A discriminação, ou comportamento preconceituoso, é um comportamento de pessoas que possuem crenças sem comprovações. Visto que todos acreditamos em muitas ideias, sendo muitas apenas criadas de nossas imaginações, o nosso comportamento as revela. Para muitos, tal comportamento preconceituoso é benéfico, para outros, é maléfico.
Esse comportamento é normal na espécie. Não temos conhecimento de tudo e criamos ideias que expliquem o que não sabemos em vez de aceitar a nossa falta de conhecimento. Criamos histórias e fábulas para explicar alguns acontecimentos; deuses, anjos e demônios para explicar outros bem como para criar regras que sejam seguidas.
Sabemos que fábulas são inventadas tal como deuses, anjos e demônios visto que cada cultura possui os seus sem qualquer prova. Há culturas que acreditam em muitos deuses, outras acreditam em apenas um e há quem acredita em alguns deuses. Independente da crença da pessoa, os acontecimentos surgem provando que tais crenças não passam de apenas crenças, pura imaginação. Se fosse real, várias culturas chegariam à mesma conclusão após estudos e observações como acontece com a ciência, no entanto, isso não acontece.
Vemos a manifestação da discriminação, que é um pensamento, no comportamento das pessoas. A própria criação de entidades divinas, angelicais e demoníacas são representações do que as pessoas gostam e desgostam.
Criamos os personagens conforme os nossos sentimentos. Se acreditamos que deuses sejam bons, os desenhamos com características que apreciamos. Assim, quem gosta de pele e cabelos claros, pessoas magras e altas, delicadas e suaves usam de tais características para desenhar o que acredita ser um anjo ou um deus. O mesmo vale para o oposto: se acreditarmos que o demônio seja algo ruim, os criaremos em nossa imaginação com características que não gostamos. Quem detesta mentira o fará mentiroso; se não gostar de gordos o fará gordo; se acredita que hambúrguer faça mal o fará comendo muitos hambúrgueres; e assim por diante.
As nossas criações são representações do que gostamos e não gostamos e passamos isso em nossos comportamentos e ideias.
Muitas ideias são muito difundidas como as de anjos, demônios e deuses. Sendo criadas por determinadas pessoas, elas possuem as características que seus criadores apreciam. Uma das aparências criadas é de que haja apenas um deus, em forma de homem, que viva nas nuvens, tenha todo o poder do universo, controle total, seja forte e atlético com pele branca e olhos azuis. Tudo isso mostra as características que o seu criador gosta de ver.
Com a divulgação da sua ideia de maneira afirmativa em vez de criativa, é passada como um fato, embora seja uma opinião e criação de uma pessoa em particular. Sendo repetidas muitas vezes ao longo da divulgação, são absorvidas por outras pessoas, quem não as mudam nem as criam. Assim, uma pessoa pode “aprender” que o deus tenha uma conjuntura de características que não gosta sendo uma figura desagradável.
Neste momento, essas pessoas criticam esse deus ao questionar por que ele é assim e não de outra forma. No entanto, o questionamento não busca a resposta em si, é somente uma crítica disfarçada de pergunta porque a pessoa não compreende a razão de ele ser como é pregado por tantos. Além disso, quem é muito diferente do deus amplamente pregado se sente segregado, distante dele e sem representação. Muitas pessoas criticam o “fato” de ele ser branco. “Por que ele é branco em vez de negro?” A mesma pergunta pode ser feita para TODAS as características que tal entidade irreal possua: por que é homem em vez de mulher? Por que é adulto em vez de criança? Por que é grande em vez de pequeno? Por que vive nas nuvens em vez de na terra? Dentre tantas mais.
Enxergamos o que nos incomoda e o que nos satisfaz. O que nos é indiferente é ignorado, então, quem se sente excluído por causa da cor de pele que possui, criticará a cor de pele do deus; quem se sente excluído por ser mulher, criticará o sexo do deus; quem se sente excluído por não ser forte ou magro como deus ou por não gostar desses estereótipos criticará tais aspectos deste deus; e assim por diante.
