As pessoas querem felicidade e satisfação. Muitas vezes se entristecem com a realidade e, por isso, ignora-la é uma maneira de acreditar que a felicidade seja possível.
Isso é o que muitos pais fazem: ignoram a realidade, mentem sobre o mundo para os filhos visando a felicidade desses. Além disso, contam muitas histórias fantasiosas e afirmam que acreditar nelas é algo saudável e bom.
De histórias de papai Noel e coelho da Páscoa a ideias de que todos encontrarão um amor verdadeiro necessariamente do sexo oposto, que casarão, terão filhos e serão felizes para assim como a ideia de que as pessoas sejam boas e que deuses ou outras coisas idealizadas os ajudarão e lhes darão o que desejam são histórias amplamente propagadas por adultos para outras pessoas incluindo as crianças.
Mas como acreditar em fantasias pode ser benéfico se enfrentar a realidade é inevitável?
Diante da infelicidade e da péssima previsão sobre o futuro, acreditar que a felicidade seja possível, ainda que através de sonhos e histórias fantasiosas, é uma saída para manter a esperança ainda viva. Visto que a esperança é o que nos motiva a viver e buscar o que desejamos, não tê-la significa não haver motivo para viver. Então, se não há esperança, não há motivação para se esforçar e continuar vivendo e, assim, abrir mão de tudo passa a ser a ideia mais lógica e o resultado disso é a morte.
São os indivíduos vivos que se propagam e se proliferam mantendo a espécie existindo no mundo. Se alguém morre por algum problema corporal antes de conseguir criar os seus descendentes, a sua linhagem genética não se prolifera e, assim, este problema que acarretou na morte deste indivíduo, deixa de existir. Portanto, aceitar a realidade e perder a esperança é um péssimo resultado que aumenta a chance de o indivíduo não se reproduzir e, assim, acreditar em delírios e sonhos é mais benéfico uma vez que o mantém vivo, mesmo que confuso, com raiva ou triste. Na natureza, o que importa é a sobrevivência, não a qualidade de vida. Desta forma, esta característica que gera muitos problemas é responsável por manter muitas pessoas vivas aumentando a chance de terem descendentes e, assim, esta característica é mantida através da biologia.
Contudo, o benefício é bom principalmente para a espécie, mas nem tanto para o indivíduo. Para todos que desejam sobreviver, ter esta característica é melhor do que não tê-la, contudo, ao tê-la, viver em contradições, confusões, caos e conflitos é o resultado dessa sobrevivência que custa bastante. Assim, ignorar a realidade tanto quanto o possível é um modo de aumentar a sobrevivência momentaneamente e chegar ao próprio momento e, assim, de momento em momento, aumenta-se a expectativa de vida e chance de reprodução passando esta característica também.
No entanto, a realidade não é alterada ao ser ignorada e a pessoa não vive feliz por não saber o que acontece no mundo. Enquanto o aparente objetivo da espécie é de se perpetuar, o objetivo de um indivíduo é ser feliz, algo muito diferente e pessoal.
Para alguns, ter comida, abrigo e cama é suficiente, para outros, precisa ter companhia e laços sociais, para outros, ter mais roupas e uma posição social… Cada um tem a sua lista de prazeres e alguns possuem mais do que os outros de acordo com suas características e habilidades de satisfazer as suas próprias vontades. Dessa forma, existem pessoas mais felizes do que outras.
É interessante perceber que as pessoas mais felizes possuem menos filhos e mais tranquilidade enquanto as pessoas mais infelizes possuem mais filhos. isso acontece porque as pessoas mais felizes se planejam mais e escolhem quantos filhos ter, com quem e quando além de investirem em uma quantidade menor de descendente. Já as mais infelizes vivem em angústia e desesperadas para se sentirem melhor, agem de modo mais impulsivo incluindo no quesito sexual. A chance dessas pessoas transarem sem se planejarem ou se precaverem é menor, o que aumenta a taxa de gravidez e nascimento fazendo-as terem mais sucesso reprodutivo classificando-as como boas para a espécie uma vez que ajuda na manutenção da mesma.
A sobrevivência significa sobreviver às adversidades, não ser feliz apesar das adversidades e isso, para a natureza segundo o olhar humano, é benéfico. Contudo, não é o que buscamos para nós individualmente em nossas vidas. Não queremos sobreviver, queremos viver.
A felicidade está na capacidade de perceber o mundo como é e conseguir formas de se realizar nesta situação.
A felicidade “real” (diferente de alegria que é uma euforia mais fugaz) é advinda da sabedoria. A felicidade tola, ou alegria, é advinda da ignorância, dos sonhos, da esperança e da passividade. São momentos curtos de alegria ou alívio da angústia e é uma felicidade infantil. Tal como um bebê que necessita que alguém lhe dê tudo o que deseja por ser incapaz de fazê-lo por si mesmo, a pessoa não cria a sua felicidade, mas pede e espera que outro a faça para si. Esta pessoa não lida com o mundo, ela vive em uma bolha onde alguém lhe provê tudo o que deseja, isto é, alguém lhe dá felicidade.
