A estupidez humana se comprova no dia a dia. O problema não é ser burro, mas ignorar a própria burrice, rejeitando a realidade.
No momento em que o ser humano deseja algo, ele toma este desejo como verdadeiro e, a partir dessa “constatação”, cria outros raciocínios (veja mais em A confusão de um pensamento e Por que confundimos desejos com realidade).
Um exemplo disso é a própria falta de inteligência. O ser humano deseja tanto ser inteligente que conclui que o é. A partir dessa “premissa” conclui outras “verdades” como “se somos inteligentes e há coisas que não conhecemos, então essas coisas são feitas por Deus”. E de onde tirou-se a ideia de Deus? Da falta de inteligência. Na tentativa de explicar o que não se sabe explicar para se mostrar inteligente e conhecedor do mundo, denotou-se Deus como o criador de tudo o que o ser humano não explica.
Acreditamos que somos muito inteligentes e que nada mais há de inteligente. Quanto mais procuramos por seres similares fora do planeta e não achamos, mais “concluímos” que esta afirmativa seja realidade, mas não cogitamos que sejamos tão burros que os inteligentes nos ignoram por não termos capacidade de lidar com eles ou acompanhar a sua inteligência.
Outra prova disso é que ciência (conhecido pela humanidade) e religião (desconhecido pela humanidade) brigam até hoje. Quando a ciência “descobre” algo “novo” (já existia, mas o ser humano desconhecia) a religião “perde” e a ciência “ganha” porque o desconhecido era assunto da religião e o conhecido faz parte da área da ciência.
Outra demonstração é a que as pessoas que acreditam na ciência são tidas racionais e inteligentes, já as que acreditam em religião são vistas como burras ou ignorantes. Por outro lado, são pessoas que criam as duas, que acreditam nas duas. Como é possível acreditar no contraditório? Como é possível ser burro e inteligente ao mesmo tempo?
Outros exemplos estão aos montes no mundo. A pessoa que deseja ser magra e bonita conclui ser magra e bonita e todos que não concordam com ela a ofendem/agridem quando não têm a mesma opinião. Quando alguém deseja ter um corpo diferente, conclui tê-lo, ainda que o resto do mundo diga que não é. Então, estas pessoas acham que os demais devam concordar com elas e, se não o fizerem, serão consideradas pessoas ruins e más. Há quem se ache inteligente, mas não consiga passar nas provas que deseja ou ser um profissional de excelência na área que deseja. A pessoa conclui ser muito inteligente e todos que não confirmem isso são pessoas cruéis e o mundo está errado por não concordar com ela.
Vivemos num mundo de alucinados, cada um com a sua loucura, condenando a loucura alheia.
Não aceitamos quem somos, nossas capacidades ou limitações, provando que a nossa maior estupidez é brigar com a verdade por esta não nos agradar.
Existe burrice maior do que se considerar inteligente somente por assim desejar?
Desejamos tanto ser inteligentes que temos pavor de não sermos e fazemos de tudo para acreditar que somos inteligentes, ainda que toda a realidade nos prove diariamente que não somos.
Afinal, se somos inteligentes e sabemos resolver tudo, por que temos tantos problemas?
Cara amiga. Penso da mesma forma.
Vou alem: a filosofia sabe como tratar a própria ignorãncia porque sabe que faz parte do que conhece… (ou desconfia como dizemos os mineiros).
A ciência nao sabe kidar com sua propria ignorância seja pela hubris ou por ignorar a propria ignorãncia.
Outra coisa é a atual discussão hipocrita sobre a pandemia e vacilação.
Todos dizem que vacinar é obrigação de todos em respeito aos outros.
Mas isso so ocorre rnquanto eles sao os outros. Essa regra de proteger a coletividade e “os outros” para funcionar enquanto eles sao os outros.
No meu condominio foi baixada uma portaria pela qual morador que estiver infwctado para circular pelas areas comuns terá que comunicar com antecedência até que sejam tomadas providências profiláticas.
Ou seja o doente é portador da peste e deve ser vigiado e anatagonizado. É inimigo da comunidade. Pura hipocrisia.
Fui criado numa familia de 8 filhos dezenas de primos e numa cidade pequena. Ali valia a regra de um por todos e todis por um.
Escrevi sobre isso há um tempinho : https://filosofia21.com/preconceito-2020/
Sobre a pandemia também falei em https://filosofia21.com/a-solidariedade-na-pandemia/
Por um lado há quem diga, ou deseje, que a sociedade será mais solidária, porém, por outro, há que exclua os contaminados.
Essa hipocrisia entre “nós” e “outros” está explicadas em https://www.dragoeditorial.com/p/hipocrisia-flavia-moraes-schweizer-16×23-386-paginas/
As pessoas visam a própria satisfação. Então caso se considerem os outros, serão a favor do bem dos outros. Caso se consideram como indivíduos, serão a favor dos (direitos) indivíduos. É bem simples. É assim que quem é a favor de algo (por gerar benefício pessoal) defende esse algo a todo custo. No caso quem acredita que a vacinação deve ser em todos, a pessoa vai defender a obrigatoriedade da vacinação, o que, por outro lado, deixa de ser uma democracia, já que a pessoa quer escolher para todos (este é outro assunto interessante). Dessa forma a pessoa deseja impor a sua vontade sobre os demais, o que é uma tirania. Ela não é a favor de que cada um escolha por si, é a favor de que a sua vontade (de vacinação em massa) seja feita. Observe que ela não deseja a democracia (das pessoas escolherem) e, ao mesmo tempo, não suporta a ideia de ser imposta de fazer o que não deseja (tirania).
Obrigada pela participação e comentário.
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