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A beleza da diversidade II

Quando queremos algo e não conseguimos criar por nós mesmos, procuramos alguém que o faça e um modo de convencê-lo a fazer por nós.

A contratação e serviços é um modo explícito dessa realidade num relacionamento direto e pontual. Convencemos alguém a fazer o que queremos por nós ao ofertar m valor que  ela julgue satisfatório. No entanto, a manipulação de forma mais implícita e inconsciente é a mais comum na espécie.

Criamos e mantemos relações humanas que nada mais são do que troca de favores. Fazemos algo a alguém esperando que o outro nos retribua posteriormente mesmo que o acordo não seja firmado em si. Nós simplesmente criamos essa expectativa e a cobramos depois.

Em meio a pessoa que pensam assim, esta conduta torna-se uma regra e as trocas são mais descaradas. Contudo, também fazemos de forma mais sutil ao oferecermos ajuda a alguém já prevendo que esta pessoa deverá um favor a nós, razão pela qual a palavra “obrigado” era e continua sendo empregada. A pessoa que recebeu o favor fica obrigada a devolvê-lo posteriormente.

É por conta desse sistema que muitas pessoas se sentem pressionadas e oprimidas: elas sentem que devem agir da maneira que o outro espera para satisfazê-lo e manter a aparente paz na relação ao não criar conflitos e brigas de forma visível. Ademais, se precisaremos de sua ajuda em outro momento, nós temos de manter a relação para que possamos receber tal ajuda num futuro ainda que desconhecido e, para tal, precisa-se agradar o outro satisfazendo às suas vontades e expectativas. A relação é uma troca de agrados e no quesito inteligência não é diferente.

As pessoas incapazes de pensar por si mesmas buscam alguém ou alguma entidade que lhes fale o que é certo e errado. Elas buscam alguém que façam o processo de pensamento por elas e compartilhe apenas o que desejam: a conclusão do pensamento. Dessa forma, basta dizer o que é certo e o que é errado sem que a pessoa precise pensar ou até mesmo compreender o pensamento daquele quem lhes dê a informação ou a ordem.

É assim que buscamos professores, profissionais, líderes religiosos ou políticos. Queremos saber o que devemos fazer para conseguir o que desejamos, como uma consciência tranquila ou quais ações adotar para se considerar uma boa pessoa porque queremos ser uma boa pessoa, uma pessoa amada, querida, exemplar e admirável. Queremos engrandecer nossos egos, orgulhos e autoestimas e, para isso, sermos queridos pelos outros é um dos meios de conseguirmos.

Buscamos professores que digam o que é certo e errado. Não queremos saber como foram criado os conceitos de certo e errado e, menos ainda, como se avalia o que é certo ou errado. Queremos apenas saber o que é o que para sabermos o que devemos ou não fazer.

É assim que funciona uma escola: professores ditam informações que devem ser absorvidas e replicadas, fazem testes e provas para verificar se o aluno decorou e obedece às ideias implementadas e ganha um diploma quando tem sucesso ou uma reprovação quando discorda ou não absorve as ideias divulgadas.

Discussão em salas de aula não e não eram comuns. Os questionamentos dos alunos são interpretados como insulto ao professor que dita e, portanto, um aluno rebelde. Sendo o rebelde aquele que não obedece, conclui-se que a relação entre professor-aluno é uma relação e poder onde o professor impõe as suas vontades, que são as informações que o aluno deve replicar, e o aluno obedece ganhando notas altas de acordo com a sua obediência. Quanto mais obediente, melhor é o aluno e mais robusto é o seu diploma.

Da mesma maneira que buscam-se professores como se representassem a inteligência para adquirir as ordens a serem seguidas por não conseguir pensar por si mesmo, os empregadores também não criam qualquer avaliação sobre os empregados que desejam ter. Em vez de gastar tempo criando um modelo de avaliação, eles avaliam o que é mais fácil: o currículo, linhas com palavras que mostram quais ordens o pretendente segue. Se o aspirante a empregado oferece muitas obediências que o empregador gosta, ele é contratado, caso contrário, é dispensado.

O empregador busca algo ou alguém que faça por ele assim como os professores. Buscamos professores acreditando que o que dizem está correto assim como um empregador acredita que o Ministérios da Educação e da Cultura (MEC) avalia se os alunos e lhes dê provas através de documentos (diplomas) de que são obedientes.

