A espécie humana é animal tal como outras espécies. Somos impulsivos, reativos e instintivos. Agimos sem pensar embora acreditemos que pensemos.
Admiramos a inteligência por favorecer o conhecimento uma vez que este aumenta a expectativa de prever o futuro. Assim, podemos nos planejar bem como podemos controlá-lo, mesmo que parcialmente.
Fazemos muitas afirmações sem que haja alguma constatação real e acreditamos em muitas ideias sem fundamento ou evidência provando que não somos inteligentes. Acreditamos no que nos faz sentir bem e absorvemos informações do mundo independentemente se são verdadeiras ou não. Se passamos a nossa infância ouvindo que devemos estudar para termos um bom emprego, nós acreditamos nesta ideia e investimos nos estudos se desejamos um bom emprego; se convivemos com pessoas que falam a língua portuguesa com muitos erros, acabamos por cometê-los também. Se nos sentimos amparados e mais calmos quando acreditamos quem alguém controla tudo e cuida de nós, nós acreditamos; se acreditamos que agir com bondade nos faz ser uma boa pessoa, mais querida e que receba um retorno futuramente, nós o fazemos.
Isso mostra que não temos tanta inteligência quanto desejamos ter. A nossa inteligência é rudimentar e ainda nem engatinha. Tiramos conclusões precipitadas porque primeiro criamos a conclusão, que é a interpretação inconsciente que fazemos, e depois buscamos por argumentos que defendam a nossa conclusão visando convencer os demais de que estamos certos e que, por isso, devem concordar conosco num processo psicológico distante do intelecto.
Ainda assim, afirmamos que somos muito inteligentes enquanto lidamos com a realidade distante do que entendemos e controlamos provando que não somos tão inteligentes assim.
Temos várias formas de aprendizado sendo a inteligência, a mais rara. A união entre informações criando explicações ou esquemas esclarecedores ou o processo de criação de informação com hipóteses, testes e conclusões são as formas de inteligência. Não importa o assunto, inteligência é criar alguma ideia e por isso a criatividade é tão indispensável à espécie.
Absorver conteúdos ou repetir até conseguir fazer corretamente são maneiras mais tradicionais de aprender visto em entidades educacionais, livros, noticiários dentre outras maneiras. Nós absorvemos o conteúdo e depois o replicamos.
O primeiro método de aprendizagem do ser humano é igual a muitos outros animais: observação e repetição. Olhamos e tentamos fazer o mesmo. Isso não é apenas para comportamentos, mas para ideias e até sentimentos. Quando convivemos com alguém que sempre demonstra raiva a uma pessoa ou a um grupo específico, gradualmente absorvemos a sua raiva e passamos a ter raiva dessa pessoa ou grupo também sem jamais tendo os conhecido.
As revoltas e guerras são nutridas por discursos que enaltecem mentes desprovidas de inteligência e corações orgulhosos indignados por não serem vistos como reis que acreditam ser. Conseguimos odiar negros sem motivos, mulheres sem razão, uma nação inteira ou até mesmo continente. Odiamos sem saber o que eles fizeram para nos prejudicar. Nós apenas colocamos a responsabilidade de nossas infelicidades nas costas deles e, então, por serem os responsáveis por nossas dores, devem sofrer ou ser eliminados. E o que eles fizeram de fato? Provavelmente nada.
Conseguimos acreditar que mulheres existam para servir ao homem se crescermos numa família que prega e instaura essa ideia; nós podemos odiar homens por termos mães que tiveram péssimas relações com eles e que, portanto, concluam que todos os homens não prestam; podemos absorver o conceito de que uma religião seja a correta se crescermos sobre a tutela de pessoas restritas à religião bem como ter raiva das demais religiões que, por exclusão, são tidas como erradas.
Não questionamos, não pensamos a respeito. Apenas ouvimos e repetimos na forma mais animal que temos de aprendizado. E é por isso que seguimos leis e regras sem entender o motivo pelo qual existem, seguimos tradições apenas por serem tradições (repetição) e ideias. É também por isso que absorvemos e repassamos o que aprendemos ao longo da vida quando se é repetido muitas vezes como as crendices sem fundamento. Veja mais em “Por que chegamos a uma idade que paramos de conseguir acompanhar novas tecnologias?”
