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A estupidez humana natural ou normal

A estupidez humana se comprova no dia a dia assim como a soberba. Sendo a inteligência a capacidade de unir informações e perceber um contexto mais amplo, é uma característica rara no ser humano. É uma característica valorizada e, por isso, desejada. O desejo de tê-la é tão grande que o ser humano afirma possui-la num pensamento completamente emotivo e desprovido de lógica.

A vontade de sermos inteligentes é tão grande que consideramos o acúmulo de conhecimento como inteligência, logo, quanto mais se estuda, mais informações se absorve e mais inteligência se têm. Porém, com este conceito de inteligência, pode-se considerar que livros são inteligentes uma vez que guardam e oferecem conhecimento, contudo, não os consideramos inteligentes porque esta é uma característica que conceituamos como parte do ser humano, não de objetos, pelo fato de que queremos que seja assim.

A burrice não é a falta de conhecimento, mas a ausência de inteligência sendo a incapacidade de unir informações e criar vínculos entre elas. Esta é a característica comum do ser humano razão pela qual aprendemos através da observação e passivamente ao ouvir ou ver outra pessoa nos contar o conhecimento. Ao repetir o que vemos, ouvimos e percebemos, nós assimilamos conhecimentos, porém, não pensamos a respeito, não questionamos nem os comparamos. Apenas os repetimos.

A soberba do ser humano é uma maneira de se conseguir segurança emocional em si mesmo além de ter outras origens também. Temos convicções de nossas crenças e ideias porque isso nos faz sentir confiantes e seguros, ainda que sejam erradas ou parciais. Ao nos depararmos com uma situação que se mostre diferente ou pior, contrária às nossas convicções, ficamos surpresos, confusos e assustados. Nós nos esforçamos para fazer a vida se encaixar em nossas ideias em vez de tentar encaixar as nossas ideias na vida porque é mais agradável manter as ideias do que ter de reformulá-las visto que isso necessita de inteligência observando o que acontece e unindo tais informações com outras adquiridas. Somos carentes de inteligência e, por isso, tentamos ver a realidade da forma que queremos que ela seja, não como realmente é.

Assim, criamos ideias em nossas imaginações com as poucas informações que temos e nos apegamos a tais ideias repudiando e negando a realidade num comportamento preconceituoso. Tudo para manter a sensação de segurança de que os “conhecimentos” que temos são verdadeiros.

Conseguimos a proeza de fazer o oposto da inteligência: negamos informações que não favorecem as nossas crenças e, ainda assim, nos autointitulamos seres inteligentes. Uma burrice é ignorar fatos para manter uma crença, contudo, conseguimos ir mais além numa burrice ainda mais intensa e maior que rejeita a realidade. O problema não é a ausência de conhecimento, a qual também nos afeta negativamente muitas vezes, mas escolher a burrice de não saber algo e escolher não aprender a respeito, mantendo a opinião embasada na imaginação.

É uma escolha que preza o bem-estar emocional momentaneamente, contudo, gera conflitos, problemas e perigos no futuro uma vez que nos planejamos com o que acreditamos e, se rejeitamos a realidade, ela aparecerá e nos surpreenderemos mais uma vez tendo uma sensação desgostosa de medo, confusão e insegurança.

O ser humano sente o mundo com os sensores que possui, conhecidos ou não, e o corpo possui alguns desses sensores. O resultado do processamento das informações advindas de tais sensores é a nossa conclusão ou opinião, feito inconscientemente.

Nós buscamos convencer os outros de que estamos certos, então procuramos argumentos para sustentar a nossa conclusão de que entendemos ser um fato ou uma constatação caindo em contradição muitas vezes. Para compreender mais, veja A confusão de um pensamento, Por que confundimos desejos com realidade?, e Hipocrisia: certa ou errada, boa ou ruim, por quê?.   