Sendo o empregador um agente contratante de serviço, ele busca pessoas que realizem as atividades que ele deseja em troca de uma remuneração no relacionamento comercial direto porque assim como nós queremos pessoas competentes que façam o que não fazemos, os empregadores desejam o mesmo. Nós contratamos serviços de bufês, festas, viagens, limpeza, eletricidade dentre outros eventualmente, mas é exatamente o mesmo que o empregador faz, porém é um contrato de serviço constante tal como uma empregada que é uma diarista constante. Queremos que ela mantenha a casa limpa e organizada eventualmente, frequentemente ou diariamente. Contrato de serviço, contrato de trabalho. Caso ela não aja da maneira contratada, isto é, desobedeça às nossas ordens expressas no contrato, o qual pode ser verbal, é advertida ou mesmo demitida tal como um patrão que não recebe o serviço contratado do empregado como descrito no contrato.

O ciclo básico da obediência é aprendermos a obedecer como crianças, alunos e empregados. Ser bom significa sermos obedientes. As pessoas gostam de quem faça suas vontades, então somos queridos quando obedientes e dóceis.

Ao termos filhos ensinamos o que sabemos: que a obediência resulta em ganhos, em boas notas, um bom diploma, um bom emprego e salários, a motivação essencial e individual. Queremos dinheiro para contratarmos serviços e pessoas que nos obedeçam e satisfaçam as nossas vontades. Então ensinamos aos nossos filhos a serem como nós, a obedecerem. Nós os repreendemos quando desobedientes, castigamos quando não fazem oque queremos e repudiamos comportamentos rebeldes. Nós adestramos as nossas crianças para serem o que queremos que sejam para nós e porque acreditamos que o mundo funcione dessa maneira porque é a forma como vivemos. Ensinamos o que sabemos, o que vivemos e os filhos tendem repetir o que veem com regularidade como pais que fazem sempre os mesmos serviços, que pensam sempre da mesma maneira, que se comportam com um padrão tal como repetem a usar talheres para comer porque os pais usam e aprendem a língua que os pais usam. Repetição.

Este é ciclo básico do ser humano e razão pela qual mudanças são tão difíceis e resistimos o máximo que podemos. Queremos manter as coisas como são porque é a maneira que aprendemos, que repetimos, que concordamos, que obedecemos. nós nos acostumamos a isso e mudar significa perder tudo isso, ter de aprender novidades e temos muita dificuldade em alterar nossas crenças. Entenda mais sobre este processo de atualização de crenças em “Por que chegamos a uma idade que paramos de conseguir acompanhar as novas tecnologias?” (link de 9 de abril de 2025).

Esse processo de aprender reproduzindo o que vemos ou sentimos é inato não apenas ao homo sapiens, mas podemos ver felinos que aprendem a caçar ao observar outros indivíduos, normalmente da mesma espécie, caçando e tentando repetir a tática. Animais domésticos também funcionam de modo a seguir comando para não serem penalizados ou  para receberem algum agrado justamente como fazemos uns com os outros.

Muitas pessoas desprezam tal comportamento e acreditam serem melhores do que animais que agem assim concluindo, erroneamente, que não os têm. Chamamos isso de relacionamento e estas pessoas afirmam que relacionamentos são coisas melhores, coisas boas e que tais comportamentos são ruins. Elas não sabem explicar ou definir o que são relacionamentos e, mesmo que se mostre e prove que são desta maneira explicada, continuam a afirmar que não o são porque não suportam a ideia de não serem tão melhores quanto julgam ser. Este é um outro assunto que pode ser aprofundado em A confusão de um pensamento e Por que confundimos desejos com realidade?

As pessoas fora do comum são pessoas que não aceitam ordens sem questionar, não se satisfazem com regras e de forma alguma concordam com as informações que recebem sem estudá-las.

Ninguém consegue analisar todas as informações sobre um assunto para então ter uma conclusão certa, no entanto, o comum do ser humano é obedecer e não questionar porque a inteligência é uma raridade, não uma normalidade. Desejar que sejamos inteligentes não nos torna inteligentes. Na verdade, essa crença e este comportamento só provam a burrice que temos uma vez que acreditamos no que desejamos e rejeitamos os fatos que apontam para outra conclusão.

