forma, ambos são agressores e vítimas, opressores e oprimidos, o que não se enquadra no pensamento dualista comum do ser humano em que se é um ou o outro, jamais os dois.

Exemplo deste cenário pode ser visto em famílias onde o homem reprime a mulher para se comparar e se sentir melhor do que ela visando aumentar a sua autoestima enquanto ela aceita ser humilhada e desprezada, situação muito comum. Em contrapartida, ela é quem manda na casa criando e exigindo rotina e obediência de todos.

Há casos em que o homem bate na mulher enquanto ela o humilha publicamente, sendo ambas as atitudes abusivas e ofensivas (prejudiciais ao outro). Há casos em que o homem não tem segurança sobre si mesmo e aceita uma mulher mais mandona no relacionamento. Neste caso, a mulher abusa do homem ao se impor enquanto o homem obedece, mas é ele quem muitas vezes a manipula para não ter de lidar com a responsabilidade de suas escolhas, abusando dela psicologicamente.

Nenhum relacionamento é o ideal em que se oferece o que é agradável de oferecer e se recebe o que se deseja receber. Lidamos com pessoas e pessoas exigem muito e o tempo inteiro reagimos com hostilidade a tudo que nos incomoda e com agressividade o que nos machuca em qualquer grau. Dessa forma, somos todos agressores, mas também recebemos dos outros, então somos vítimas também. Nenhum relacionamento é perfeito, todos têm exigências, queixas, expectativas, esperança e alguns pontos agradáveis que nos fazem lutar para manter o relacionamento.

Sendo o relacionamento o resultado da interação entre duas pessoas, reflete as personalidades de ambas. Algumas cedem mais, outras exigem mais e criamos a ideia de que quem cede mais é a vítima, a mais fraca, a abusada e, portanto, a dependente. Veja mais em (colocar link de visão de mundo em que há guerra e os mais fortes ganham, então todos querem ser os fortes; dualidade; vítima e agressor)

Por sermos seres sociáveis, precisamos nos socializar e ter vínculos afetivos. Portanto, somos todos dependentes uns dos outros. Contudo, não nos sentimos presos a ninguém e temos a sensação de sermos independentes e livres por não sentirmos nada muito intenso por ninguém e isso acontece porque temos várias fontes de socialização bem como não temos um cérebro compulsivo. Com parentes, familiares, amigos, colegas e vizinhos, até mesmo com desconhecidos enquanto esperamos em uma fila, conseguimos atenção, afetos e sensação de bem-estar. É por termos tantas opções de bem-estar que não nos sentimos presos a nenhuma especificamente.

O dependente é aquele em que a fonte de bem-estar é uma ou poucas. Por isso ele precisa de muito dessa fonte. É como se fosse a soma de todos os bem-estares de um independente em uma única fonte. O apaixonado não quer atenção de outra pessoa ou ficar com outra pessoa, ele quer somente uma pessoa assim como o viciado consegue o bem-estar apenas na droga. A droga gera uma sensação agradável que é maior do que as fontes que ele possui de satisfação sendo o motivo pelo qual ele possui a dependência.

Para ficar mais claro, imagine que você tenha 25 relacionamentos. São 25 pessoas que podem lhe gerar bem-estar. Se uma não está disponível, você busca outra. Se um amigo não está disponível, você busca por outro amigo e, assim, consegue o seu bem-estar. No viciado, por algum motivo, essas fontes de prazer não são suficientes. É como se o cérebro dele estivesse desligado ou deprimido: apesar de as fontes existirem, ele não consegue nenhum ou pouco bem-estar nelas. Assim, enquanto você consegue bem-estar constante de várias fontes para lhe manter equilibrado e feliz, o viciado tem apenas uma. Enquanto você tem 25 fontes de felicidade e as consome regularmente, o dependente tem apenas uma e, muitas vezes, é uma fonte poderosa (intensa) que lhe dá uma sensação de bem-estar similar à soma de toda as suas 25 fontes. O que você consegue constantemente, o dependente consegue eventualmente. Por isso para você cada fonte de prazer é sentida como opcional, visto que se uma não estiver disponível você busca em outra, enquanto para o dependente não existe outra opção. Ademais, o que ele sente, pelo menos no início, é como se fosse todos os seus bem-estares somados conferindo uma sensação de intensa felicidade (alegria e euforia). Daí ser tão difícil de largar a dependência: onde ele vai arrumar bem-estar?

O cérebro do dependente precisa ser reprogramado para conseguir se ativar em várias partes com estímulos diversos tal como o seu que é ativado com qualquer dos 25 indivíduos com quem você se relaciona. É preciso tratamento para mudar a forma de um cérebro funcionar e leva tempo.

A reabilitação possui várias ferramentas para este fim, contanto, é voltada para dependentes químicos, aqueles em que a fonte de prazer é um objeto, não uma pessoa. E o que fazer com os cérebros de dependentes emocionais? Terapia. E para os apaixonados? Esperança.

Vemos o vício como algo ruim, portanto, deve ser mudado. Então se criou centros de reabilitação. Mas vemos os dependentes emocionais como indivíduos isolados que não geram tanto dano quanto os viciados em químicos, então julgamos como ser problema apenas deles individualmente. Então julgamos que eles devam procurar ajuda porque acreditamos que a melhoria será somente para eles. Porém, já para o apaixonado, criamos esperança de que um dia ele será feliz com a pessoa que se ama porque imaginamos uma linda história de amor e que o amor que ele sente é bom. Sendo bom, por que tratar? Em vez de indicarmos terapia ou tentarmos ajudar a sair dessa compulsão romântica, nós os incentivamos criando histórias, ilusões e esperança de quem um dia, em algum momento, ele terá a pessoa que deseja. Nosso sonho, nossa crença, nossa esperança, o nosso julgamento. Enquanto isso ele sofre com a realidade oposta das histórias que contamos e da esperança de que damos fazendo-o viver um inferno.

Somos sentimentos traduzidos em pensamentos e praticados em comportamentos. Sejam ilusórios ou verdadeiros, nós os refletimos através de nossos corpos e sentenciamos a todos que são julgados por nós com os NOSSOS sentimentos, NOSSOS pensamentos, NOSSO comportamento demonstrando ausência de compreensão para com o outro bem como o nosso egoísmo de que querermos impor aos outros as nossas vontades, nossas crenças e nossa esperança.

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