 

 

 

 

Um exemplo disso é a própria falta de inteligência. O ser humano deseja tanto ser inteligente que conclui que o é. A partir dessa “premissa” conclui outras “verdades” como “se somos inteligentes e há coisas que não conhecemos, então essas coisas são feitas por Deus”. E de onde tirou-se a ideia de Deus? Da falta de inteligência. Na tentativa de explicar o que não se sabe explicar e com o desejo de se mostrar inteligente e conhecedor do mundo, denotou-se um ou mais deuses como os criadores de tudo o que o ser humano não explica. É algo que também não conhecemos, que controla tudo e que não pode ser questionado. Se não sabemos como as coisas funcionam, basta dizer que alguém superpoderoso as fez como são e que esta pessoa não pode ser questionada em momento algum.

Acreditar que algo poderoso e bom é acolhedor porque sentimos que existe controle e ordem em vez de caos e aleatoriedade. Somos cuidados por alguém que deseja o nosso bem, que satisfaz as nossas vontades e que, muitas vezes, pode ser persuadido e controlado através de promessas, oferendas e orações. Nada mais seguro do que acreditar que, se não temos o controle, alguém que gosta e preza por nós o tem, logo, ficaremos bem.

Outra prova da falta de inteligência é que a ciência (conhecido pela humanidade) e a religião (desconhecido pela humanidade) brigam até hoje. A religião busca formas de gerar bem-estar nas pessoas oferecendo respostas que lhes conferem segurança e tranquilidade tal como a existência de um deus que cuida delas. Já a ciência busca compreender a realidade, como as coisas acontecem e como podem ser influenciadas ou mesmo controladas. Ambas desejam o mesmo fim: controle e segurança, mas por meios diferentes.

Quando a ciência “descobre” algo “novo”, que já existia, mas o ser humano desconhecia, ela prova a sua resposta com evidências e testes e, nisso, a religião “perde” credibilidade por ter suas respostas negadas pela realidade. A ciência ganha mais credibilidade popular e cresce, ganhando mais notoriedade e “adeptos”.

Outra demonstração da falta de inteligência é a que as pessoas que acreditam na ciência são racionais e inteligentes, segundo às suas próprias perspectivas, enquanto as que acreditam em religião são burras ou ignorantes por acreditarem sem qualquer comprovação, evidência ou indício. Por outro lado, são pessoas que criam as duas, que acreditam nas duas. Como é possível acreditar no contraditório? Como é possível ser burro e inteligente ao mesmo tempo? Há pessoas mais burras e outras mais inteligentes, no entanto, conseguimos ser ambos em assuntos diferentes.

Aqueles que se dizem racionais e que acreditam no que é provado ou, ao mesmo, testado, são os mesmos que, diante de um problema sem solução, rezam e pedem por ajudas divinas.

 

Outros exemplos estão aos montes no mundo. A pessoa que deseja ser magra e bonita conclui que é magra e bonita e todos que não concordam com ela a ofendem ou a agridem afirmando o oposto ao não compartilhar da mesma opinião que ela.

Quando alguém deseja ter um corpo diferente, conclui tê-lo, ainda que o resto do mundo diga que não é. Então, estas pessoas acham que os demais devam concordar com elas e, se não o fizerem, serão consideradas pessoas ruins e más quando, na verdade, apenas possuem conclusões diferentes por olhá-las e constatá-las não serem quem alegam ser. Isso acontece quando uma mulher quer ser homem ou o inverso: essas pessoas acham ofensa serem consideradas como são em vez de como desejam ser assim como uma pessoa gorda acha um absurdo alguém vê-la e constatar a sua grande quantidade de gordura corporal. Ela não acha que isso seja um fato, mas apenas uma opinião rude e contrária a ela porque ela mesma acha que ser gordo é algo ruim e, portanto, não deseja sê-lo.

Há quem se ache inteligente, mas não consiga passar nas provas que deseja ou ser um profissional de excelência na área que deseja. A pessoa conclui ser muito inteligente e todos que não confirmem isso são pessoas cruéis e o mundo está errado por não concordar com ela.