Por que deus precisa ser homem? Por que ele deve ser branco? Por que tem de ter barba? Por que ele vive nas nuvens? Muitos “porquês” em forma de crítica aparecem em pessoas que não concordam com a ideia de deus que o outro possui. Elas brigam afirmando que este deus é discriminatório ao ter algumas características e não ter outras e a sociedade consegue alimentar uma briga que sequer faz sentido porque deus não é real, é uma criação da imaginação. Se não o fosse, como saberíamos que ele é como é dito que seja? Como sabemos que não é uma mulher, que tenha cabelos compridos, que seja parecido com a espécie homo sapiens ou que viva no céu? Acontece que as pessoas não são obrigadas a acreditar nas ideias alheias. Somos todos livres para personificar os nossos ideias e desejos próprios.
Incapazes de pensar analiticamente, o ser humano aprende através da observação e absorção das ideias principalmente. Não criamos um deus para cada um: uma pessoa ou um grupo de pessoas o cria e o divulga assim como acontece com a criação de todas as ideias: alguém cria uma tecnologia ou uma teoria e os demais as absorvem. É por isso que o desenvolvimento da humanidade se dá em saltos: poucas pessoas criam algo, o salto, e as demais o divulgam, o repetem ou o reproduzem em larga escala ampliando essa bolha ou salto que faz a progressão da humanidade.
Algumas pessoas criaram a ideia de deus e as demais absorveram a ideia de deus como se fosse um fato quando, na verdade, é uma imaginação construída por alguém.
O ser humano sabe muito pouco sobre si mesmo e sobre emoções, que são abstratas. Por sermos muito visuais, buscamos o que conseguimos ver, ou mesmo sentir de outra maneira, porém a visão ainda é o principal. Dessa maneira, em vez de identificarmos o que sentimos e lidar com o fato de que somos nós os sentimentos que temos, criamos formas e ideias que personifique tais sentimentos tirando-os de dentro de nós.
Queremos que haja alguém poderoso que cuida de tudo porque nós não temos o controle total. Queremos que esta pessoa goste e zele por nós, então “concluímos” (veja mais em A confusão de um pensamento, Por que confundimos desejos com realidade? e Como explicar o que não se entende?) que é assim que ela seja. Observe que não há pessoa alguma, apenas o desejo intenso de que haja e de como ela seja.
Acreditamos no que nos faz bem de alguma forma. Se a crença em um deus nos satisfaz de alguma maneira, nós acreditamos que ele exista mesmo que não haja provas ou evidências. Além disso, quanto maior é a intensidade de nosso desejo, mais acreditamos no que queremos, embora esse querer não seja controlável muitas vezes, chegando ao ponto de ignorarmos indícios que provam o oposto e mesmo a própria ideia que se contradiz.
O apego às ideias que nos fazem bem é tão forte que negamos tudo que vai contra e supervalorizamos o que as alimenta e isso não se dá apenas em caráter religioso. Muitas pessoas acreditam que comunismo, socialismo ou capitalismos sejam sistemas sociais perfeitos ou muitos bons negando os problemas que eles possuem e geram e focando unicamente das partes boas deles, ainda que estas partes estejam apenas na imaginação delas. Muitos acreditam que as pessoas sejam boas ou ruins, nunca os dois ao mesmo tempo; que mães sejam sagradas; que homens não prestam; que o estudo muda a vida de uma pessoa para melhor… Muitas ideologias em meio à sociedade que representam o que as pessoas desejam que seja verdade, não fatos comprovados em si.
