Pular para o conteúdo

O medo de não agir

O medo de não fazer nada perante uma situação desconhecia é maior do que o medo de se tomar providências, ainda que estas não sejam benéficas. Por isso o ser humano busca formas de “evitar” ou “amenizar” os problemas através de práticas e crenças infundadas ou sem evidências de que possam ser úteis.

– muitas pessoas rezam antes de sair de casa para ter bênção ou alguma proteção;
– a sangria era um procedimento comum quando se adoeciam entre pessoas da corte de alguns reinos do passado;
– rituais são feitos visando ajudar algo ou alguém, ainda que não se saiba como ou porque;
– pessoas tomam remédios para evitar doenças, mesmo que tais não tenham eficácia comprovada;
– há quem pule ondas ou vista roupas específicas na virada do ano para trazer algum tipo de sorte;

 

Muitas pessoas alegam que é melhor fazer do que não fazer nada e a frase “vai que (funciona)…” é rotineiramente usada para tentar justificar o que injustificável.

O fato é que não fazer nada nos dá a sensação de estarmos a mercê de algo desconhecido e essa sensação nos é muito incômoda. Nós nos sentimos impotentes, fracos ou vítimas, todas sensações desgostosas que visamos evitar a todo custo. Fazer algo, mesmo que não tenha eficácia, nos dá a sensação de que temos um pouco de autonomia e controle, sensações que nos dão bem-estar e segurança. Por este motivo tomar providência, ainda que se mostre maléfica posteriormente, é rotineiramente feita pelo ser humano. 

A questão não é o resultado prático, mas o emocional imediato.

Assim a sangria do passado hoje é vista como absurdo, já que não apensa se provou a sua ineficácia, mas o seu prejuízo. O mesmo acontece quando alguém está numa situação de sede intensa e bebe urina ou água do mar (se este houver). Ela acredita que (por ser líquido) matará a sua sede, contudo, por ter muito sal na solução, faz o efeito oposto, colaborando para a desidratação mais rápida.

Este comportamento foi visto durante a época em que a peste surgiu. As pessoas não sabiam como se prevenir, tratar ou curar a doença e, ainda assim, tomavam precauções.

Para se evitar algo é necessário saber como este algo surge. No caso de uma doença, para evita-la e necessário saber como ocorre a contaminação para, então, evitar os meios em que a contaminação ocorre.

O vírus da AIDS só pode ser evitado porque sabemos como ele se propaga. Sem essa informação não há como adotar medidas para evitar a contaminação. Acreditava-se que ele se propagava através do sexo, então diminuir contatos sexuais era a maneira de evita-lo. Essa informação surgiu baseada em análises em que pessoas que transavam com muitas pessoas costumavam ter maior incidência da doença. Contudo casais (casados) também se contaminaram. Ademais, pessoa que receberam transfusão sanguínea também. Então, o modo de prevenção não era adequado. Com estudos descobriu-se que o vírus só contaminava de líquido para líquido, fosse sangue ou em mucosas (são úmidas). Então, se o vírus precisa desse contato, a maneira de se prevenir dele é evitar tal contato. No sexo o modo de evitar tal contato e se prevenir é o uso de preservativo, o qual impede o contato direto de mucosas. Em doação de sangue há análise do mesmo antes de ser usado. Com o uso adequado e eficaz de métodos preventivos as pessoas voltaram a se relacionar sexualmente sem (tanto) medo e com mais pessoas.

Isso mostra que é necessário saber como uma situação ruim ou doença é criada ou contaminada, pois somente é possível evitar a sua existência ou disseminação não permitindo os agentes/fatores que a cria ou impedindo o contágio. Este é o raciocínio lógico, porém o ser humano não é lógico, é passional.

Embriagado pelo medo ou pânico, age motivado por tais sentimentos, desprezando fatos e dados e recorrendo a crenças que reduzem o seu incômodo. É assim que fazer algo, ainda que não haja evidências de sua eficácia ou seja prejudicial posteriormente, convence a pessoa a agir contra a lógica. A pessoa pode alegar que é para o bem, para evitar o mal, porém se não há como evidenciar a eficácia do método, esse argumento não possui fundamento e expõe o verdadeiro motivador de sua ação: busca por tranquilidade ou redução do medo (bem estar).

A pandemia de uma doença nova em 2020 mostrou esse comportamento na espécie. Medidas “preventivas” foram adotas e impostas ainda que não se soubesse como a doença disseminava. Doentes foram tratados com métodos não eficazes, com medicamentos e técnicas medicinais que não tinha comprovação de eficácia para a doença. O medo de não fazer nada reinou e as pessoas agiram por crença e com imprudência para evitar se contaminarem ou para tratarem os contaminados.

Máscaras foram usadas e instituídas como obrigatórias porque passava a sensação de que a pessoa teria menor chance de se contaminar, o que diminuía o seu medo. Ficar em casa foi outro método de evitar a doença, bem como usar álcool repetidas vezes ao dia. Métodos sem evidência de eficácias foram impostos por crença de que eram suficientes ou eficazes. CRENÇA.