Esta é a perspectiva de todas as pessoas porque todos nós passamos por esta fase. É durante o crescimento que aprendemos que temos de esperar, que temos de aprender e que os outros não têm o dever de satisfazer as nossas vontades. Ou, pelo menos, era para aprendermos.
Passamos os primeiros anos da vida com essa crença e, por isso, as mantemos. Se sempre funcionou, por que mudar? Assim, começamos a sentir que essa crença não é válida para a vida toda quando temos irmãos para dividir atenção dos pais, quando nossos pais têm trabalho e não pode ficar conosco, quando queremos algo que nossos pais não conseguem comprar. Isso mostra como o nosso aprendizado de que o mundo não é como queremos que seja é oriundo dos limites que nós e nossos pais têm. Eles não nos mimam por falta de opção, eles não nos dão tudo o que queremos porque não têm a capacidade para tal. Os limites que encontramos em nosso crescimento são os limites de nossos pais (cuidadores/responsáveis). Se eles podem nos dar o que queremos, eles nos dão e mantemos a crença de que alguém seja responsável por nossa felicidade.
É a partir daí que se criou o conceito de mãe como alguém cuidadosa, carinhosa e que mima o filho. Sendo regularmente a responsável pela criança, é tida como o responsável comum/padrão/normal, e, tendo a crença de que alguém deve satisfazer o filho (cuidar dele), ela é vista como alguém que deve satisfazer o filho, uma crença mantida e exigida por muitas pessoas chegando ao ponto de desconsiderá-la como um ser humano e transformá-la em uma escrava ou objeto que serve exclusivamente para satisfazer os filhos. Assim, os desejos e vontades da mão são ignorados e apenas os desejos dos filhos são vistos e cobrados à mãe.
A mãe cuida do filho por instinto, veja mais em O amor de mãe, nutrindo essa crença que, quando ela tem a capacidade de dar tudo o que o filho deseja, o mima transformando-o em um adulto prejudicial à sociedade como visto em Filhos mimados.
Aprendemos que não somos o centro das atenções porque não recebemos tudo o que queremos e, dessa maneira, somos forçados a olhar para os outros e ampliar os nossos horizontes para além de nós mesmos englobando as necessidades e vontades daqueles que convivem conosco por criamos vínculos. Assim, ficamos preocupados com o bem-estar deles e os objetivos deles passam a ser nossos também por essa via indireta, afinal, se nossos pais têm o que querem, podem nos dar o que queremos. Um aprendizado demorado e inconsciente.
Esta crença de que alguém deva nos satisfazer se junta à preguiça que temos e reforça a primeira ideia. Dessa forma, esperar que alguém nos satisfaça é mais agradável do que buscarmos formas de nos satisfazer e só passamos para esta etapa quando não aguentamos mais esperar.
Esta crença é tão difundida que acreditamos que exista uma alma gêmea no mundo que seja a nossa cara metade, alguém que nos completa dando-nos tudo o que queremos e não conseguimos obter por meios próprios. Um delírio advindo de uma crença infantil, incapacidade de criar a própria satisfação e distorção da realidade para que continuemos acreditando que seremos felizes. Algum dia.
A crença e esperança de que haja alguém capaz de lhe dar essa felicidade, que se possa tirá-la do mundo real e viver num mundo onde haja felicidade eterna não é rara. Crianças em corpos de adultos vivem ignorando e repudiando a realidade e o mundo por este não ser o que desejam em vez de tirar proveito e fazer a própria felicidade baseada nas possibilidades reais. Elas esperam que alguém lhes faça felizes em vez de construir a própria felicidade e, certas de que a sua crença é um fato, exigem que alguém as satisfaçam cobrando dos outros o que criaram em suas cabeças. Por que temos de satisfazer os outros?
Um grande grupo de sonhadores que vivem fora da realidade, que fazem discursos utópicos e afirmam delírios rotineiramente, como a ideia de que “o passado era melhor”, que “a humanidade está progredindo” ou de que “as pessoas são altruístas”. Delírios… Fantasias… Loucuras… Ideias desconexas e sem lógicas que exprimem os desejos daqueles que as discursam que, quanto mais repetidas, mais são acreditadas. Além disso, as pessoas que acreditam nestas ideias se associam com seus similares ouvindo a mesma ideia da boca de outros e, assim, sente que não é apenas um desejo, mas algo que existe, um fato comprovado visto que outras pessoas corroboram para este pensamento.
Multidões se unem em torno de uma ideia comum, sendo fantasiosa ou não, e, neste caso, aglomerações são criadas dando mais importância a tais loucuras enquanto afirmam ser realidade e, para comprovar que é verdadeiro, precisa de provas. Assim, exigir que as pessoas se comportem conforme a crença delas, independentemente do motivo que as leve a agir dessa forma, como por através de ameaças, essas multidões têm a sua “comprovação” e reforçam o próprio delírio mais uma vez. Quanto mais se deseja algo, mais se acredita nisso e maior é a sensação de que seja algo real, não emocional ou mental.
A realidade é o que acontece. Fantasia é desejo. Tudo que não acontece não é realidade, portanto afirmá-los é um delírio de que uma ilusão (desejo) seja real.
Veja mais em A confusão de um pensamento e Por que confundimos desejo com realidade?
As suas crenças são reais ou imaginárias?
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