O cancelamento é uma ação conjunta de um público sobre o seu líder. Ao ficar desgostoso com o líder, o público se une e tenta boicotar as ações do líder ou mesmo a sua manutenção.
Um líder sabe que é dependente de seu público, afinal, como ser um líder se não houver um público para guiar? É a conscientização deste poder que faz o público conseguir poder e confrontar o líder numa ação conjunta muito visto na história da humanidade com nomes diferente. Motins, rebeliões, tumultos e outras nomenclaturas mostram que uma sociedade, o público, sabe que, se unido, possuem mais poder que o líder ou grupos menores sendo o motivo pelo qual muitas pessoas se unem: elas querem mais poder para se impor sobre outras pessoas.
O mesmo comportamento é visto no público de artistas que tentam manipular o artista para que haja conforme o público deseja. Não apenas artistas são manipulados dessa maneira, mais reis, rainhas, príncipes, princesas, imperadores, czares e todos os líderes de alguma coisa estão sob a ordem do público. Se o público, sendo uma sociedade inteira, afirma que um determinado príncipe precisa se casar com determinada pessoa, ele o faz mesmo sendo a contragosto porque saber que precisa agradar o seu público para que não seja deposto. Uma história similar aconteceu, aparentemente, com o príncipe Charles, de Gales, e a senhorita Diana. Mesmo amando outra pessoa, ele se casou com a escolhida pelo público.
As manipulações acontecem de todos os lados e de todas as formas, das mais sutis às mais ameaçadoras e violentas. Assim, tanto membros da corte como da mídia e o público se interinfluenciam numa dança que nunca acaba e sempre visa conseguir mais satisfação pessoal. Com um público desejando acompanhar a história de duas pessoas apaixonadas na corte, o príncipe fez o possível, dentro de suas capacidades, para entregar esta história de amor. Sempre que o casal brigava, desapontava o público e o príncipe perdia apoio do público diminuindo o seu poder social.
Numa escala bem menor e com mais liberdade, os artistas encaram esta mesma situação. Dependente de seu público para trabalhar e se manter, o artista deve agir de forma a agradar ao público e, quando não o faz, recebe críticas e intenção de um motim.
Diferente da política onde todos são envolvidos mesmo não concordando ou não querendo, o público de um artista não é tão grande, o que o torna menos poderoso. Ainda assim, sem público o artista não existe como tal na sociedade, então ele é tão refém do seu público quanto um político de sua sociedade.
Com o pensamento dualístico e extremo na política, a sociedade se divide facilmente em dois grupos fortes capazes de destronar um rei. Basta uma pequena manipulação no grupo que o apoia para que o monarca caia. Já para o artista, isso não acontece com tanta facilidade.
Seu público é composto por muitos grupos diferentes, então se um deles o cancelar, nome dado ao motim artístico, o artista permanece sem muito impacto em sua vida porque ele possui outros grupos como apoio.
Ainda assim, vemos em programas e revistas de fofocas opiniões de pessoas sem qualquer importância criticando ou elogiando os artistas e alguns são muito afetados, principalmente quando crescem no meio artístico.
Sem uma personalidade já definida e sem poder em sua própria vida para se impor, facilmente aceitam as condições impostas vivendo numa novela sem fim onde devem sempre agradar ao público. É com isso que muitos se sentem presos e oprimidos: eles sentem que devem ser de um jeito porque o seu público pede enquanto eles mesmo desejam fazer coisas diferentes.
Segundo algumas fontes, a atriz Jenifer Aniston reclama de tantas pessoas a pressionarem para engravidar. Com uma personalidade formada e metas na vida, ela consegue se manter firme em SUA decisão em vez de ceder aos fãs. Já para adolescentes e jovens adultos que cresceram trabalhando na área, isso é mais difícil. tratados como crianças, as quais devem obedecer, eles trabalham e ganham público sendo “boas pessoas”. No entanto, uma hora não aguentam mais e explodem reclamando de não terem o direito de serem quem são e terem de ser a pessoa que os outros desejam que sejam. Neste momento, começam a agir como desejam e o público fica descontente criando uma ruptura ou cancelamento deste para aquele.