Essa característica permanece na espécie até hoje. Não temos o hábito de questionar e mesmo quem o faz constantemente não o faz para todos os assuntos porque o ser humano não disponibiliza dessa capacidade. Então, tal como absorvemos as informação do que é certo e errado atualmente, a sociedade fazia no passado e, assim, ideias sem fundamento e sem provas era afirmadas como se fossem verdades e disseminadas restringindo a sociedade e dominando os indivíduos. Estas são as ideologias disfarçadas afirmativas e hipóteses tidas como teorias na distorção mais clássica que o ser humano faz para tentar transformar a realidade na história que lhe agrada.
Há um tempo negros eram escravos por definição e isso não era questionável, apenas aceito. Por causa disso as pessoas agiam de modo a tratá-los como escravos sem sentimentos ou com desprezo haja vista que a função do escravo era de satisfazer aos seus donos.
A ideia de que a mulher servia para procriar sem merecer qualquer consideração também se alastrou por muitas sociedades sem que houvesse alguma prova. Era apenas desejos de algumas pessoas em forma vaga de ideia que foram ditas e repetidas muitas vezes até que a absorção da ideia fosse forte o suficiente para que acreditassem nela sem questionar.
É por conta dessa característica que se fala que “uma mentira repetidas muitas vezes se torna uma verdade”. Ela jamais tornar-se-á verdade, no entanto, após absorvida é tratada como se fosse verdade moldando a cultura do povo que absorveu a ideia.
Atualmente muitas crenças já mudaram e, da mesma forma que a humanidade tinha certeza sobre os conceitos antigos em tempos antigos, provavelmente nós agimos e pensamos da mesma forma. Se tínhamos certeza sobre os conceitos séculos atrás e temos certeza agora sobre os atuais, então é altamente provável que os nossos conceitos de hoje sejam vistos como errados no futuro tal como os antigos são vistos como errados atualmente.
A mudança de leis e regras da humanidade prova como não existe certo ou errado absoluto, mas relativo ao pensamento social da época ou lugar. Contudo, mesmo sabendo que não podemos acreditar em tudo com segurança e garantia porque sabemos que o que acreditamos hoje pode ser tido como errado posteriormente, nós agimos dessa forma, com convicção e confiança sobre o que falamos e acreditamos.
Nós nos apegamos às nossas crendices com certeza e segurança porque não temos a habilidade de analisar e pensar, tampouco conseguimos lidar com o medo que sentimos quando não confiamos nas crenças que temos. Se não há certo ou errado, o que devemos fazer? Como devemos nos comportar? Para onde devemos ir? Devemos casar e ter uma família ou não ter compromisso parental?
Diante de tanta incerteza, o medo surge, a insegurança cresce e a nossa incapacidade de analisar e tomar a melhor decisão nos faz sentir pressionados e desorientados. Qual é a melhor opção?
O medo de não sabermos o que fazer pode nos fazer paralisar e, então, temos uma atitude ainda pior. Ademais, quando o medo é demais se torna pânico e a nossa capacidade intelectual de pensar e buscar uma saída para o problema é bloqueada. Numa situação de pânico, a pessoa se torna ainda mais reativa e impulsiva, sem pensar nas consequências de suas ações e, por isso, acaba por tomar decisões prejudiciais que atrapalham ainda mais.
Para evitar esse caos emocional onde não sabemos o que sentimos, não fazemos ideia do que fazer e ficamos profundamente angustiados, criamos regras e moldes a serem seguidos.
As regras nada mais são do que repetir a escolha feita por alguém. Não precisamos pensar, apenas repetir e, assim, evitamos o pânico. Dessa forma, as regras nos ajudam muito favorecendo um bem-estar emocional.
Por outro lado, as consequências de se seguir as regras também aparecem e, quando as regras são derivadas de fantasias e desejos, geram muito incômodo e insatisfação a muitas pessoas e o preconceito é um exemplo claro disso como os negros que eram escravos e mulheres que eram serviçais procriadoras.
Com a união destes grupos contra à ideia que criara algumas leis que geravam prejuízo a eles, conseguiram derrubar tais leis e amenizar as consequências. Ainda assim, existe a dissipação da ideia na sociedade que, tal como tradições permanecem por séculos, é provável que essas ideias também permaneçam por bastante tempo moldando o comportamento social, afinal, somos repetitivos, não questionadores.
Vivemos em nosso tempo, em nossa cultura e nossa sociedade. Não criticamos o que existe, nós aceitamos. Entendemos que a normalidade é algo que se repete com alta frequência e que, sendo constante, é aceitável ou correto o que nos leva a crer que comportamentos sejam aceitáveis em algumas culturas enquanto são repudiados em outras. Calcinha fio dental mostrando a bunda nas praias é normal no Brasil, mas visto com maus olhos em outros lugares. Shorts e saias curtas são aceitáveis atualmente, mas eram vulgares décadas atrás e espancar o cônjuge é crime, um comportamento natural, normal, aceitável e até incentivado décadas atrás.
