Muitas pessoas possuem o pensamento dualista que possui apenas duas opções, sendo necessariamente opostas e excludentes o que limita o estudo sobre o assunto em que se opina.
Além disso, os “pensamentos” são, na verdade, expressão dos sentimentos em forma de palavras. Assim, desejos e medos são revelados de forma indireta com as opiniões delas.
Como visto em A confusão de um pensamento e Por que confundimos desejos com realidade, as pessoas percebem as coisas e pessoas através de vários sensores incluindo os sensores físicos e, tendo uma sensação agradável, concluem que tal coisa ou pessoa seja boa. Caso a sensação seja desagradável, a conclusão é de que esta coisa ou pessoa seja ruim. Ademais, os sentimentos são expressos em forma de ideias e crenças como a crença de que haja pessoas boas porque deseja-se que isso seja real, ou seja, a pessoa deseja que haja pessoas boas e “conclui” que há. Além disso, com este mesmo “raciocínio” a pessoa pode criar a crença que desejar como a ideia de que haja mais pessoas boas do que ruins no mundo. Não há sequer uma pesquisa para avaliar se essa opinião é realidade provando que é exclusivamente oriunda de um desejo de que seja assim.
Associado ao pensamento dual, existem pessoas boas e pessoas ruins, nunca uma pessoa que tenham qualidades e defeitos. O máximo que o pensamento dual suporta é a predominância aceitando que haja pessoas predominantemente boas, que raramente faz coisas ruins, e pessoas predominantemente ruins, que raramente faz coisas boas.
Ao conviverem com uma pessoa e se sentirem bem, a opinião sobre esta é positiva, boa, e a pessoa assimila a imagem da pessoa a algo bom (sua opinião a seu respeito). Então cria-se o pensamento de que esta pessoa seja boa e, portanto, esta pessoa não possa ser ruim. Dessa forma, perceber que esta pessoa faça coisas ruins é difícil porque a pessoa já parte do pressuposto de que esta pessoa seja boa. Além disso, ainda que veja provas de que esta pessoa não seja boa por ter feito coisas ruins, a opinião não muda: mantém-se a ideia de que a pessoa é boa e que somente neste momento era fora ruim, ou seja, abre-se uma exceção à regra para que a “premissa” (desejo de acreditar que a pessoa seja boa) mantenha-se real.
O mesmo vale para o oposto: ao ter uma opinião negativa sobre alguém, a pessoa não a atualiza mesmo vendo provas de que esta pessoa seja boa. É por conta dessa ausência de pensamento e dominância de emoção que boatos se espalham e, ao “limpar” o nome da pessoa, nada volta a ser como antes porque o público acredita na primeira informação que tem acesso, não nas que têm fundamento lógico ou embasamento em fatos. Daí a importância social de não ser alvos de boatos e a preocupação de ser sempre bem-visto: para criar fofocas positivas a seu respeito porque, mesmo tendo provas de que não seja uma boa pessoa, o que mais vale é a primeira narrativa, não as provas.
Existe uma crença de que “a ocasião faz o ladrão” como uma ideia de que uma pessoa ruim agirá de forma ruim quando tiver oportunidade de agir dessa forma sem que seja pego enquanto a pessoa boa não roubará independentemente da situação. É como se a pessoa já tivesse o seu caráter moldado e fosse imutável. Esta crença é uma forma de expressar a ideia de que temos de que as pessoas tentarão pegar para si o máximo que puderem sem que sejam vistas conseguindo vantagem pessoal sem que os demais saibam, então ela consegue a vantagem e mantém a sua reputação.
Essa ideia é muito comum e câmeras de segurança que hoje em dia são companheiras de muitos lugares, públicos e privados, é a prova disso. A câmera não faz nada, apenas grava as pessoas que passam por sem ângulo de “visão” e isso é o bastante para inibir ladrões oportunistas que agem apenas na sombra e não oferece risco de violência porque eles mesmo não têm poder de controlar a vítima.
Essa ideia é oriunda da observação com o sentimento da própria pessoa que, muitas vezes, obtém ilícitos quando têm oportunidade. Então, ela mesma é o exemplo de que este comportamento seja real. Quem nunca teve vontade de pegar algo que não é seu quando ninguém olha? A questão é: quem age assim? Muitas pessoas. São tantas pessoas e tão comum que a sociedade consegue concluir que a vítima é quem “dá mole” para o ladrão, ou seja, a regra é tentar pegar o que se pode e, por isso, cada um deve ser responsável por seus objetos e não os deixar fora de vista. Assim, quando alguém sofre um furto, recebe críticas de “por que você não olhou o seu objetos? Por que você não o guardou? Por que você não se certificou que ele estava guardado?”
