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Conseguimos perceber a realidade ou nos afogamos em nossos próprios sentimentos?

Em 2021 comprei um colchão de mola com espuma na parte superior com garantia de 5 anos na ortobom. Na semana seguinte, recebi o colchão e a minha primeira surpresa desagradável aconteceu: o colchão era muito mais firme/duro do que eu tinha testado na loja, portanto, não era o mesmo objeto que eu tinha comprado. Falei com um vendedor sobre a situação e ele afirmou que era assim mesmo: “o colchão é mais firme quando novo. Após um tempo de uso, ele fica mais macio.” Eu contestei porque o colchão era tão duro que eu não conseguia dormir nele, então, como ele amaciaria com o tempo se não seria usado?

O vendedor ofertou o colchão do mostruário, o exato colchão que eu testara e gostara. Confesso que estava com preconceito por ser mostruário, no entanto, fora com ele que meu corpo se sentiu bem. O vendedor realizou a troca na semana seguinte e fiquei feliz com o meu colchão novo.

Após um ano, a espuma começou a ficar deformada formando um buraco onde o peso da pessoa se concentrava. Mesmo fazendo o rodízio para mudar as regiões que recebem mais peso, o colchão permanecia deformado. Após um dia inteiro, ele não se recuperava e, ao dormir, ele já estava fundo na região central onde havia mais concentração de peso. O resultado de noites neste colchão deformado foi de muitas dores da lombar. A cada nova noite, mais dor surgia.

Eu fiz contato com a loja reclamando do problema. O representante da loja afirmou receber a reclamação e me disse que, segundo a política da empresa, eu receberia um contato de alguém da empresa em até 30 dias úteis para marcar uma vistoria por alguém da empresa. Foram 30 DIAS ÚTEIS dormindo num colchão ruim e que me dava muitas dores.

Remédios caros foram comprados e usados, médicos consultados e alongamentos feitos. Apesar disso tudo, as dores se intensificavam e andar passou a ser um desafio. Trabalhar era impossível e apenas sobreviver a tanta dor era o único objetivo.

Após 29 dias úteis, uma pessoa me ligou para agendar a vistoria. Feliz que o problema seria corrigido, anotei o dia da visita (poucos dias depois). Para a minha surpresa, o gerente da loja física com quem eu fiz a compra do colchão fora a pessoa a fazer a vistoria. Segundo ele, “é normal haver uma acomodação do colchão. Não há nada de errado. É a acomodação normal do colchão.”

Cheguei a ficar espantada com tanta cegueira. Ele se fez de bonzinho e disse que, por prezar muitos os clientes, faria a troca do colchão mesmo sem haver qualquer problema. Além disso, era fim de ano e a loja estava ocupada com compras e entregas, então o meu pedido demoraria mais porque seria realizado depois das encomendas o que me mostrou que a loja visa a venda por ser a fonte de renda. Uma vez vendido, a loja não se importava mais com o cliente e deixá-lo esperar não era um problema. Dessa forma, era necessário esperar o colchão novo chegar

Finalmente o colchão novo chegou e a minha coluna começou a voltar para o lugar. Em duas noites, toda a dor sumiu e fiquei feliz. Acreditando ser um incidente isolado, estava esperançosa que tudo seria bom dali para frente, no entanto, dois meses depois, o colchão apresentou a mesma deformação na espuma e todo o procedimento burocrático de agendar vistoria, avaliar e esperar um novo colchão aconteceria. Desta vez eu fiz uma reclamação no RECLAME AQUI e a empresa entrou em contato comigo para tentar resolver o problema.

Eu contei tudo o que já tinha acontecido bem como achava um absurdo ter de esperar tanto por uma vistoria visto que o produto gerava dor. Após explicar e contar a minha história, a resposta da ortobom fora “isso é com a loja física. Entre em contato com ela.” Frustrada, tentei resolver como anteriormente e, mais uma vez, uma longa espera. Porém, desta vez, escolhi deixar de ser burra e decidi por resolver a situação.

O colchão da ortobom fora caro, R$3000,00 em 2021 e gastei de mais R$1500,00 com consultas e medicamentos que não sanaram a dor. O meu senso de certo e errado tinha certeza de que o erro era da ortobom e que eu estava certa. A ortobom tinha de trocar o colchão por um do mesmo modelo, mas que não deformasse. No entanto, valia a pena dormir no colchão e sentir dor par aprovar que eu estava certa? Na melhor das hipóteses o colchão seria trocado por um que não teria problema e conservar-se-ia tal como o mostruário. Valia a pena?

