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Responsabilidade

Até onde somos responsáveis?

Muitos alegam que incentivar suicídio seja errado e criminoso, embora quando alguém pareça pular de um prédio haja várias pessoas incentivando com palavras e até mídia dando atenção, provocando o ato em si através da grande atenção que a pessoa recebe. Afinal, a culpa é de quem, das pessoas gritando, da mídia, do término de um namoro, da perda de um parente ou emprego, da frustração com a vida, de uma doença mental?

Alega-se que somos livres para nos expressarmos, contudo também fala-se que não podemos incentivar algumas ações ou falar sobre alguns assuntos. Ora, somos ou não livres para nos expressar?

Ademais, como ajudar uma pessoa que quer se matar? O que se passa na cabeça e no coração dela para chegar a tal desejo? O que a pessoa realmente deseja com a morte? A falta de compreensão sobre isso gera os mal-entendidos e críticas sobre pessoas que desejam a morte, o que as incentiva se calar e guardar para si os seus sentimentos e pensamentos por medo de serem desvalorizadas, desamparadas, incompreendidas e alvos de preconceito. Tudo isso se soma e essas pessoas se sentem ainda piores, mais angustiadas, reforçando a sua predisposição a se matar. Essa forma agir, a mais comum, é ser também responsável por esse mal estar dessas pessoas e suas atitudes suicidas?

Por que desejar a morte ou alguém que ajude a alcançar tal objetivo é errado se a pessoa não está ferindo ninguém além de si mesma ao mesmo tempo que não consideramos (tão) errado desejar a morte de outrem, como expressamos verbalmente diversas vezes e outras tantas de modo mais eficaz? O fato é que a maioria das pessoas preza pela vida e, portanto, acredita que todos também o façam. Logo, quem não o faz é doente (ou diferente e ser diferente é considerado sinônimo de doente), não fazendo parte de seu grupo social.

Esse comportamento é visto em outras áreas da vida. Acreditamos que o normal seja o que acontece conosco e, portanto, todos sejam como nós. Quando nos deparamos com alguém diferente temos preconceito e não compreendemos. Por falta de compreensão ou afinidade, buscamos evitar pessoas diferentes bem como procuramos por pessoas similares.

A falta de compreensão sobre o assunto leva as pessoas tidas como saudáveis a não ajudar quem busca a morte bem como não perceber os indícios de que alguém pense em morrer. A culpa é dessas pessoas que não entendem o assunto? É a pessoa que deseja a morte e não entende que isso é “errado”? A culpa é a falta de conhecimento, pelo menos na maioria das vezes.

Cabe a pessoa buscar ajuda profissional, mas quando saber que precisamos de ajuda assim? E onde buscar ou como custear o auxílio? Se nem o doente sabe que está doente, como pessoas saudáveis que não conhecem a doença entenderão, ajudarão ou perceberão os sintomas?

Há quem deseje a morte como um fim do sofrimento e, dessa forma, quem ajudar a alcançá-la é sentido como amigo ou herói para tal pessoa, já que está buscando uma forma de eliminar o próprio sofrimento. Que pessoa não aprecia quem a ajude a ser feliz na vida ou a acabar com o seu sofrimento? Por outro lado, há quem não se importe em viver ou morrer, razão pela qual a abordagem para salvar tal pessoa deva ser diferente. Como identificar a causa, o objetivo e auxiliar quem precisa de ajuda para voltar a acreditar que a vida possa ser boa?

Somos todos influências e influenciados, o que nos faz ser responsáveis parciais por tudo que interagimos. Podemos incentivar ou reprimir condutas e pensamentos independente da idade que temos. Dessa forma, todas as pessoas que interagiram, nem que fosse com um único olhar para aquele que deseja se matar é responsável por sua situação emocional e mental. Como centenas de pessoas passam por nossas vidas, podemos concluir que todas elas são responsáveis, ainda que parcialmente, por sermos como somos. Contudo, o maior responsável por nós somos nós mesmos já que somos nós quem escolhemos as nossas ações, prestemos atenção nelas ou não.

Muitas coisas fazemos sem consciência ou sem entender e sentimos emoções que não controlamos. Não controlamos tudo o que fazemos, porém, ainda assim, nós somos os responsáveis por nós, os outros nos influenciam, mas somos nós que agimos ou não.

Cada um faz o que pode dentro de suas capacidades e conhecimentos. Por isso aprender é sempre uma maneira de termos mais controle e de criar mais opções para fazermos a nossa felicidade.

Reflexão e análise feita a partir de um caso em que uma pessoa foi condenada pelo suicídio de outra em 2017 nos Estados Unidos da América.

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