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A presunção da consciência

Se consciência é saber o que acontece, como saber que o outro sabe?

O ser humano rotineiramente alega que animais não possuem consciência, como se não soubessem o que se passa e somente reagem aos estímulos baseados em seus instintos. De onde se tirou essa afirmação? Como se sabe que animais não possuem consciência, que não pensam, não controlam, não planejam? Não sabemos.

Partimos do pressuposto que nós, seres humanos, somos superiores ou melhores. Então o que valorizamos em nós é visto como único, excepcional, valioso e o que nos torna superior ou melhor. Esse pressuposto advém do desejo de que isso seja verdade porque nós queremos ser os melhores. Então, se valorizamos a consciência, o controle do corpo apesar dos instintos ou qualquer outra característica, como o “amor de mãe” (veja amor de mãe), nós “concluímos” que seja um fato ou constatação, não um desejo. Para entender melhor como esse pensamento acontece veja A confusão de um pensamento e Por que confundimos desejos com realidade?

Muitas “conclusões” do ser humano são fundamentadas dessa maneira, não sendo conclusões proveniente de fatos e unidos por lógica, mas de crenças e desejos pessoais.

Nós não sabemos tudo sobre nós mesmos individualmente e prova disso é o chamado inconsciente ou subconsciente, deixando claro que não temos ciência de tudo sobre nós. Ademais agimos por instintos e às vezes, somente às vezes, agimos com consciência e controle. A maior parte de nosso comportamento é instintivo provando a nossa inconsciência e “animalização”.

Se nós, individualmente, não sabemos ou entendemos sobre nós, como garantir o que o outro pensa, sente ou que tenha consciência do que faz? Podemos supor, obter evidências e até exigir que o outro tenha consciência e, portanto, responsabilidade (dentro do conceito de que o responsável é aquele que escolhe ativamente a opção feita), mas concluir que isso seja verdadeiro (fato) é impossível no momento.

A vontade de sermos melhores, superiores ou somente diferentes não nos torna nada disso. Somos animais como os demais, talvez com um pouquinho mais de noção sobre o mundo ou sobre nós mesmos e com algum nível de controle próprio, ainda que primitivo.

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