Para este tipo de roubo, o furto, é necessário que não haja vigilância, então, é necessário ter a oportunidade para furtar, ou seja, é impossível que aconteça sem que haja a ocasião. Como ladrão é quem rouba ou furta, então é preciso que haja a ação de roubar ou furtar e, assim, precisa-se da oportunidade para que quem deseja furtar o faça. Logo, a ocasião “faz” o ladrão, apesar de que a ocasião ser passiva e não fazer nada, quem faz é a pessoa. Uma pessoa que deseja furtar e não furta tem os mesmo ímpeto de quem o faz, contanto, ela pode contar a sua vontade e agir de forma diferente ou contrária ou não encontrar uma oportunidade para cometer o furto. Qual é a diferença entre quem furta e não furta entre essas pessoas? A execução da ação de furtar.
“A ocasião faz o ladrão”, isso é óbvio. Se um ladrão é uma pessoa que roubou, então necessariamente é preciso que a pessoa tenha cometido o ato e só é possível que ela o faça se houver a oportunidade (ocasião). No entanto, nem todos que possuem a oportunidade para agir de uma determinada forma tida como errada a faz, portanto, somente ter a oportunidade não é suficiente. É preciso ambos: oportunidade e caráter para cometer a ação.
Questões surgem quando começamos a estudar e nos aprofundar no assunto. Se roubo é tomar o que não é seu, então todas as ações onde pegamos o que não é nosso é roubo/furto. Compreendendo a ação tida como errada e crime, podemos concluir que roubar uma bala seja errado, um furto; que pegar uma roupa do irmão sem permissão seja errado, um furto; que pegar um pão escondido seja errado, um furto; que pegar dinheiro que não e seu é errado, um furto; que desviar dinheiro (pegar de um lugar sem permissão e realocar para outro) é errado, um furto; que invadir um lugar (pegar o local para si) é um roubo… Quem nunca pegou uma bala escondido? Quem nunca pegou algo dos irmãos sem permissão? Duvido muito que haja respostas negativas e honestas/sinceras sobre tais perguntas. Portanto, podemos concluir que somos todos ladrões? Alguns em pequena escala, outros em grande escala; alguns aprenderem que não se deve fazer isso e não o fez mais, outros continuam com tal comportamento. Sendo o roubo/furto a ação de uma pessoa, a pessoa necessariamente é um ladrão por tê-lo cometido, então TODOS que já agiram assim em algum momento é ladrão.
Como vamos conseguir viver bem acreditando que todos desejam roubar algo nosso? Não suportamos viver em alerta o tempo inteiro e este é o motivo pelo qual criamos regras e leis: são comportamento que impomos aos demais para que nós, individualmente, tenhamos mais paz e não vivamos desconfiados e com medo. Compreenda melhor em “Hipocrisia: certa ou errada? Boa ou ruim? Por quê?”
O pensamento dualista permite que criemos conclusões sem gastarmos tempo e sem pensar, contudo, se ele fosse verdade, não haveria qualquer julgamento visto que se há alguma lei estabelecendo que uma conduta seja crime, não há como contra argumentar porque não tem como afirmar que a lei esteja errada, apenas tentar explicar o a justificativa pela qual o indivíduo corrompeu com a lei e a justificativa prova que o próprio indivíduo cometeu o ato ilegal, portanto, não é um contra argumento.
De um doce a milhões em dinheiro, mas a mesma ação. Acreditamos que o primeiro caso não é problema porque não nos sentimos muito feridos/roubados, diferente do segundo caso. Assim, criamos leis que ditam condutas proibidas, mas acreditamos que esta lei valha apenas para objetos de grande valor. Contudo, o que é grande valor? Para quem recebe um salário-mínimo, um pacote de arroz faz diferença, então tem um grande valor. Já para quem recebe mais de 20, um pacote de arroz vale tanto quanto um centavo. Assim, o furto de um pacote de arroz para o primeiro indivíduo é uma furto e para o segundo não é. Mesma ação, mesmo objeto e conclusões diferentes de acordo com a sensação de lesão do indivíduo que teve o prejuízo.
A vida não é extremista, sendo de um jeitinho ou de outro, mas gradual entre ambos, tendo características de ambos. Ninguém é bom ou ruim, mas é bom ou ruim em uma determinada situação ou para uma pessoa específica, não para tudo. Mas como avaliar as pessoas completamente leva tempo e muita vezes descobrimos coisas que nos entristecem por ser desagradável, optamos regularmente pelo pensamento dual e encaixamos quem desejamos acreditar que sejam boas na categoria de pessoas boas mesmo que esta pessoa brigue conosco, que nos machuque e grite conosco.
Família é um exemplo perfeito disso porque não temos bons relacionamentos com todos, sempre há brigas e, ainda assim, afirmamos que os familiares se amam sem que, ao mesmo tempo, afirmamos que amor é o desejo de querer bem ao outro. Então o familiar nos machuca, sendo o oposto de amor, e afirmamos que ele nos ama. Por quê? Porque é melhor parar de pensar quando encontra a contradição do que descobrir que a nossa crença é falsa e que as pessoas com quem temos de conviver não nos amam.
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