A “discriminação” nas ideias estão presentes em todas as ideias. Como a ideologia, que representa um ideal para uma pessoa, sendo o que ela deseja em sua vida, é uma ideia, ela não possui tudo, apenas o que o seu dono deseja. Portanto, ao ser passada para outras pessoas como um fato, ela será vista como discriminatória. Dessa forma, encontramos a discriminação no capitalismo que afasta os pobres; no socialismo que impede que pessoas altamente produtivas possam ter sucesso em suas vidas; no comunismo que proíbe e pune quem deseja ser livre para fazer da sua vida o que deseja; na maternidade que ignora e reprime o fato de uma mãe ser uma mulher, desejar trabalhar e sentir tesão por serem ideias tidas como ruins ou erradas; nos muitos homens bons e de confiança que são categorizados como imprestáveis por serem homens se enquadrando na categoria imprestável da ideia central sendo desvalorizados; na crença de que a educação acadêmica fazendo com que pessoas brilhantes e produtivas sejam desdenhadas por não terem um currículo muito grande…
As ideias representam desejos de seus criadores. No caso da religião, deus é personificação do que o seu criador deseja. Se ele quer vingança, acredita que seu deus seja vingativo e o vingará; se deseja amor, acreditar que deus seja amoroso e lhe enviará pessoas amorosas; se deseja saúde; acredita que deus seja saudável e perfeito e que lhe dará forças para ser também… Deus é mutável por causa disso: cada um deseja algo dele fazendo-o ser este algo. Daí que tantas pessoas possuam o conceito e a imagem de deus de uma forma peculiar e pessoal.
As características emocionais são invisíveis e, por isso, mais fáceis de serem manipuladas fazendo com que cada um acredite que seu deus tenha determinados sentimentos. Já as características físicas são visuais e, mesmo não o vendo, nós conseguimos imaginá-lo. Portanto, se alguém afirma que deus seja branco, alto, forte e velho, é assim que a sua imagem será divulgada em palestras, cultos, desenhos, pinturas, esculturas e todas as maneiras possíveis.
Como somos seres que absorvem informações em vez de analisá-las, absorvemos a ideia de deus como um homem como descrito. Já a parte emocional é mais maleável e cada igreja, religião e público possui a sua interpretação sobre deus revelando o que eles querem dessa entidade divina.
Essas entidades não representam ninguém, apenas ideias e desejos. Não apenas seus corpos representam o conceito de beleza de quem os criou, mas os seus poderes também. Deuses poderosos, sedutores, amorosos, vingativos e com outros poderes são a personificação dos desejos de seus criadores. Eles não representam pessoas, representam desejos. Criticá-los é burrice porque é alegar que o outro (o seu criador) não pode desejar o que deseja. Em última análise, limitar a criatividade do outro, de como o outro imagina que deus seja, é uma forma de impedir que ele se expresse. Em contrapartida, fazer afirmações sem certeza também é prejudicial. Portanto, se cada um falar “o meu deus é assim…” o problema acaba e todos ficam livres para terem os deuses que desejarem.
Embora pareça uma forma interessante de apartar a briga, o ser humano busca se impor e controlar os demais. Isso significa que ter a sua opinião não lhe é suficiente: é preciso fazê-la ser divulgada, aceita e concordada pelos demais e uma das maneiras de se fazer isso é fazendo afirmações de suas criações manipulando os demais com verdades sem comprovação ou contraditórias elevando o seu valor social e o poder de controlar os outros por ser sábio.
A repetição de ideias, ainda que por imagens ou desenhos, faz com que acreditemos ser real, verdadeiro ou correto razão pela qual acreditamos que o normal (que se repete muitas vezes) seja aceitável e até mesmo incentivado. O mesmo acontece com o cinema, onde vemos atores fingindo um personagem e de tanto ver determinado padrão de filmes passamos acreditar serem reais, não apenas mentiras com algum objetivo específico.
Se a crítica a desejos pessoais, que são sentimentos, pode ser aceita fundamentada na discriminação, então poderemos ser alvos de discriminação por termos a cor que temos, a altura, peso e outras características que possuímos e não temos como controlar porque haverá quem nos ache bonitos, uma discriminação positiva porque desejamos ser belos, ou feios, uma discriminação que achamos ser errada por não nos agradar.
O fato é que todos nós buscamos a beleza, a satisfação. Sendo visual, odorífica, olfativa ou de qualquer modo, buscamos o prazer e evitamos o desprazer. Se gostamos de uma pessoa com pele clara, tentaremos ficar perto de pessoas com esta característica e evitaremos as demais. Para quem pensa assim, a pele clara é a certa e as demais são a erradas. Puro gosto pessoal.