Vivemos num mundo de alucinados, cada um com a sua loucura, condenando a loucura alheia. Cada um vive dentro da sua própria imaginação onde pode-se ter tudo o que se deseja, porém, quando a imaginação é diferente da realidade onde habitamos, o choque acontece e vivemos o conflito. Negamos a realidade tanto quanto o possível porque somos mais felizes na nossa imaginação, contudo, inevitavelmente terá algum momento em que não será mais possível ignorar a realidade e, assim, somos “forçados” a atualizar o nosso conhecimento sobre a realidade abrindo mão da bela vida que temos dentro de nossas cabeças.

Não aceitamos quem somos, nossas capacidades ou limitações, provando que a nossa maior estupidez é brigar com a verdade por esta não nos agradar. Não apenas brigamos com a realidade, mas com todos que insistem em mostrá-la para nós.

Existe burrice maior do que se considerar inteligente somente por assim desejar? Desejamos tanto ser inteligentes que temos pavor de não sermos e fazemos de tudo para acreditar que somos inteligentes, incluindo exigir que os outros afirmem tal ideia sob pena de repúdio ou mesmo sob pena criminal, ainda que toda a realidade nos prove diariamente que não o somos.
Afinal, se somos inteligentes, sabemos como resolver os problemas que surgem sem que eles voltem a surgir, então, por que eles reaparecem constantemente?

 

 

Sistema educacional

 

O sistema educacional é pautado no aprendizado via absorção do conhecimento através de outra pessoa ou objeto, como os livros. Não é ensinado a pensar, questionar, observar ou criar hipóteses, apenas absorver o conhecimento passado. Quem absorve, passa de ano, passa na prova, consegue certificados com reconhecimento do Ministério da Educação e Cultura afirmando a sua capacidade e inteligência, passa em concursos, quem não absorve é tido como burro.

Como queremos a inteligência, queremos pessoas inteligentes. Tendo um órgão que julga quem é ou não inteligente através de certificados, buscamos pessoas que tenham tais certificados.

O sistema, feito por pessoas, contém várias características da espécie incluindo a crença de que se é inteligente e a arrogância.

Fazer perguntas criativas é sentido como desafio ao professor, quem se sente inseguro ao não ter as respostas. Visando conseguir a segurança em si mesmo, se afirma ser mais inteligente e usa do seu poder como lecionador para coagir os alunos que não o veem como uma pessoa certa, boa e inteligente através de ameaças sutis e particulares como olhares. O aluno percebe que o seu papel é de apenas absorver sem questionar enquanto o professor mantém a sua posição social de ser mais e melhor, um exemplo de pessoas.

Este sistema de ensino acaba por ser um sistema que seleciona as pessoas obedientes, conferindo-lhes certificados que satisfazem seus orgulhos e egos ao afirmarem que são inteligentes e produtivas. Quem não concorda com tal sistema o abandona e vive à margem dele. Os inteligentes percebem o limite do sistema educacional e o abandonam. Livre para viver como deseja, a busca pelo conhecimento deixa de ter pessoas que o proíbam ou o barrem e a pessoa pode estudar o que desejar. No entanto, que tipo de pessoa é essa que possui um pensamento mais livre que permite questionamentos, perguntas, hipóteses e testes se nada disso é ensinado? Quem possui estes traços em sua personalidade, em outras palavras, não se aprende a ser inteligente, a pessoa nasce com este “dom”.

Claro que nada é 100% ou 0%. Ainda que o conhecimento passado nas entidades de ensino sejam de apenas absorção, pequenos lapsos de união entre informações acontecem e os alunos podem ter experiência de como a inteligência funciona. Ainda assim, essas uniões entre informações criando uma rede de conhecimento é, muitas vezes, criada por pessoas de fora do sistema que busca o conhecimento. Elas criam o conhecimento e outras o passam e divulgam. Contraditoriamente, quem vive fora do sistema é quem alimenta o sistema de conhecimento.

 

Nunca deixe de analisar o que você adquire. Não leia e concorde, analise, afinal, pode ser a minha arrogância fazendo tais afirmações para que eu me sinta melhor, mais valorizada, inteligente e segura.

 

 

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