As pessoas inteligentes são aquelas que questionam o perguntam. Apenas saber o que é certo e errado não é suficiente, é preciso saber o motivo pelo qual o certo é considerado certo e o errado é tido como errado. Embora na maioria dos assuntos ela aprenda por repetição e absorção por ser um indivíduo da espécie humana que tem este comportamento como característica, ela consegue buscar informações novas, descobrir novos horizontes e se aprofundar em assuntos porque visa expandir os seus conhecimentos. Ela observa, analisa, une premissas, constata fatos e faz conclusões unindo seu aporte de conhecimento com os fatos que constata. Quando não é possível unir ambos, significa que as premissas e as suas ligações não estão encaixadas e, então, ela faz o oposto da maioria: ignora a sua crença e as informações que têm e mantém a crença sobre o fato. Se não identifica o que gera o fato, ela busca por outras evidências e indícios visando compreender como o fato foi criado. Enquanto isso, a maioria das pessoas tenta ignorar o fato para manter a crença porque pensar é algo difícil, muitas vezes impossível porque somos viciados em fazer o que fazemos incluindo pensar no que já pensamos reforçando as nossas crenças. Interromper este ciclo é muito difícil porque requer, primeiramente, a vontade de analisar a própria estrutura de pensamentos. Se buscamos alguém que nos diga o que devemos fazer, significa que evitamos pensar e, assim, analisar o nosso próprio pensamento, pensar sobre o nosso pensamento, torna-se fora de cogitação.

Enquanto para quem prefere executar à pensar a prisão é a sua liberdade uma vez que alguém dita o que deve ser feito e a pessoa não se depara com a insegurança de não saber o que é correto, não sente o peso da responsabilidade de ter de escolher o correto e sente aconchego ao ter alguém que a protege de tais sentimentos, para quem gosta de pensar a obediência é uma prisão, uma prisão muito pequena. Tão pequena que, às vezes, a impossibilita de sobreviver.

Para estas, a vida começa a ser difícil na adolescência onde devem permanecer obedientes enquanto começa a criar novas ideias, pensamentos e questionamentos. Sendo castigadas por perguntar aos professores visando adquirir compreensão sobre o assunto enquanto estes interpretam como uma ousadia e desrespeito, tentam se moldar ao que a sociedade deseja sofrendo e sendo tolhidas por serem “grandes demais para o molde em que devem entrar”.

Castigos, reprovações, punições e piadas humilhantes são o resultado por não se enquadrarem aos demais sendo gradativamente excluídos do grupo de bons alunos. Basta não aceitarem a fé política, a qual domina e dita o sistema educacional do Brasil através do MEC, para serem excluídas de todo o sistema empregatício, que também é regido pelo governo, embora não completamente. Os empregadores podem avaliar as habilidades de seus pretendentes de forma diferente de apenas ver seus currículos acadêmicos, o que lhes renderia mais despesa e trabalho para contratação, porém empregados mais capazes (talvez).

O sistema começa nas escolas e entidades educacionais, chega aos empregos e se expande e fortalece através da sociedade, indivíduo por indivíduo, quem reforça toda essa crença e modelo comportamental através das relações que possuem em suas vidas e reforço da crença de que “a educação (acadêmica) é o caminho para uma vida melhor” sendo que todos buscam uma vida melhor.

É preciso mais do que curiosidade para ser inteligente, mais do que a capacidade de observar, analisar e fazer síntese, é necessário ousadia e coragem para sobreviver fora do sistema e aguentar os ataques vindos daqueles que vivem no sistema porque não abaixar a cabeça significa necessariamente não obedecer, ou seja, confrontar quem possui mais poder neste modo de organização social ou que deseja mais poder. E isso é perigoso porque quem tem poder, em geral, é apaixonado por ele e se vicia nele, o tornando o objetivo da vida. Sendo o único objetivo ou o objetivo principal, as pessoas neste pequeno grupo dominantes atacarão de todas as formas possíveis todos os rebeldes, todos que não obedecem e atrapalham o seu poder.

Quem deseja somente sobreviver, pagando suas contas, se satisfaz com a obediência comprada; mas quem deseja mais do que pagar as contas se depara com um muro invisível que tenta aprisionar a sua mente para conseguir o controle sobre si. Todos que são a favor deste sistema, incentivando tudo que é controlado, como a educação acadêmica, ou que obedecem sem questionar ou criticam e impedem quem tentar mudar são as mesmas pessoas que criticam quem é diferente, quem busca aprendizado, quem tem mente aberta, quem é inteligente porque quem não pensa temer o desconhecido representado pelo diferente… Todos que são a favor do padrão sem entender o motivo de sua presença fortalecem a obediência cega ao defender a fé política sem embasamento lógico ou factual. São pessoas que fortalecem o sistema, mesmo que o critique porque são os comportamentos os criadores de ações e fatos e os fatos são a realidade. Contar mentira não a torna real, mas agir como se fosse real pode fazer outras pessoas acreditarem como se fosse verdade.

