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Conselhos dos mais velhos

Há quem dê conselhos (sem ser pedido) sobre como cuidar ou criar os filhos alegando que “eles estão vivos (então seus conselhos são benéficos e eficazes)”. Se este argumento for aceito, então tudo que funciona é eficaz, portanto deve ser mantido ou replicado. Isso significa que nada deva ser alterado se não houver morte, ou seja, nada deve ser atualizado ou otimizado. Para que mudar os conteúdos acadêmicos ou a didática se funcionam uma vez que a maioria dos alunos passa de ano? Para que criar novos medicamentos se os atuais são suficientes para uma longevidade (sobrevivemos) e este é o argumento usado para oferecer conselhos matriarcais? Para que estudarmos mais se o que temos já permite uma população longínqua?

Se o objetivo é sobreviver, a otimização é desconsiderada, bem como satisfação, felicidade ou facilidade. Mas o ser humano não é assim: buscamos exatamente isso tudo, não apenas a sobrevivência. Queremos a felicidade de viver. Sobreviver é o primeiro passo, mas não é o único. Portanto meios que nos levem a sobreviver são bem vistos quando a sobrevivência está ameaçada. Quando a temos assegurada buscamos meios que nos deem mais prazer e satisfação. Exemplo disso é a quantidade de comida que comemos: não comemos com o objetivo de sobreviver, mas para termos prazer, satisfação, felicidade. Se o argumento da sobrevivência for válido, então comer muito e ficar obeso é benéfico uma vez que sobrevive-se à obesidade.

As pessoas que usam de tal argumento para validar a sua autoridade no assunto são quem desejam mostrar ser mais do que são. Um profissional não argumenta ideias assim porque ela já é reconhecido como sábio na área em que exerce a sua profissão. Porém a pessoa que não possui nada que a qualifique o suficiente para que outras aceitem ou concordem com os seus conselhos ou ideias tende a usar artifícios que distorcem os fatos visando convencer os demais de que ela é qualificada para oferecer sugestões. Assim ela mostra o próprio sucesso de criar os filhos já que estes não morreram, neste caso específico. Para quem deseja criar os filhos, fazendo-os chegar à vida adulta, esse argumento é convincente, contudo muitas pessoas não querem somente isso, desejam o melhor para os seus filhos e o melhor não é somente sobreviver e crescer, mas envolve outros aspectos como aprendizado, desenvolvimento intelectual e emocional dentre outros. Por conta disso a premissa que sustenta a ideia de qualificação para oferecer concelhos (de ter criado os filhos) perde a validade.

Tentar se mostrar qualificado é uma característica do ser humano porque buscamos aprovação, admiração e atração dos demais indivíduos da sociedade (para compreender o motivo leia Hipocrisia: certa ou errada? Boa ou ruim? Por quê?). Por isso enaltecemos as nossas qualidades e desvalorizamos os nossos defeitos (ou os escondemos): buscamos aprovação e admiração alheia.

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