Há quem publique (comentário, artigo, opinião ou outros) e não quer que ninguém comente contra alegando que “se não é a favor, basta se abster de comentar”. Se isso é verdade ninguém deve ir a manifestação alguma, já que é ir contra a opinião de alguém em vez de se abster.
A questão é que a pessoa que publica e diz que ninguém deve ser contra ou mostrar a sua opinião contrária não deseja crítica, isto é, deseja somente elogio e admiração e repudia ideias contrárias. Ela se sente mal com ideias contrárias e não as tolera. Por conta disso alega que o outro não deve expor e publicar a sua opinião nos comentários visando não se sentir mal.
Apesar da alegação aparentemente pacífica de ser contra comentários que não corroborem para a própria publicação, provavelmente esta mesma pessoa expõe sua opinião quando é contrária a outras expostas em forma de críticas governamentais, a sistemas, lojas e até mesmo em comentários em publicações de outras pessoas. Ora, se a pessoa realmente acredita que não deve expor uma opinião contrária a uma publicação, ela não comenta em publicações que revelam ideias contrárias às suas, ela não critica o governo, já que este é feito por pessoas e opiniões alheias, não fala mal de sistemas, os quais são apenas a forma de pessoas interagirem, se abstém de opinar quando é contra a alguma política de loja ou comércio, uma vez que esta é resultado de ideias de pessoas que trabalham em tal área, e não expõe sua opinião em outras publicações quando discorda destas.
Estes seriam ou são os fatos de quem acredita na alegação de não expressão opinião contrária.
Outra opção para evitar o mal estar de ser criticado é não ler os comentários de sua própria publicação ou ignorá-los. Afinal, por que é o outro que deve agir de um jeito para que nós nos sentemos bem em vez de nós mudarmos o nosso próprio comportamento para que nos sentemos bem? Como não conseguimos controlar o nosso comportamento para gerar bem estar, nós exigimos que o outro o faça e esta é uma característica comum na espécie e pode ser vista em outras áreas ao exigirmos determinados comportamentos de outros indivíduos.
O fato é que publicar é tornar público, portanto é expor. Parte do tornar público é exatamente estar aberto a receber respostas e comentários. Isso não significa que os comentários possam (no sentido de serem bem vistos) ser xingamentos, significa que as pessoas podem discordar do que foi publicado e discutir o assunto (explicar fatos, expor argumentos e mostrar o raciocínio que leva à conclusão – a opinião).
Quem realmente não quer ouvir ou ler contra a sua opinião não a publicará e a manterá para si, é simples, assim como um segredo bem guardado é aquele que não é contado para ninguém.
Às vezes pessoas querem mostrar as suas opiniões porque isso as faz se sentirem bem. Contudo não querem as consequências negativas de seus atos, como comentários desfavoráveis (porque gera uma sensação ruim). Querem somente a parte boa. Daí surge a ideia de que comentários contra a publicação não sejam bons e, portanto, não devem ser feitos. Em suma: o que causa desagrado não deve ser feito (pelos outros). Mas quem garante que a publicação de uma pessoa não é contrária à opinião de alguém, sendo, portanto, a situação inversa que ela mesma prega (ela publica algo que gera uma sensação ruim em outra pessoa)?
Pergunta: como todos poderão publicar suas opiniões sem que ninguém discorde se ninguém concorda em tudo com outra pessoa?
As pessoas buscam uma utopia onde podem fazer tudo, por isso as fazem felizes, mas os demais não porque a liberdade do outro é sentida como ameaça (exemplo disso é a opinião diferente que muitas pessoas não querem que sejam respondidas em suas publicações) ou incômodo, sensações negativas/ruins.
Enquanto o ser humano viver este conflito de “eu (indivíduo) contra os outros (coletivo)” as brigas serão parte da rotina e a tão sonhada paz será um sonho impossível porque hora somos o eu e hora somos os outros.
Para mais esclarecimento e aprofundamento nos temas abordados leia “Hipocrisia: boa ou ruim? Certa ou errada? Por quê?”