A inteligência é uma raridade no ser humano. Algumas pessoas desenvolvem a inteligência através do próprio corpo sendo inteligentes “por natureza” como se fosse um dom, sem precisar se esforçar para conseguir; algumas buscam a inteligência; e a maioria busca um líder que lhes diga o que devem fazer ou não porque não são inteligentes e, pior que isso, são burras porque negam as possibilidades de aprendizado se prendendo a conceitos e fé sem explicação ou com uma “explicação” rasa, insuficiente.

Ainda assim, aprender através de repetição é uma forma primitiva de inteligência que pode ser adquirida em sistemas acadêmicos porque, ao aumentarmos o nosso aporte de informações aumentamos a nossa capacidade de lidar com conflitos e resolver problemas, logo, aprender dessa maneira também é uma forma de aumentar a inteligência.

Os inteligentes praticamente se tornam os líderes por mostrarem habilidades desejada e que os demais não possuem. Eles são os empresários de sucesso, reis do crime, imperadores de organizações, líderes políticos, gênios que marcam a história. As pessoas inteligentes estão quase que fadadas ao reconhecimento, a menos que optem pelo anonimato, se escondam dos holofotes ou usem de sua inteligência para a vida pessoal, fazendo-a de ferramenta própria e restringindo-a à própria vida.

Embora a inteligência apareça eventualmente, ela fornece revoluções que são usadas pelas sociedades mundo a fora. Basta que poucas criem luxos para que, tempo depois, tornam populares e comodidades que melhoram a vida de muitos. Precisamos de poucas pessoas assim para melhorar a humanidade, então tê-la como raridade é suficiente para a espécie.

Ainda que pareça que ser obediente não seja uma boa escolha, todos nós, individualmente e como sociedade, precisamos de organização, produção e confiança para que possamos viver em grupo e colaborarmos com o grupo. Precisamos de pessoas especializadas em algumas áreas, precisamos de MUITAS pessoas tenham um comportamento padrão e produtivo, fazendo sempre a mesma coisa para que tenhamos os bens e serviços que temos. Precisamos de pessoas que honrem contratos sociais e de serviços para gerar a confiança e comprometimento entre os integrantes da sociedade e precisamos de pessoas que não gastem seus recursos como tempo pensando, mas produzindo itens necessário no presente em vez de pensarem para o futuro porque o futuro não chega sem antes vivermos o presente.

Em suma, todos os modos são importantes, o problema são os conflitos que ambos criam porque acreditam serem mais importantes do que o outro e que o outro deve-lhe obedecer e entrar no seu sistema comportamental, mental e emocional; fé.

Conseguimos sobreviver cada vez melhor por conta da sociedade e dos diferentes indivíduos que produzem diferentes bens e serviços. Temos mais comodidades do que no passado porque somos resultado de uma sociedade desigual onde as melhores características dos indivíduos podem ser usadas para a produção e criação de itens que apreciamos e desejamos. Ainda assim, insistimos que os outros devam nos obedecer e seguir as nossas crenças em vez de, pelo menos, tentar entender (e talvez aprender) com a crença alheia.

Brigamos por seremos diferentes, mas ó conquistamos o mundo e vivemos melhor do que nos passado por sermos diferentes.

Espécies inteiras foram extintas por serem muitos padronizadas e não suportarem as mudanças que as prejudicaram. Todos os indivíduos, por serem iguais, eram fracos e impotentes diante da novidade que dificultaram as suas sobrevivências e a espécie, coleção de indivíduos similares, se perdeu porque nenhum foi capaz de sobreviver à nova adversidade. Eram iguais. Todos morrem da mesma forma, todos morreram iguais e nós ainda conseguirmos cair na pegadinha de idealizar que a igualdade seja melhor. Talvez a espécie acabe se nos tornarmos iguais, talvez tenhamos menos produtividade, menos comodidades, menos criações, menos tecnologia, menos vida.

Veja mais em Queremos a individualização para refletir mais sobre a beleza da desigualdade.

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