Culturas diferentes provavelmente devem ter conclusões similares enxergando o comportamento brasileiro como íntimo demais por haver muito contato físico e muito barulhento por falarmos alto. Talvez sejamos repudiados por sermos vulgares demais, mas nós não temos a mesma opinião por estarmos inseridos nesta cultura. É por conta do comodismo e da ausência de questionamento que aceitamos o que é repetitivo e assim conseguimos entender melhor as vítimas de relacionamentos abusivos que não os enxergam como tais porque para elas sempre (ou quase sempre) foi assim e, sendo sempre assim, é repetitivo e o repetitivo é o normal, o aceitável.
É por isso também que não conseguimos questionar sobre nós mesmos: se fomos sempre nós mesmos, então sermos nós é normal e, sendo normal, é o certo. Logo, estamos sempre certos. Da mesma forma, se pensamos sempre da mesma maneira, existe o padrão, a repetição e, sendo a repetição, é normal e aceitável. Então, por que questionar ou analisar o que é normal e certo?
Não analisamos o certo. Buscamos entender o que nos incomoda para encontramos uma forma de controlar e minimizar o desconforto, logo, estudar o que é repetitivo ou certo não é um objetivo humano. Apenas o que nos desagrada, o que está errado e buscamos entender somente para que possamos consertar.
Somos animais instintivos que reagem por impulsos impensados. Nós não buscamos responsabilidade nem incentivamos a responsabilidade. Um exemplo disso são os pais que não exigem responsabilidade dos filhos e apenas esperam que eles amadureçam sem que façam algo para alcançar tal objetivo. Os pais querem que os filhos se tornem adultos, mas não querem criar um adulto, desejam que os filhos cheguem à esta fase por si mesmos. Não cobram responsabilidades e, quando enrolados em problemas, os pais vão aos seus socorros impedindo que sofram com as consequências de suas escolhas, ou seja, os tratando como bebês impotentes. Esperamos que a biologia gere os estímulos necessários para o amadurecimento em vez de provocá-lo porque é mais fácil, porém, depende da “sorte” de o filho amadurecer por si mesmo.
Quando bebês ou crianças, temos ataques e chiliques por não termos o que queremos. Fracos e impotentes, só percebemos a opção de obedecer aos pais por serem maiores e mais fortes. Como lutar com um gigante com o dobro do nosso tamanho? A organização e hierarquia familiar é mantida baseada na força física dos responsáveis sobre os demais sendo, portanto resultado da biologia da espécie, não de uma análise sobre qual é a melhor organização social.
Quando entramos na adolescência passamos a ter mais desenvoltura física para confrontar nossos tutores e nós o fazemos expondo as nossas opiniões que nada mais são do que os nossos sentimentos.
Queremos ser vistos como pessoas fortes e independentes e admirados por nossas capacidades, então quando alguém não concorda com a opinião que temos sobre nós mesmos, na adolescência ou não, nós sentimos raiva porque estão errados agindo de forma errada e não aceitam que estejam errados.
São grupos rebeldes assim que questionam por conta da insatisfação que sentem que a sociedade muda gradualmente. Revoltas e motins são orquestrados para mudar leis, implementar novas e eliminar antigas as atualizando com a idade mental da sociedade que pressiona para a sua mudança.
Manifestações feitas por crianças ou velhos não são comuns porque são justamente grupos fracos que não têm poder de impor nada a ninguém. Assim como as crianças obedecem aos pais por ser mais fraca, os idosos também são mais vulneráveis e sem capacidade de se imporem. Então devem obedecer para evitar uma provocação que gere um comportamento agressivo daquele que é mais forte e o domina.
As mudanças sociais acontecem através da criação e popularização de tecnologias e novas ideias e levam muito tempo. Como visto em “Por que chegamos a uma idade que paramos de conseguir acompanhar as novas tecnologias?” (link de 9 de abril de 2025), os jovens têm mais capacidade de criarem ideias bem como têm a mente mais livre de padrões de pensamento e crenças os tornando mais maleáveis a novas regras. Ademais, são o grupo que critica as antigas ideias e tem mais energia para mudar conceitos sociais e por conta disso tudo as novas gerações, os jovens, são quem fazem a mudança. É por isso que mudanças sociais demoram tanto tempo: precisamos de muitas gerações novas para mudar as tradições prejudiciais antigas.
Veja mais em Hipocrisia: certa ou errada? boa ou ruim? Por quê?