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Delírios saudáveis

O ser humano possui delírios e, ainda que estes sejam considerados como argumentos ou fatos irreais, o próprio ser humano não condena o delirante. Isso significa que alguns delírios são considerados saudáveis.

Uma característica do ser humano é a capacidade de distorcer a realidade, acomodando-a em suas crenças, as quais levam em consideração os seus desejos. Dessa forma o ser humano consegue idealizar um passado que não existiu e compará-lo ao presente existente. Com isso chega à conclusão de que “nunca foi tão ruim como se é agora” ou que “no passado as pessoas eram mais felizes” ou “no meu tempo era melhor”. Todas essas ideias são baseadas num período temporal que não aconteceu, ou seja, a pessoa idealiza um tempo no pretérito e acredita ser real, como se tivesse realmente acontecido.

Como não aconteceu, não é real. Como a pessoa acredita que algo não real seja real, é um delírio. Contudo, apesar de ser um delírio, ninguém é internado num hospital psiquiátrico ou encaminhado para algum psiquiatra. Na verdade esse delírio é tão comum que é visto como real ou saudável porque outra característica do ser humano é acreditar que o que é normal, comum ou padrão seja bom, certo ou aceitável. Pode-se ver que quando não sabemos o que fazer nós observamos os demais e replicamos o comportamento alheio sem sequer analisar ou questionar. Replicamos o que a maioria faz porque temos essa crença de que a maioria está correta, embora a história prove e mostre que isto seja um equívoco, haja vista que culturas são alteradas, mudando o comportamento padrão, certo ou aceitável.

Replicamos o que vemos porque é fácil e funciona. Isso nos isenta da sensação de responsabilidade, o que acaba com a possibilidade de nos sentirmos culpados por fazermos diferente e termos resultados ruins. Caso repliquemos e não tenhamos sucesso acreditamos que podemos culpar e responsabilizar outra pessoa, aquela de quem copiamos.

Nós também replicamos porque o comportamento que predomina funciona, ou seja, possui resultado dentro das condições em que estamos inseridos (sociedade). Assim não precisamos gastar tempo nem investir em pensamentos ou análises para desenvolvermos um plano para atingir os nossos objetivos. Ao replicarmos nós otimizamos, já que alcançamos o objetivo sem sequer precisarmos nos planejar para isso.

Outro motivo pelo qual replicamos é que grande parte de nós funciona de maneira inconsciente. Nós replicamos sem nem percebermos que replicamos. Nós olhamos um determinado padrão de comportamento e fazemos igual. O nosso inconsciente nos leva a agir assim.

Ademais, replicar o comportamento também significa que somos aceitos na sociedade por agirmos de maneira similar e, como dependemos da sociedade para vivermos nela, nós optamos por replicarmos para que sejamos aceitos pelos demais. Isso nos ajuda a manter o vínculo social, o qual é indispensável para a sobrevivência social.

Com tudo isso passamos grande parte da vida apenas copiando dos outros, seja em comportamento, falas, conhecimentos, opiniões e outros. Copiar é uma maneira de otimizar o processo de escolher o que ou como fazer algo. Também é uma maneira de nos manter inseridos na sociedade e auxilia a nos sentirmos bem emocionalmente ao não nos sentirmos sobrecarregados com todo o processo de análise e pensamento para se tomar uma decisão.

Acontece que o ser humano é falho e algumas falhas são padrões, ou seja, são comum nas pessoas. Por serem comuns não são vistas como falhas, mas como algo normal e, como o normal é percebido como certo, comum e aceitável, por que tentaríamos corrigir o normal?

A sociedade se dá conta dessas falhas com o tempo e então muda. O que era considerado normal e aceitável começa a ser visto como errado e inaceitável. Assim o padrão de comportamento é alterado gradualmente o tempo inteiro. Talvez um dia esse delírio comum e padrão seja visto somente como falha ou delírio e pessoas com essa característica sejam tratadas de maneira adequada. Até lá essa característica é tida como normal, certa e aceitável. Como se corrige ou trata o que é considerado norma, comum, certo, aceitável ou padrão?

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