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Argumentos idiotas para descredibilizar o outro

As pessoas possuem opiniões sem saber seus fundamentos. Criam argumentos para convencer outros a concordarem com elas e, por tal motivo, a contradição costuma ser rapidamente identificada quando os argumentos são investigados.

Qual o sentido de uma pessoa buscar opinião médica e criticar o profissional? O lógico é não o procurar, mas as pessoas não são lógicas, são passionais.

Existe quem vá ao um médico para pedir um remédio. Então, se o profissional não o receitar o paciente fica irritado por se sentir contrariado, já que não conseguiu o seu objetivo. O paciente se sente ofendido por ver que um profissional discorda da opinião dele e, como o profissional é quem tem o poder de receitar um remédio, isso significa que a opinião do paciente é desprezada e a do profissional é tida como correta. No entanto, este não é o único motivo para uma paciente se sentir ofendido por um médico.

Ouvir “um ginecologista não pode dar opinião [sobre menstruação] por não ser uma mulher” não é muito raro. O argumento é: somente quem passa pela situação pode falar a respeito. A partir daí conclui-se:

                – uma mulher que nunca passou por um parto não pode falar sobre parto;

                – uma pessoa que nunca votou não pode falar sobre voto;

                – quem não tem filho não pode opinar sobre o tema;

                – quem não é professor não pode ensinar (sobre qualquer assunto);

                – quem não é político não pode falar sobre política.

O argumento parece sem fundamento, já que a sociedade é constituída de pessoas diferentes que expões seus pontos de vista diversificados.

Sobre o caso citado: a pessoa se sente ofendida (desvalorizada) quando um homem (ainda que tenha estudado o assunto) fala sobre um assunto que ela supõe saber mais. Então para se sentir mais valorizada que o outro (o homem) tenta desvalorizá-lo, tirando seu crédito social. Se o argumento da pessoa for válido e ele não puder opinar por não ser mulher, então um pediatra também não deverá fazer o mesmo por não ser criança.

Para evidenciar como funciona esse sistema de defesa de opinião sem saber a origem dessa, a pessoa que defende que o ginecologista não pode opinar por não ser mulher defende que o pediatra pode opinar apesar de não ser criança (???) e para defender (convencer os outros) busca outro argumento de que ele já foi criança. Este argumento permite chegarmos a outras conclusões:

                – ele já foi criança, então pode opinar sobre criança

                – quem já foi criança pode opinar sobre criança

                – todos os adultos já foram crianças

                – todos os adultos podem opinar sobre crianças

                – então não faz sentido busca um pediatra se qualquer adulto pode opinar sobre criança.

Perceba como o argumento não sustenta a ideia mostrando que a pessoa deseja apenas convencer os demais que a sua opinião desconhecia é válida/certa/coerente/lógica, embora não seja.

O fato é que profissionais são pessoas que estudaram o assunto em questão de uma determinada perspectiva. O ginecologista pode entender muito mais sobre menstruação e cólicas do que mulheres, ainda que nunca tenha experimentado tais sensações. Ainda que seja uma médica da área (uma ginecologista), as cólicas sentidas por elas podem não ser as mesmas das da paciente, o que significa que ser médica ou médico não influencia neste sentido. Além disso, o médico estuda a fisiologia e a reação individual dos pacientes são desconhecidas. Ele pode ter uma ideia ou noção, mas saber corretamente é improvável. Ademais, o médico fornece informações, não é detentor de toda a sabedoria. A sensação do paciente não é inferior (desmerecida) em relação ao conhecimento do médico e, caso o paciente não se sinta bem com o profissional, buscar outro médico é importante porque a relação entre profissional e paciente (ou cliente se for outro profissional) é de suma importância, já que relacionamentos são a base do ser humano (suportamos doenças quando temos apoio e auxílio social, mas sucumbimos à saúde física quando vivemos no isolamento social). Um paciente que se sente confortável com o médico responderá melhor às perguntas do profissional e provavelmente contará outros sintomas, o que oferece mais informações para a avaliação profissional favorecendo a precisão do diagnóstico e tratamento.

Isso tudo significa que:

                – profissionais, inclusive médicos, são consultores. Caso a dúvida permaneça, busque outros.

                – profissionais não conhecem tudo sobre o assunto. Eles sabem mais sobre uma perspectiva do assunto. Não se ignore perante um profissional.

                – ninguém lhe impede de estudar o assunto em caso de dúvida. Use das ferramentas que possui para investigar por si o que puder. Observe, anote, busque informações, leve para o profissional.

 

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