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Como explicar o que não se entende?

Quando o ser humano se depara com algo que não compreende, não aceita a sua falta de compreensão. Isso o deixa assustado e inseguro e, para evitar esse mal estar, usa da imaginação, criando teorias e ideias que expliquem o evento que desconhece.

A crença em entidades divinas é comum na espécie. Um dos motivos pelo qual essa crença permanece é de “explicar” o que não conhecemos. Quando não sabíamos sobre o clima possivelmente falássemos que alguma entidade divina o controlava. Isso fazia com que a insegurança por falta de conhecimento fosse sanada, ou muito reduzida. Isso aumentava o bem estar e as pessoas se sentiam melhores.

Essa ideia de que algo inexplicável explique o que nós não explicamos (sabemos) satisfaz essa necessidade ou busca de segurança. Em vez de percebermos que não entendemos o evento ou de que este seja caótico (sem lógica ou sem controle em nossa escassa compreensão), nós o atribuímos a algo. Assim, esse algo é responsável pelo evento e pode controlá-lo. Ademais, cria-se outras ideias para tentar satisfazer e manipular a entidade divina, sendo uma forma de tentar controlá-la para controlar o que ela controla/faz, ou seja, busca por controle.

Essa teoria pode ser a razão de pessoas com menos conhecimento acreditar mais em entidades divinas. Já as pessoas que aprendem mais parecem questionar mais essa entidade. Ao comparar as explicações “científicas” com as explicações divinas, as científicas esclarecem mais e oferecem mais segurança, conquistando a pessoa. Dessa forma, ela deixa de acreditar no “divino” e passa a acreditar mais na ciência.

É por isso que a ciência cativa mais pessoas ao longo prazo: ela possui cada vez mais respostas e explicações, satisfazendo a busca pela segurança e controle do ser humano.

Mas isso só funcionam enquanto a ciência explicar. Quando surge algo novo e a ciência não sabe como funciona, a sensação de insegurança aparece e a pessoa busca a segurança na entidade divina novamente,. No fundo não é uma questão de crença, mas uma questão de satisfação emocional dentro da nossa capacidade de compreensão.

Dentro da comunidade científica também acontece isso. Muitas pessoas acreditam em entidades divinas para explicar o que desconhecem. Há quem acredite em alienígenas e os usa como motivo de determinados eventos no planeta. O exemplo das pirâmides no Egito deixa claro esse pensamento de crença para criar segurança emocional. Há quem diga que o homem não construiu as pirâmides, mas foram alienígenas.

A incapacidade de compreender como a espécie conseguiu fazer as pirâmides leva a pessoa a concluir que não foi possível, portanto é necessário algo externo à espécie, algo que não é possível compreender ou provar, as tenha feito. O pensamento que gera essa crença é o seguinte:

  • a pessoa não sabe como as pirâmides foram feitas.
  • Se ela não sabe, é porque não é possível que outra pessoa saiba, já que ela é uma pessoa inteligente e sabe de tudo.
  • Assim, ela conclui que a espécie não fez as pirâmides por incapacidade intelectual. Logo, é necessária outra explicação. Mas se não sabe explicar, como explicar que outra pessoa/coisa as fizeram?
  • Neste momento se recorre a ideias que não podem ser comprovadas e sem possibilidade de negação. Por isso usa-se de ideias grandiosas (uma entidade divina que controla tudo, em todos os momentos e lugares) ou especulativas (alienígenas que vieram no planeta, fizeram as pirâmides e foram embora para um lugar desconhecido que não podemos achar), sempre criando algo ou alguém mais inteligente que o ser humano.
  • Assim, a pessoa se mantém “bem informada” e sacia a segurança de possuir as informações.

A aceitação da realidade é tão difícil que criamos histórias para explicar o que desconhecemos. Observe que as teorias de divindade e alienígenas possuem a mesma base e funcionam da mesma maneira: sem um pingo de realidade e colocando qualidades desejáveis e que o ser humano não possui em tais figuras. No entanto, uma enxurrada de pessoas acredita nessas crenças porque o objetivo não é entender a realidade, mas simplesmente conseguir uma sensação emocional melhor (mais segurança).

Manter o orgulho (acreditar que sabe mais do que realmente sabe) é indispensável para o bem estar do ser humano. É uma maneira de sentir segurança, confiança e mais autonomia e tudo isso é necessário para a pessoa viver e buscar o que lhe falta. Sem segurança não teremos a coragem de tentar fazer alguma coisa; sem confiança não nos esforçaremos para obter o que desejamos; e sem autonomia não nos sentiremos capazes de fazer nada. Por isso que aceitar a realidade como ela é, tendo diversos componentes que não entendemos, é tão difícil. Nós vimos isso como caos e o caos gera medo e pânico, o que nos paralisa e impede de fazer qualquer coisa. Mas se aprendermos a gerenciar essa sensação de caos sem que nos prejudique, poderemos aceitar (emocionalmente) que não sabemos tudo e deixar as lacunas em branco da vida em branco mesmo enquanto não obtiver respostas em vez de criam teorias e suposições que nos agradem preenchendo erroneamente tais lacunas. Em vez de falarmos “Deus quis que você passasse por isso” falaremos “não sei o motivo de você passar por isso” ou “não sei como as pirâmides foram feitas”.

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