Muitas pessoas dependem de outras, necessitando da “boa vontade” alheia de lhes dar o que desejam. Elas não conseguem por si mesmas o que querem e, como deixar de desejar não é uma opção e aceitar a realidade de que não terão o que desejam é difícil (quase impossível às vezes), o que lhes restam é imaginar que algo ou alguém lhes darão o que querem. Isso significa que as suas mentes imaginam situações para alimentar a esperança de que as suas vontades serão atendidas, aliviando a ansiedade, acalmando e dando prazer (prazer em imaginar ter satisfação). Este processo é natural do ser humano.
Quando o desejo é intenso, a imaginação corre solta e mais ideias irreais são criadas em suas mentes visando manter o fio de esperança de que terão o que querem ainda existente. Assim, apelam para ideias que possam sustentar as suas visões, como a de pessoas boas, nobres ou altruístas.
Acreditar que há pessoas que desejam o bem do outro é acreditar que alguém as satisfará, mantendo existente a esperança de conseguir chegar à situação que almeja quando alguém de “bom coração” a prover isso.
Dessa forma, imaginar que o ser humano seja bom e altruísta é uma das maneiras para tal. Mas, o ser humano é altruísta ou nós que desejamos que isso seja verdade?
O próprio pensamento e desejo de que o ser humano seja altruísta é proveniente do egoísmo, uma vez que a pessoa deseja ganhar algo para si através do altruísmo alheio.
Analisando os fatos, o ser humano é altruísta? Votamos em quem consideramos que nos dará o que desejamos; trabalhamos para conseguir o dinheiro que queremos; compramos o que nos satisfaz; escolhemos a melhor opção para nós; buscamos a nossa felicidade e satisfação; opinamos conforme as nossas vontades; procuramos o emprego que acreditamos nos saciar; mudamos de cidade ou de país visando uma vida melhor para nós mesmos… Onde está o altruísmo na vida, no cotidiano?
Existem pessoas que fazem pelos outros, mas não é a maioria.
Não trabalhamos para outra pessoa ou para contribuir com a sociedade, trabalhamos para obter dinheiro e, com este, comprar o que queremos, como conforto, serviços e bens, nos dando prazer.
Não escolhemos o candidato que investirá numa área diferente da nossa. Escolhemos quem nos dará mais benefícios.
Quando estamos no mercado, escolhendo os produtos que mais nos agradam dentro do que podemos e desejamos comprar/pagar. Não fazemos compras para pessoas mais pobres que nós ou para beneficiar o vendedor ou o produtor.
Quando nos mudamos, procuramos uma melhor qualidade de vida para nós, não em promover ou melhorar este novo local. Se assim fosse, os lugares mais pobres e com menos fartura estariam cheios, mas observamos que as pessoas migram para locais que acreditam ter mais comodidades e satisfação.
Há quem diga que o ser humano na natureza seja bom, mas de onde essa ideia veio? Programas de reallities shows mostram que o ser humano em estado natural é movido por instinto para conseguir o que deseja visando a sua satisfação, a qual tem o resultado de sobrevivência em primeiro lugar, e de conforto/prazer em segundo. Ele mata para comer, se move pra achar mais comida, desmata, acaba com frutas, com competidores por alimentos e terras e caça. Embora tal comportamento seja mais próximo de um estado natural, estas atitudes não são totalmente naturais, já que não estão no estado natural totalmente, uma vez que há equipe de filmagem, algum tipo de proteção e possível socorro em caso de emergência. No ambiente natural não teria nenhum tipo de segurança e isso já faria as pessoas agirem de forma diferente, já que o medo seria maior.
Pode-se observar pela história que o ser humano está cada vez mais “civilizado” e menos natural. E, como era o estado mais próximo do natural? Guerras para tomar o que é do outro, estupros para se impor ou por desejo sexual, brigas para obter poder, mortes e torturas dos derrotados, dores, humilhações, ofensas, envenenamentos, alianças para derrotar inimigos, escravidão dos mais fracos no sistema social… Quanto mais natural é o humano, mais brutal e menos altruísta o é.
A nossa ideia de natureza bela, linda e perfeita é imaginação. A natureza é a briga pela sobrevivência e recursos e podemos ver isso nos animais e em outros reinos. Primatas vivem em grupos, mas há guerras, alianças, favores sexuais e estupro. Há traições e brigas. Os indivíduos se reúnem para formar grupos, mas continuam indivíduos, lutando por si mesmos dentro dos grupos dos quais fazem parte. Eles lutam a favor do grupo quando o objetivo é o mesmo que o seu, sendo uma aliança com o grupo e o ser humano faz o mesmo.
Tudo mostra que o ser humano não é altruísta de natureza, mas muitos não aceitam esta realidade porque vai contra o desejo intenso e irracional que têm: de que alguém os proverá de alguma forma. É a mesma perspectiva de uma criança que deseja ser amada, uma vez que alguém amá-la significa que prezará por seu bem estar, e motivo pelo qual tantos buscam amor(es) na vida.
O ser humano é altruísta, ou isso é um desejo disfarçado em afirmativas sem provas ou evidências?
Veja mais em Hipocrisia: certa ou errada? Boa ou ruim? Por quê?, Por que confundimos desejo com realidade? e A confusão de um pensamento.