O pública passa a falar que o artista mudou muito, que o enganou, que está drogado ou alucinado, tudo para salvar a imagem que têm sobre o artista a salvo. Vale mais a pena acreditar que a realidade seja resultado de um agente externo como alguma droga do que perceber que ele não é como acreditava-se que fosse. Esse pensamento humano está mais claro em O poder corrompe?
Para artistas mais velhos, com a personalidade formada e com mais pulso firme, a pressão do público é pouca fazendo com que as tentativas de cancelamento sejam ridículas.
Por isso o cancelamento é um ato idiota que não surte efeito porque parte de pessoas sem poder de manipulação. Elas acreditam que têm poder de manipular ou persuadir o artista, contudo, são fracas demais. Elas acreditam tanto que possuem algum poder que ameaçam os artistas falando “se você agir assim, vou lhe cancelar”. É menos uma pessoa de milhares ou milhões que sustentam o artista, ou seja, são insignificantes. Ademais, o artista não tem muito poder, apenas uma capacidade maior de persuasão e manipulação sobre o público do que pessoas anônimas.
O pode é a capacidade de uma pessoa fazer as demais agirem como ela deseja, portanto, o maior poder que se tem é aquele que age no sentimento mais intenso de uma pessoa que, no ser humano, é o medo. Temos muitas artimanhas para manipular e dissuadir dos outros, contudo, o medo ainda e mais fundamental na espécie razão pelo qual é o mais utilizado como fator manipulador.
Quem não obedece a criminosos armados? Quem ignora o sequestrador de uma pessoa amada? Somos móvitos primeiramente pelo medo, posteriormente por outros sentimentos que nos conferem mais satisfação.
Medo da dor, medo de perder, medo de ser ridicularizado, medo de ser repudiado, medo de ser envergonhado, medo de sofrer, medo de morrer, dentre tantos outros. O artista não inflama nenhum destes medos, então não tem muito poder. Ele alegra a plateia e, por isso, é desejado, não temido. Como se depõem uma pessoa que não causa prejuízo? Como cancelar alguém que não machuca nem zomba dos outros? O poder do artista está na manipulação sutil e escondida em seus discursos e em suas ações.
O poder crescer inversamente proporcional ao medo. Quanto mais medo se impõe, mais poder se tem. Contudo, quanto mais medo uma população possui, mais oprimida ela fica e a consequência de pessoas oprimidas é justamente o motim, o cancelamento ou de a deposição. Portanto, quanto mais poder, mais perigo.
Como a política é a comandante de grupos fortes como as forças armadas, ela detêm naturalmente o poder sobre o povo porque, se o povo não agir conforme o político manda, ele pode usar das forças armadas para oprimir o povo e fazê-lo obedecer.
Embora a política e a arte tenham os seus mestres, líderes e pessoas em evidências, são muito diferentes, contudo, parece que as pessoas não perceberam isso ainda.
A união de pessoas fracas para tentar formar uma forte é comum na humanidade. O aumento do poder social através de criação e aumento de grupos é uma das maneiras que o ser humano tem para mandar em outros e já se fez funcional diversas vezes na história da espécie, na alçada da política.
O fato é que quem tem poder, manda; que não tem, obedece para não sofrer as consequências ou se afasta ficando neutro nas raras possibilidades. É simples, desde a criação da espécie até os dias atuais e provavelmente manter-se-á assim pelos próximos milhares de anos visto que é uma característica biológica.
O ser humano obedece por medo e, assim, quem tem o poder o mantém com mais facilidade e até mesmo o aumenta porque quanto mais poder se tem, mais medos pode impor fazendo o público ser mais obediente e tendo mais pessoas tementes.
Por isso o cancelamento, o mesmo comportamento de motim para pessoas públicas fora da política, chega a ser ridículo. Visando o mesmo objetivo, de controlar a pessoa em evidência, o público age da mesma maneira, no entanto, o relacionamento do artista com o público não é o mesmo que do político para com o público e, portanto, não gera o mesmo resultado.
Uma coisa é a política, outra coisa é o lazer. A primeira funciona estimulando o medo enquanto a segunda estimula a felicidade. Opostos, não iguais.