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Liberdade de expressão

O que é expressão?

Expressar é mostrar para alguém o que pensa ou sente, expondo o seu ponto de vista, a sua opinião acerca de um assunto. Dessa forma, nos expressamos sempre, já que estamos constantemente expondo os nossos pensamentos, sentimentos, desejos e tudo mais que acontece conosco.

Mostramos que queremos dinheiro quando trabalhamos e exigimos o pagamento monetário; expressamos que estamos com fome quando falamos sobre uma comida que desejamos comer ou quando ficamos com água na boca; expressamos o nosso afeto através de carícias, atenção e favores; expressamos uma ideia em forma de desenhos, projetos na vida ou com palavras; mostramos o nosso repúdio ao evitar aquilo que não gostamos, não concordamos ou detestamos… Estamos SEMPRE mostrando a nossa opinião, expressando-nos.

E o que é liberdade?

É poder fazer. Assim, liberdade de expressão é poder expressar algo. Contudo, embora nos expressemos o tempo inteiro, mostrando a prática da liberdade de expressão, nem todas as formas de expressar o que pensamos ou desejamos são aceitáveis.

Condena-se agressão física, logo, expressar-se dessa forma não é permitido. Assim, não existe a liberdade para se expressar desta forma (legalmente).

Condena-se ofensas e, assim, expressar-se de uma maneira que ofenda alguém não é permitido. Portanto, não há a liberdade para se expressar desta maneira.

Condena-se o ódio, e, então, não podemos expressar o ódio ou a raiva que temos, mostrando que não temos a liberdade de expressão.

Condena-se ideias ou ideologias e simplesmente alegá-las ou falar sobre elas pode ser considerado crime. Então, não temos a liberdade de falar sobre algumas ideias.

O fato é que podemos nos expressar de uma forma que não machuque ninguém, seja fisicamente, moralmente, socialmente, espiritualmente, psicologicamente, emocionalmente ou de quaisquer outras formas.

 

A questão que surge é: como podemos fazer isso?

A ideia de ofensa é alegar uma característica a algo ou a alguém que desagrade o outro. Percebemos a ofensa como um ataque ou uma ameaça, porém não no nível físico, mas no mental e no emocional. Nos sentimos ofendidos (agredidos) quando nos são atribuídas características que não queremos ou não gostamos, e exemplos disso estão aos montes, como falar que alguém seja feio ou gordo, muito alto ou muito baixo, que seja burro ou outras características vistas como negativas ou ruins.

Daí surge outra pergunta: se o outro não pode falar o que percebe, sente, pensa ou acredita porque isso me ofende, isto é, eu não gosto da opinião ou percepção do outro, como este outro pode se expressar sobre algo que eu não gosto sem que eu me sinta ofendida, ou seja, fazendo com que eu passe a gostar? A única forma de fazer isso é expressar a opinião igual à minha, ou seja, concordando comigo. Porém, se a pessoa só pode expressar as opiniões em concordância, cadê a liberdade para se expressar?

Um exercício muito bom para isso é lembrar que somos responsáveis por nós, não pelos outros. Portanto temos a responsabilidade sobre o que falamos, não sobre o que ouvimos.

As pessoas são livres para falar o que desejam, sejam verdades ou mentiras e nós somos livres para acreditar ou não.

Quando ouvimos uma afirmativa, seja verdadeira ou mentirosa, e esta não nos incomoda, nós a ignoramos. Contudo, quando ouvimos uma afirmativa que não desejamos que seja verdade, lutamos para manter a nossa crença válida e, para isso, desejamos ouvir que o que queremos seja verdadeiro. Em outras palavras, desejamos ouvir a nossa opinião em outras pessoas porque quando algo se repete muito, fica mais fácil de acreditar.

Por isso que revidamos ideias, críticas, julgamentos e fatos que vão contra o que desejamos: nós buscamos sustentar o nosso desejo como verdadeiro e real, ainda que não o seja.

Um exemplo simples é quando vemos uma pessoa gorda. Isso não é uma ofensa, é um fato quando a pessoa possui muita gordura no corpo. O fato dela não gostar de ter o corpo que possui não muda o fato, ou seja, ela não emagrece simplesmente por não se falar que ela é gorda. Ela se sente ofendida quando chamada de gorda porque ELA não quer ser gorda, porém o é.

Da mesma forma vale para chamar alguém de pobre. Se a pobreza é ter pouco dinheiro, onde o dinheiro que a pessoa tem não possa comprar os itens que ela deseja, isso é um fato para todos que se enquadram nesta situação. Então, chamar alguém de pobre não é uma ofensa, é uma constatação da realidade. A pessoa pobre não gostar da sua situação de pobreza não a tira da situação de pobreza.

Falar que alguém seja mentiroso, quando esta pessoa faz uma afirmativa sabendo que não é verdadeira, não é uma ofensa, mas uma constatação da realidade. O fato da pessoa não desejar ser chamada dessa forma ou vista como uma pessoa mentirosa, seja porque acredita ser errado, ruim ou outra ideia similar, não muda o fato de que a pessoa tenha mentido. Estas situações mostram que a ofensa só é ofensa quando alega termos o que desejamos ter e não temos ou quando temos o que não queremos ter (seja posse, uma situação, uma característica).

Assim que se chega à compreensão do ódio de uma pessoa que possua muito poder social, a ponto de acreditar que todos a acatem e uma única pessoa discordar dela ou não a vê-la como ela deseja ser vista: é o rompimento com a sua ilusão. Para ela é uma ofensa não ter todos aos seus pés, é uma afronta não dominar todo mundo e, portanto, é uma agressão. Sendo uma agressão, não é liberdade de expressão, mas um crime e, sendo crime, é passível de ser punido como tal.

O que começou como liberdade de expressão para quem deseja mostrar a própria opinião é percebida como ofensa para quem se sentiu atacado. Para este não é liberdade de expressão, mas uma agressão.

O fato curioso é que vivemos em sociedade, o que significa que convivemos com outros da mesma espécie e isso faz com que nos relacionemos. Se nos relacionamos, expressamos a nossa opinião com outros. Como ninguém concorda em 100% com outra pessoa, sempre haverá discordância e, para quem fala, será a expressão de opinião, para quem ouve, será uma agressão. Como todos falam e todos ouvem, todos expressarão as suas opiniões e serão ofendidos pelas opiniões alheias.

O conflito é que desejamos nos expressar, mas não queremos passar pela situação de sermos ofendidos. Em suma, queremos poder falar sem que ninguém discorde e TODOS querem e tentam isso. Como todos conseguirão falar sem que ninguém ouça?

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