Tem-se a crença (derivada da percepção emocional) de que haja certo ou errado, que um ataca e o outro se defende e vice-versa, como se fosse uma briga. Quem aguentar mais tempo ganha.
Este sistema acontece também no campo das ideias, onde se busca atacar alguém com perguntas, manipulações, persuasões e todas as maneiras possíveis que impeçam o outro de retrucar, explicar ou “se defender” até que este não aguente mais e não tenha mais como explicar as suas ideias. A disputa é pela “verdade” e quem perder é o errado e mentiroso, enquanto que quem ganha é o detentor da verdade. A vitória sobre o outro (o outro não ter como revidar ou explicar totalmente de forma clara e sem nenhuma possibilidade de questionamento) faz a pessoa ser a certa ou vencedora e o seu prêmio é a verdade, mesmo que ela não explique o seu ponto de vista ou suas ideias.
Nesta briga, o objetivo não é explicar o conteúdo mental e ideal, mas acabar com o suposto inimigo. Como se duas pessoas lutassem pela verdade e, quem ganha a leva.
As pessoas se comportam dessa maneira. Elas não se preocupam com o conteúdo analisado ou explicado, apenas com as brigas e com os vencedores. Tantos os competidores pela verdade quanto a plateia que assiste possuem tal visão e prova disso é que quem perde costuma receber humilhações e rebaixamento, como um competidor que perdeu uma disputa.
Embora as pessoas aleguem desejar a verdade e discutir os assuntos para elaborá-los e compreendê-los, na prática elas brigam por tal “verdade”, a qual nada mais é do que o poder social. O ganhador não explica as suas ideias, ele ganha a popularidade, o carinho e atenção social, mostrando que, na realidade, o que está em disputa é esse poder, não a discussão sobre algum tema em si.
Para defender uma ideia e ganhar a briga ou disputa pela “verdade” (poder social concedido pela vitória) vale tudo, inclusive mentir. Isso é visto no setor judiciário onde advogados e réus podem mentir para se “proteger” de tais “ataques”. O objetivo não é buscar a verdade em si, elucidando a situação e os acontecimentos para compreender o que acontecera, mas convencer a plateia de que a própria versão seja a verdade. É uma briga para convencer outros de sua versão, não uma busca de compreensão sobre os fatos ocorridos.
Na vida política em grande escala também é assim que acontece. Pessoas públicas mentem e usam das habilidades sociais para cativar a massa, a qual é a sua sustentação (plateia). Tais pessoas não debatem os assuntos profundamente, elas dizem o que a plateia deseja ouvir, cativando os seus corações e, dessa forma, são bem vistas, ou seja, são consideradas pessoas “certas”. Como todos desejam pessoas boas e certas, elas ganham a popularidade.
Os próprios debates políticos são ataques e contra-ataques e assuntos pessoais muitas vezes aparecem como tentativa de diminuir a popularidade alheia. Como a plateia também acredita que haja uma disputa e que haverá um único ganhador, tais artimanhas são funcionais. Caso a plateia desejasse se foca no assunto em em vez do “competidor”, usar de tal artimanha seria considerado burrice e falta de capacidade de debater, uma vez que assuntos pessoas não fazem parte do assunto em debate, e isso já diminuiria a popularidade de quem usasse de tal método.
Como as pessoas não conseguem desvincular as ideias das pessoas que as alegam, acreditam que essas sejam parte do próprio indivíduo. Dessa forma, se alguém não gosta do indivíduo, também não gostará de suas ideias, mesmo que as desconheça.
Essa percepção misturada e globalizada sobre as pessoas geram muitas brigas. Quando não gostamos de uma atitude de alguém, concluímos que tal pessoas seja errada e, dessa forma, tudo nela também. Assim presumimos que suas ideias, gostos e tudo mais sejam errados também e não damos oportunidade de saber mais nada obre tal pessoa. Ademais, como repudiamos o que não gostamos, não gostar de (algo em) alguém nos leva a evitar e repudiar essa pessoa com todas as suas características, incluindo as desconhecidas, os seus sentimentos, as sias ideias e suas capacidades. Julgamos a pessoa errada por inteiro e com isso desaprovamos tudo que venha dela.
Também é por causa disso que a fonte de uma ideia é mais importante do que a ideia em si: se duas pessoas falarem a mesma coisa, mas uma for considerada certa e outra errada, a própria ideia receberá o mesmo julgamento, apesar de ser a mesma.