O que você acha? O que você faria?

Ao escolher deixar de ser idiota, passei a dormir em um colchão de espuma que eu tinha em casa porque fazia a minha coluna doer menos e compraria outro colchão em uma boa loja. Dessa maneira, o colchão passou a não ser mais usado e, consequentemente, a deformação fora sumindo aos olhos nus.

Fui a outra loja, a sleep time, onde fui muito bem recebida, o vendedor explicou tudo, me deu o contato pessoal para qualquer dúvida e achei um colchão perfeito. Era mais barato, com um atendimento muito melhor e recebi um bom protetor de colchão como brinde. O colchão novo chegou em uma semana e o coloquei na minha cama após retirar o primeiro. O colchão da ortobom ficou em pé, apoiado na parede e o novo na cama.

Se o gerente da loja da ortobom não enxergava o buraco na espuma quando estava evidente e concluía não haver problema algum, certamente ele não enxergaria nada num colchão não usado e afirmaria que não tinha problema.

Antes de aposentar o colchão ruim, eu tirei fotos e filmei como provas do que eu falava. Ao longo das conversas com a emprese através do RECLAME AQUI eu mostrei as fotos e, tal como o gerente, alegavam que não havia problema ou que o problema não era com ela.

A ortobom ligou após mais de 30 dias úteis para marcar a vistoria e, novamente, o gerente da loja onde comprei foi o fiscal. Como eu tinha pensado, afirmou que não enxergava problema algum e, assim, ele não poderia fazer a troca gratuita. Inclusive contei à ortobom para contratar cegos para fazer as vistorias porque eles jamais conseguiriam ver algum problema e, sendo assim, a ortobom não teria de fazer troca alguma.

Mais uma vez ele se vez de bonzinho enquanto falava contradições. Além do colchão, resolvi pedir a nota fiscal, necessária para ir à justiça se fosse necessário, e ele afirmou que não a tinha. Ademais, o pedido do colchão fora feito no nome da esposa dele, o que achei estranho também e reportei tudo no RECLAME AQUI onde vi muitas outras queixas contra a empresa sem solução.

O gerente disse que trocaria por consideração a mim, porém, desta vez, criaria um termo onde eu assinaria para que o colchão não fosse mais trocado. Onde foi parar a garantia de 5 anos??? Estressada, não conseguia mais dar conta sobre este assunto e pedi para que meu marido o fizesse por mim.

A outra opção era vender o colchão, o que levaria tempo e não recuperaria o meu dinheiro investido no objeto, e eu não tinha muito tempo porque eu mudar-me-ia em poucas semanas para outro estado. O gerente disse que poderia comprar o colchão por R$1100,00 o colchão novo que fora comprado por R$3000,00. Parece até golpe!

No final das contas, assumi o prejuízo financeiro e comprei um colchão de uma empresa que tem qualidade e resolvi o meu problema.

Num passado mais distante, eu iria até o fim para provar que eu estava certa e não perder dinheiro. Mas, qual é o sentido de gastar a vida para ter dinheiro? É melhor usar o dinheiro para ter uma vida!

A vida é cheia de histórias filosóficas e reflexivas que não percebemos por estamos inseridos profundamente nelas. Não enxergamos o problema inteiro ou todas as suas partes, apenas sentimos incômodo (qualquer sensação de que não gostamos) e agimos de forma proporcional à intensidade dele visando reduzi-lo ou acabar com ele.

Somos tão emotivos que não percebemos a situação em que estamos, apenas desejamos satisfazer a emoção que temos no momento sem nos planejarmos para um futuro mais distante. Por isso que muitas vezes afirmamos que a prática é diferente da teoria. O que consideramos teoria é a nossa opinião quando temos sentimentos mais calmos e conseguimos pensar, enquanto a prática é o momento da ação em que não dá tempo de pensar conscientemente para então agir.

A teoria que não explica a prática não é uma teoria, apenas uma ideologia. A teoria é a explicação do que acontece de forma concreta advinda justamente da análise da prática.