Pessoas que usavam máscaras se contaminaram. Quem ficou em casa adoeceu. Quem tomou vacinas ficou doente. Quem usava álcool se contaminou. Os métodos impostos baseados em na crença de serem eficazes se mostram ineficazes ou pouco eficazes, já que quem os usou adoeceu. Claro que houve quem tomou tais medidas e não adoeceu, bem como quem não adotou nenhuma prevenção também não adoeceu.

Outro aspecto a ressaltar para mostrar que somos passionais e irracionais é que valorizamos mais o sentimento de medo ou pânico em vez de dados ou fatos. Alegou-se que a doença era muito contagiosa (fácil dispersão entre as pessoas) e letal (alta probabilidade de morte). Visto que não houve como rastrear a doença, pelo menos no Brasil (por incapacidade de testas todos os indivíduos e analisar os locais de contaminação), então não há como afirmar que a contaminação é alta, já que não teve como saber o nível de contaminação (quantas pessoas foram contaminadas a partir de uma). Com alguns dados genéricos e de grande comunidade foi feito um estudo e análise para se ter essa informação e concluíram que a doença era contagiosa. Porém não foi possível testar todos para averiguar a letalidade da doença, a qual é o número de infectados/número de mortos pela doença. Foi-se dito que a maioria das pessoas era assintomática, ou seja, elas estavam contaminadas (possuíam o vírus), mas não tinham a doença (sintomas). Se não se sabe quantas pessoas estão contaminadas, então não se pode fazer o cálculo de sua letalidade. Portanto alegar esse dado é mentir.

Como o número de casos aumentou, por ser algo novo, as pessoas se assustaram. O número de mortes por cauda da doença subiu comparado com a época em que ela não existia (era zero). Então as pessoas ficaram alarmadas e entraram em pânico. Movidas pelo medo de fazerem parte de grupo de mortos que parecia crescer exponencialmente (comparado com a época em que a doença não existia) elas ignoraram a racionalidade e agiram. Acreditando que máscaras evitariam que se contaminassem, elas as adotaram e impuseram aos demais, como outros métodos “profiláticos”.

O tempo passou e a curva exponencial que acreditavam existiu não se mostrou real. Quem usava mais do raciocínio para fazer as suas escolhas começou a perceber que a doença não é como a peste de séculos atrás na Europa. A população global, ainda que diante dessa doença “altamente contagiosa e letal” não foi reduzida pela metade ou um terço como foi com a peste. Então essa informação provavelmente não era verídica ou verdadeira. Quem se baseou no medo de se contaminar ou não compreendia os gráficos ou números da doença seguiu acreditando que havia um monstro avassalador que matava rapidamente a população, alimentando o medo de ser contaminado.

Da mesma forma as vacinas feitas, e sem comprovação de eficácia ou de danos colaterais, foram amplamente aplicadas. Diante de um cenário de uma doença assustadora e mortal a vacina satisfaz a população, prometendo a ausência da doença e, assim, a redução do medo, aumento da tranquilidade, segurança e bem estar. Acreditar que a vacina é eficaz é suficiente para convencer alguém de tomá-la, mesmo que não haja dados suficientes para provar a sua eficácia. Mais uma vez isso mostra que o objetivo não é prevenir a doença ou trata-la, mas diminuir o medo e pânico que as pessoas possuem dela.

O ser humano age com medo e pavor a tudo que lhe é novo. O medo de sofrer, de adoecer ou de sentir dor o faz temer a tudo até que se prove o contrário (a sua incapacidade de causar prejuízo). Doenças eram tidas como castigos divinos ou do diabo em tempos passados e isso fazia com que a população temesse ao não agir corretamente para não ser castigada. Com o avanço do conhecimento descobriu-se a causa de diversas doenças, bem como suas curas ou tratamentos, reduzindo esse medo. Sem o medo, a população não tem mais motivo para acreditar que seja castigo divino e, então, não obedecer a entidade divina passa a ser mais aceito. Sem o medo para estimular a população a agir de uma determinada forma para evitar punição ou pragas, esta não tem mais razão para obedecer aquela que impunha o medo.

Não importa quão achemos, acreditemos ou desejamos ser racionais. Somos quase totalmente passionais ou instintivos. Os nossos sentimentos prevalecem diante da razão, desvalorizando ou ignorando esta e supervalorizando aqueles. Acreditamos mais no medo que sentimos do que os dados expostos ou a realidade que vemos e por isso agimos: para satisfazer os nossos sentimentos termos mais satisfação (bem estar) imediato.

 

O sábio observa, analisa, conclui e só então decide fazer algo.

O burro ignora a realidade, age por impulso e culpa alguém pelas consequências.

O equilibrado usa de seus instintos para efeitos imediatos (em situações que ameaçam a vida imediata) e do raciocínio para evitar para compreender a situação total, prevendo os resultados, se planejando a estes e, dessa maneira, criando um bem estar constante e duradouro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *