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Formação de grupos e preconceito

As pessoas brigam para impor as suas perspectivas como realidade para todos por acreditarem que isso as satisfará. Criam grupos para tal e criam conflitos entre estes.

Adjetivos para determinar grupos são formas de identificá-los, defini-los e os excluir do restante da sociedade de alguma forma. Feminista, machista, homofóbico e outros são maneiras de aglomerar pessoas dentro destes grupos delimitados e, então, excluí-los da sociedade de alguma maneira se considerados ruins ou prejudiciais.

Uma forma de exclusão é alegar que tais grupos sejam vítimas. Ao serem considerados vítimas, consequentemente são vistos como fracos ou não prestativos, características que a sociedade não deseja em seus componentes. Qualquer tipo de “apoio”, “ajuda”, “auxílio” ou “indenização” mostra as características de vítima e fraco que as pessoas deste grupo possuem, destoando-se do restante da população. Dessa forma tais grupos são afastados aos poucos (em meses ou anos) e o comportamento preconceituoso da sociedade em relação a tais grupos se perpetua ou aumenta.

Acontece que se vitimizar é uma maneira de conseguir atenção da população por um breve período e conseguir algumas regalias ou indenizações, as quais fornecem alguma saciedade. Por tal motivo muitas pessoas querem se associar a tais grupos, visando tal benefício. Porém, quando não há probabilidade de ganho, as pessoas desejam se manter afastadas dessas pessoas “incapacitadas” e “implicantes” (que reclamam e não contribuem). Enquanto alguém se fizer de vítima e desejar regalia como forma de indenização (tentar impor o que outro deva fazer algo para si), as brigas continuarão (quem deseja indenização X quem discorda dessa opinião), já que são duas pessoas ou dois grupos lutando contra si (um para impor e o outro para não aceitar).

O preconceito é a maneira do ser humano selecionar com quais pessoas deseja manter contato ou não de acordo com os seus valores de forma rápida. Por ser uma maneira rápida, não é uma ideia organizada, desenvolvida, ou seja, pensada. São apenas ideias de uma pessoa ou de um grupo de pessoas que refletem unicamente os seus sentimentos quanto a um assunto quando deparado com este. A pessoa não analisa o assunto, apenas sente algo em relação a este assunto e presume que esta sensação seja uma ideia e que esta ideia seja verdade. Assim ela tem uma conclusão “correta” (já que ela acredita ser verdade) e tenta impô-la a todos. 

Quem deseja beleza corporal buscará associar-se-á com pessoas bonitas; quem valoriza procedimentos estéticos buscará pessoas que conheçam tal área; quem aprecia ideias e conhecimento, buscará pessoas similares; quem aprecia sair para bares e boates fará amizades com quem também valoriza tais lazeres, e assim por diante.

No momento em que valorizamos alguma característica, desvalorizamos outra. Pessoas que apreciam trabalhar e fazer dinheiro provavelmente não apreciarão lazeres como festas frequentes ou ver televisão. Quem valoriza procedimentos estéticos não terá muito assunto comum com quem não se importa com a aparência; quem gosta de atividade física dificilmente terá um bom relacionamento com um sedentário… assim, quem valoriza a cor clara na pele por qualquer motivo, visará pessoas com tal característica e desprezará as demais. Quem valoriza o corpo masculino e características típicas do homem desvalorizará quem não possua. Quem aprecia corpos do sexo oposto desprezará corpos do mesmo sexo.

Não gostar de algo é uma coisa, mas odiar é outra e o ser humano possui tal sentimento. Como visto no início, tentamos mudar as pessoas, as coisas e o mundo para que estejam de acordo com os nossos desejos e, assim, alcancemos o prazer, a saciedade ou felicidade. Então, ao tentarmos implementar as nossas crenças esbarramos nas outras pessoas, que, assim como nós, desejam implementar as delas, porém, as suas crenças são divergentes das nossas. Neste momento inicia-se a rixa que, posteriormente, torna-se uma briga mais aberta.

Se uma pessoa acredita que homens precisam ter atração (sexual)por mulheres, todos que não se encaixam nesta sua crença estão errados e passíveis de serem corrigidos ou punidos, tudo visando implementar a própria crença.

Pode parecer absurdo, mas é como o ser humano funciona. Há quem acredite que alguém, sejam pessoas, governos ou um determinado grupo de pessoas, como os ricos, tenham o dever de custear os seus gastos como tratamentos médicos e cuidados com a saúde. Então quem pensa assim se une e briga para implementar a sua crença forçando outras pessoas a fazerem as suas vontades.

A estrutura de pensamento é a mesma, o que muda é o nosso posicionamento acerca do assunto, o que vai de acordo com as nossas vontades. Sendo vontades os nossos desejos, as nossas opiniões e posicionamentos são somente os nossos sentimentos.

O ser humano ainda preza muito pelo visual e pelo posicionamento dentro do grupo. Por conta disso que o que afeta a nossa imagem e a nossa popularidade são tão valorizados e também é pelo mesmo motivo que o que vai contra tais valores serem punidos com mais rigor.

Então, o preconceito que temos é advindo da valorização de determinadas características. Mas nos preparemos: quando as informações visuais não tiverem importância, não serão alvos de preconceito. Contudo, os novos valores serão as novas origens de preconceito. Ao valorizar a inteligência, quem não a tenha será visto como inferior. Ao valorizar um determinado sentimento, que não o possua será alvo de comportamentos preconceituosos.

Se valorizarmos as capacidades ou habilidades individuais, aqueles que não as possuírem se sentirão vítimas, entrando no ciclo já descrito, visando algum benefício e, assim, criando conflito.

Ao valorizar os sentimentos e pensamentos, a forma do corpo não terá tanta importância e todos estes preconceitos acabarão. Contudo, provavelmente entraremos na era de preconceito emocional ou sentimental, onde excluiremos de nossos círculos sociais quem não tenha os sentimentos que prezamos. Naturalmente já fazemos isso, mas de forma muito inconsciente e menos intensa. Vemos isso nas críticas de pessoas antipáticas ou apáticas porque queremos pessoas empáticas, que se preocupem conosco e, por isso, nos ajudem. Logo, quem não tem empatia é visto com preconceito, com medo e sofre com a humilhação, a inferioridade advinda da visão daqueles que têm preconceito contra elas e com a exclusão feita por este grupo.

É interessante perceber que funcionamos em ciclos: neste caso, não queremos pessoas sem empatia e excluímos que seja assim. Tais pessoas são excluídas e não lidam com pessoas mais empáticas reforçando suas perspectivas de vista de que as pessoas não lhe são empáticas e, assim, têm ainda mais certeza de que serem empáticas é ruim uma vez que não ganham nada sendo assim.

O preconceito faz parte do ser humano. Talvez a maior sensatez (ou loucura por ser completamente diferente do modo de pensar humano) que possamos ter não é lutar contra a realidade, mas nos adaptarmos a essa e alterar o que for possível de ser alterado em vez de condenar e brigar para nos impor.

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