Diante da escolha intelectual entre ser feliz ou ter razão muitas pessoas escolhem a primeira opção alegando que a felicidade é mais importante ou porque deseja que esta seja a resposta, apesar de, na prática, não agirmos assim. Até mesmo quem analisa o ser humano pode acreditar que a busca da felicidade é a mais óbvia, contudo, quando a pergunta chega em forma de um problema, tendemos a escolher a razão. Por quê?

Quando nos deparamos com a pergunta “ser feliz ou ter razão?” a pergunta é simples e direta. O nosso raciocínio se concentra em tais opções analisando de forma calculada e “fria” a questão e criando a resposta mais lógica. No entanto, quando a pergunta surge disfarçada de situação em nossa vida, as nossas emoções são outras e com intensidades diferentes afetando a nossa capacidade de pensar e julgar. São nessas horas em que agimos de forma explosiva, exagerada ou prejudicial porque não estamos pensando com a cabeça, apenas reagindo sem pensar (conscientemente).

As nossas emoções são os nossos guias e nossos donos. Nós as obedecemos quando são muito intensas ou desconhecidas. Logo, quando provocadas, agimos de forma a obedecê-las e, quem não gosta da sensação de ser trapaceado ou prejudicado tende a lutar para evitar tal sensação. Assim, a pessoa busca provar que é a vítima e que deve ser ressarcida, situação que reduz ou acaba com a sensação de ser prejudicado.

Outra resposta que explica este comportamento é a busca pela sensação de segurança que é mais intensa do que a busca pela felicidade e, nesta situação, manter a opinião e provar aos outros que se está certo é uma forma de reafirmar a sua opinião e, portanto, se assegurar de que ela está correta.

Além disso, queremos “ter razão” para convencer os demais de que a nossa opinião é um fato e verdade e, assim, eles desejarem o mesmo objetivo que nós, ajudando-nos a consegui-lo.

Ademais, ter a opinião reconhecida aumenta o nosso valor social, o que aumenta a chance de conseguirmos convencer os outros de fazer o que nós queremos.

E ainda, com mais valor social, a nossa autoestima e segurança sobre nós mesmos (confiança) aumentam, elevando o bem-estar.

Ademais, numa cultura que glorifica a vítima, enaltecendo-a como se fosse uma entidade endeusada que deve ser venerada e satisfeita, a busca para comprovar a impotência da vítima e o seu papel como tal passa a ser fundamental sendo mais um motivo que reforça o comportamento.

Muitos motivos, um mesmo comportamento. A vida não é linear onde uma ação gera uma reação e esta reação advém única e exclusivamente da primeira ação. A vida é um turbilhão de acontecimentos e influências que se interferem e geram resultados variados. Temos resultados iguais para situações diferentes e resultados diferentes de situações iguais (aparentemente).

Essas mudanças, que parecem ser aleatórias, são apenas resultados lógicos de situações que não compreendemos ou não temos todas as informações a respeito. Assim como uma reação química onde há os reagentes e o produto, sendo este lógico por conhecermos a reação química, o mesmo acontece com a vida, no entanto, muitas vezes desconhecemos os reagentes e verificamos somente o resultado. Daí que “não tenha lógica”, “é complexo demais”, “é aleatórios” e outras ideias que tentam manter a nossa crença de que sabemos tudo e, quando nos deparamos com algo que não sabemos, afirmamos que este algo não possui uma lógica em vez de afirmar que nós desconhecemos o que o gera.

Então, diante dessa pergunta ilustrada num problema prático e exemplar, qual é a melhor resposta, a que satisfaz o ego e estressa ou um leve prejuízo financeiro e felicidade?

Todos buscam o prazer, o qual possui felicidade como uma de suas definições e, assim, todos buscam a felicidade. Fato. Quem luta para provar que está certo ou impor a sua opinião (ter razão) acredita que é uma maneira de se conseguir a felicidade através as sensação de segurança, que gera bem-estar/prazer ou através do poder sobre o outro respectivamente. Portanto, para estas pessoas, ter razão é uma forma de ser feliz (ainda que não tenha uma intensa ou grande sensação de satisfação/prazer).

A pergunta “ser feliz ou ter razão?” não é uma frase de exclusão, mas de opções que podem existir juntas ou separadas seguindo a lógica matemática. É ignorando esse conhecimento que concluímos ter de escolher um dos dois.

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