O setor privado concorre para ter público. Para conquistar público, o qual é a origem do sustento, visa ofertar o que este deseja. Dessa forma, as escolas privadas oferecem o que o público-alvo deseja, seja uma estética bonita, matérias atraentes, comportamentos visados e outros.
Assim como qualquer mercado em que há necessidade de cativar o público, as redes privadas funcionam dessa forma. Se não atrair cliente, não terão público e, sem este, não haverá retorno financeiro, o qual é a base de sustento para todos. Portanto, não ter qualidade significa que os clientes ficarão insatisfeitos e procurarão por outra escola que lhes ofereça o que procuram. Assim como um empregado que trabalha por temer se demitido, as redes privadas temem não ter cliente o suficiente para se sustentar e, visando evitar isso, buscam agradar os clientes.
No Brasil a matrícula escolar é obrigatória, seja em rede privada ou pública. A família que busca uma rede privada possui capital para bancá-la ou o aluno possui maior capacidade intelectual para conseguir bolsa para frequentá-la. Então, as pessoas que usam dos meios e técnicas da rede privada investem nessa e, como qualquer pessoa, exigem retorno. Dessa forma há a cobrança sobre a escola particular, principalmente por parte dos responsáveis dos alunos ou responsáveis financeiros desses.
As escolas públicas já não possuem tal comportamento porque não compartilham do mesmo objetivo. Muitas pessoas frequentam as escolas por “passatempo”, ou seja, enquanto os pais trabalham, não têm tempo de se preocuparem com as atividades escolares, não acham tão importantes ou não sabem o que pedir ou exigir ou como fazê-lo. A escola possui mais autoridade sobre os alunos que possuem tal estrutura porque eles são obrigados a frequentá-la e não sabem o que e como exigir algum conteúdo ou comportamento, bem como os seus responsáveis.
O caso da escola pública é bem diferente da escola particular por causa disso: os alunos são obrigados a frequentá-la sem que assim desejem de fato (não tem compromisso ou incentivo de seus responsáveis para tal) e os seus responsáveis não exigem retorno, uma vez que não investem nela, não sabem como cobrar ou o que cobrar.
Nem todos os alunos são assim, bem como nas escolas particulares também há alunos que não se comprometem, porém é possível analisar os valores e desejos dos grupos que frequentam ambos os tipos de instituições escolares.
No primeiro caso, o cliente busca por uma mercadoria, paga (investe) e exige retorno. Caso não o tenha, cancelará a matrícula e a instituição perderá este investimento, o qual é o seu objetivo.
Já no segundo caso, o “cliente” é obrigado a frequentar a escola por conta de legislações. O fato de não fazê-lo por desejo já é contraproducente, porque o ser humano não investe dando o melhor de si no que não deseja fazer. Ele o faz da forma mais simples e essencial possível para resolver o problema, não para otimizar o resultado. Então, tanto os alunos quanto os responsáveis não possuem o objetivo de aprendizado em si, eles apenas cumprem ordens e ficam reféns do que lhes é ensinado em tais escolas, ou seja, das ordens.
Dentro desse assunto pode-se perceber que também há diferenças. Os clientes das escolas particulares buscam saber mais sobre o que é ensinado aos alunos, exigem e sugerem conteúdos, enquanto que nas escolas públicas alguém manda o que deve ser ensinado e alunos e responsáveis destes não possuem colaboração.
O raciocínio não é tão complexo: se os alunos são obrigados a frequentar a escola e os responsáveis não têm outra opção para ensiná-los, então a escola passa a ser um local de dominância. Não há o medo de perder “cliente” ou “investimento” porque a “ameaça” de retirar o aluno da escola não possui efeito sobre a escola. Se não há o medo de perder a verba que a sustenta (vinda de responsáveis dos alunos), por que teria medo de perder as matrículas?
Nas redes privadas há mais equilíbrio de “poder” (capacidade de exigência) no relacionamento entre cliente e prestador de serviço porque há ameaças da parte de ambos. O cliente “ameaça” retirar o aluno da escola e esta reage acatando mais exigências. Por outro lado, a escola exige melhores notas, uniformes e condutas.
Na rede pública a escola manda e os “clientes” obedecem. Como vão exigir que algo seja alterado na escola? O que esta perderá se o aluno sair? Ademais, se o aluno sair, irá para outra que é da mesma rede por não ter capacidade de pagar por um serviço melhor, ou seja, muda somente a estrutura física da escola, não a estrutura organizacional ou educacional. Afinal, se houver possibilidade desse aluno frequentar uma escola paga, onde possa exigir mais, ele o fará.
Muitas pessoas alegam que as redes privadas possuem ensino melhor e que a rede pública é ruim quando comparada com as particulares. Por que a rede pública investiria em melhorar o seu serviço se ela não perderá nada se mantiver como está? As escolas são feitas e dirigidas por seres humanos, os quais fazem o essencial para conseguirem os seus objetivos. Para que fazer mais se pode fazer pouco? Talvez estas escolas sejam dirigidas dessa maneira: fazendo o essencial para manter o objetivo que os seus dono/dirigente possuem.
A situação das escolas não é derivado somente destes fatores. Há regras e normatizações para equalizá-las, visto que o dirigente deseja um resultado similar em suas “filiais”. Neste quesito entra outro questionamento: por que igualá-las se os alunos, os locais onde estão e as realidades onde estão inseridas não são iguais? Em alguns locais há necessidade de aprender mais sobre um conteúdo do que outro, mas esta particularização regional e cultural não é feita (oficialmente).
Além disso, as escolas públicas são enormes, ou seja, o sistema que as gerem são de grande proporção, pois são governamentais. Assim, é necessário grande pressão popular para que o governante altere algo nesta rede de escolas, enquanto que as redes menores, que são particulares, são mais acessíveis para os seus clientes, necessitando de menos pessoas para fazer a pressão no seu dirigente o suficiente para que ele altere algo na escola.
É muito mais fácil para os indivíduos lidarem com redes menores porque eles são pequenos quando comparados com estas redes. Portanto, quanto maior é a rede, menos poder de persuasão as pessoas possuem para pedir, exigir ou sugerir alterações nessas redes.
Com tudo isso, a questão que fica é: as escolas públicas não são um exemplo de tirania onde as pessoas são obrigadas a aprender o que não desejam ou discordam?
Não é uma falta de liberdade não poder escolher o que estudar, quando estudar ou onde estudar?