Muitas pessoas falam que não existe uma verdade absoluta, mas verdades relativas.
Verdades são fatos, não interpretações. Estas são relativas e dependente da capacidade daquele que a faz. A verdade não possui interpretações, ela é um evento, um fato, um acontecimento, algo inanimado, sem capacidade de pensar, sentir ou reagir. A verdade não se frustra nem se magoa por não ser interpretada como é. Quem se frustra ou se magoa são pessoas que esperam ou desejam algo e não conseguem tê-lo.
Interpretações são diversas. Verdades não. Existe ou não existe uma pedra. Não existe um meio termo de existir pela metade, pode existir ou outra interpretação. Usamos de nossos sensores e capacidade cognitiva para interpretar o mundo. Podemos ver uma pedra e, por causa do sensor visual, concluirmos que a pedra exista, seja real ou verdadeira. Não tem como alegar ideia diferente disso.
Uma pessoa que consegue ver a pedra e senti-la com as mãos constatará que a pedra não apenas existe, mas descrever a sua textura, a qual sempre existiu. Assim a verdade é que a pedra existe e tem uma textura determinada. A verdade não mudou. A pedra permanece a mesma. O que mudou foram as percepções humanas, neste caso advindas do corpo, que permitiram obter mais informações (características) do objeto, que é a pedra.
Pode aparecer outra pessoa que veja cores e fale que a pedra é laranja. Talvez ela não conheça a textura da pedra ou possa não tocá-la. Então essa pessoa conclui que a pedra existe e é laranja. A verdade mudou? Não. A percepção humana mudou.
Podem surgir outras pessoas e novas características da pedra serem descobertas pela espécie, porém esta permanece como está. Ela é verdade e a percepção humana sobre ela que muda de acordo com novas possibilidades de estudar o objeto (a pedra) através de seus sensores corporais ou outros produzidos, como máquinas ou ferramentas que façam medidas de outras dimensões.
A cada nova descoberta a verdade se mantém como sempre foi, porém para a espécie parecer ter algo novo, parece ser uma nova verdade porque acreditava que a verdade era as informações até então percebidas.
A descoberta não é criar algo novo, mas ter conhecimento do que era existente (fato) e desconhecido. Vírus e bactérias sempre causaram doenças, mas a sua descoberta que fez com que compreendêssemos as doenças e suas características. Elas já existiam, eram verdade. Entender o seu funcionamento não mudou a verdade, mas a nossa percepção sobre essa.
O mesmo se deu com as demais descobertas. Já se acreditou que pragas e inundações fossem obras de deuses e descobriu-se que não. A “nova verdade” explica esses fenômenos de forma diferente. A Terra era o centro do universo e de repente mudou, passando a circular ao redor do sol. Isso teria acontecido se a verdade mudou, porém é mais provável que o ser humano tenha mudado a sua opinião sobre o assunto baseado em outras informações. Nesta “hipótese” a verdade não mudou, apenas a percepção humana.
Quando alguém fala que existem muitas verdades ela quer dizer existem muitas percepções. A falta de compreensão de si mesma e da língua portuguesa a fez cometer esse erro. Primeiro ela toma como verdade a própria interpretação (opinião) dos fatos. Ao se deparar com alguém que interpreta diferente e, portanto, tem uma “verdade” diferente existe um conflito. Para evitá-lo alega-se que ambos estão certos e que as duas verdades estão corretas. Quando o conflito é intenso demais para ser ignorado brigas e lutas se iniciam para impor a verdade de um sobre o outro e exemplo disso é uma pessoa falar “mulheres são feitas para servir o homem” e outra pessoa falar “a mulher é um indivíduo e, como tal, é responsável por mais ninguém”. Não há como ambos estarem certos e as duas verdades existirem. As verdades só prevalecem quando não geram um conflito direto, imediato ou intenso.
O segundo erro está ligado à falta de compreensão da língua portuguesa. Não saber a definição de uma palavra ou não dar a um objeto uma definição faz com que a pessoa use outras palavras no lugar. Como estas possuem seus próprios significados, ao serem usadas erroneamente faz com que a frase construída não tenha o efeito que a pessoa falante deseja emitir, ou seja, a pessoa fala uma coisa, mas quer dizer outra. Isso faz com que o ouvinte absorva o conteúdo ouvido e o interprete conforme as definições das palavras usadas. Então a palavra verdade, que se remete a algo existe, próprio, fato, evento, acontecimento ou algo irrefutável, fica num contexto contraditório porque a própria palavra diz que não se pode ser contestada ou mentida conforme o restante da frase diz ser. O ouvinte percebe essa contradição e questiona o emissor (quem falou) expondo a contradição.
Então surge o terceiro errado, que também está associado à interpretação: o emissor primário (quem falou primeiro) recebe o questionamento e o interpreta como ataque pessoal, reagindo de maneira agressiva para “se defender” ou “defender a sua ‘verdade’”. Quando a pessoa interpreta de maneira correta, compreende que o questionamento está direcionado ao que foi falado, não ao que ela quis dizer. Neste caso a pessoa pode explicar melhor a informação que desejou passar facilitando a compreensão do ouvinte.
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