Da mesma maneira, se gostamos de pessoas inteligentes, nós as buscaremos e faremos o possível para tê-las em nossas vidas assim como evitaremos pessoas burras. Se apreciamos um corpo masculino e ficamos excitados com ele, temos o comportamento de transar com homens em vez de mulheres. Se desejamos ter uma dieta vegana, evitaremos círculos sociais com pessoas mais carnívoras. Se podemos afirmar ser discriminação não gostarmos de pessoas gordas ou pardas, então podemos igualmente afirmar que todos os gostos são discriminatórios e, se podemos afirmar que a discriminação é errada, então concluímos que ter gostos é errado e que não podemos ter preferências. Assim chegamos a uma terrível situação onde não podemos escolher o que nos faz bem e evitar o que nos faz mal.
Neste ponto, muitas pessoas confundem com o assunto de preconceito, o qual possui uma pequena interseção com a discriminação.
O preconceito é a crença em uma ideia criada de gostos pessoais, que, como visto, gera a discriminação. Contudo, a diferença está no fato de que, no preconceito, a pessoa preza a sua crença em prol de informações verídicas como acreditar que pessoas com pele mais escura sejam burras. Não existe ligação entre a quantidade de melanina na pele e a capacidade intelectual, portanto, é uma ideia criada sem fundamento. Agir conforme a crença e ignorar o fato é agir com preconceito, uma escolha burra ao preferir uma imaginação em vez da verdade. Contudo, apreciar mais pessoas brancas do que pessoas escuras é uma discriminação por ser um gosto pessoal. Compreenda mais em A estupidez humana natural ou normal (colocar link).
A falta de compreensão do nosso próprio pensamento e criatividade nos leva a ter conclusões que são desejos, ver o que não existe, acreditar no que não tem, ignorar a realidade e criar ideias como se fossem fatos. Personificamos nossos sentimentos por não os conhecermos, não sabermos expressá-los e por os julgarmos como errados. Falamos que demônios nos possuem quando temos vontades que acreditamos serem erradas e que deus nos dá o que nós mesmos trabalhamos para conseguir. Tudo fora de nós como se não tivéssemos nada dentro, como se fôssemos possuídos por entidades que nos controlam.
Essa perspectiva mostra como não temos controle sobre o que sentimos e como somos reféns de nossos sentimentos. Afirmamos que não somos nós quem agem errado, mas os demônios que nos controlam na tentativa de manter a nossa percepção sobre nós positiva e sem culpa. Também delegamos nossas conquistas a deuses para tentarmos nos ver como pessoas humilhadas e sem valor que é a definição atual de humildade.
A personificação associada à divulgação da ideia personificada é uma maneira de impor as próprias crenças sobre os demais principalmente quando se afirma que não seja uma personificação, mas um fato que acontece com e para todos. Divulgar ideias de pecados, erros e castigos assim como qualquer ideia fortifica a sensação de imposição e medo dos demais deixando-os sob controle ao temerem os castigos, sejam reais ou imaginários.
A crença conjunta sobre uma ideia faz com que muitas pessoas acreditem que seja real e, assim, seus conceitos de ideal e repúdio são os mesmos fazendo com que multidões busquem o ideal que foi imposto (desejos criado) e rejeitem o que é repudiado sem que sequer tenham pensado nisso. Elas valorizam tudo que seja parecido com o ideal e rejeitam o que é próximo ao que repudiam num comportamento grupal de discriminação.
É com isso que criou-se o ideal de beleza: quem está próximo a este ideal é belo, e que está longe é evitado; assim criou-se o ideal de mulher: aquelas que são carinhosas, submissas e caseiras são boas enquanto as que tem pulso firme são tidas como ruins; criou-se a ideia de que quem tenha uma religião seja melhor do que quem não tenha bem como que algumas religiões são melhores do que outras; criou-se o ideal de que o altruísmo seja bom e o egoísmo seja ruim; criou-se o ideal de riqueza sendo os ricos melhores do que os pobres…
Somos todos discriminados positiva e negativamente o tempo inteiro por todos que sabem de nossa existência porque a discriminação é o resultado prático de gostos pessoais.