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Deus = Prazer

Muitas pessoas discutem a existência ou não de Deus, outras afirmam a sua existência e muitas O defende mesmo que de não haver evidências concretas. Afirmar a existência de algo que não se tem qualquer evidência diz mais sobre a pessoa que afirma do que o fato (de existir ou não) em si.

A questão talvez não seja se Ele existe, mas o porquê de muitos desejarem a sua existência tal como a concebem.

A própria definição de Deus varia não somente entre religiões, de indivíduo para indivíduo. Sem uma definição estabelecida qualquer discussão sobre o tema se torna incoerente, uma vez que para uns Deus significa A, enquanto que para outros Deus significa B, para outros significa A e B e para muitos outros possuem significado ainda diferente. Como debater sobre um assunto em que o objeto a ser analisado não é o mesmo para todos?

A criação de entidades ou histórias é um artifício do ser humano para “esclarecer” assuntos desconhecidos. Assim algo ou alguém, também desconhecido, é criado para suprir a sensação de incompreensão, desconhecimento, insegurança e falta de controle. Ao criar algo que controla tudo a sensação desagradável de não termos o controle diminui, já que, se algo controla tudo, não existe acaso ou falta de lógica (ou consequência). Assim a sensação de estamos “num beco sem saída” é substituída pela tranquilidade de que algo zele por nós. É o motivo pelo qual as crianças buscam os adultos quando não sabem o que fazer.

Acreditar que existe alguém zelando por nós nos confere uma sensação de tranquilidade ao não sentirmos a necessidade de controlar ou cuidar de tudo. É um recurso positivo para calmar e tranquilidade permite maior possibilidade de pensar, se organizar e agir de maneira mais proveitosa. Em suma, acreditar que algo cuida de nós evita o pânico, sensação desagradável que costuma motivar a pessoa a agir de maneira menos proveitos, gerando reações (consequências) negativas (desagradáveis).

Sabemos que a humanidade não é justa dentro de nossa percepção de justiça. A sensação de ser injustiçado também é muito desagradável e não sabemos conviver com isso de maneira tranquila. Acreditar que alguém é o justiceiro, que percebe a injustiça e a condena nos causa muito alivio, sensação agradável. Daí temos um bom motivo para acreditar nessa entidade que nos dará o que queremos.

Não saber tudo nos gera insatisfação, não apenas intelectual, mas emocional. Não saber qual é a melhor escolha ou qual caminho seguir nos deixa atordoados, apreensivos, ansiosos e preocupados, muitas sensações desagradáveis. Para evitar essas sensações criamos uma ideia que faz com que elas sumam ou, pelo menos, diminuam. Deus entra neste contexto “trazendo” explicações e nos acalmando.

Interessante perceber que para cada questão existe uma explicação “divina”, porém não condiz com respostas a outros questionamentos. É como se cada pergunta houvesse uma resposta e os assuntos jamais se mesclassem ou se conectassem. Assim inúmeras contradições se fazem e a sensação de segurança por Deus se sábio acaba tendo efeito inverso para quem descobre tais contradições. Afinal, se Deus sabe tudo porque se contradiz, hora falando que uma coisa é certa e depois falando que o mesmo é errado? É essa insegurança que leva muitas pessoas questionarem uma entidade divina como essa.

Deus é o pai que cuida dos filhos. Assim como uma criança que recorre aos pais para ganhar afeto (aceitação), carinho (consolo), segurança (proteção), defensor (juiz que julgará todos) e outros, Deus oferece as mesmas coisas

Parece que a figura divina segue os moldes humanos. Se ele existe, seguirá o molde humano? Se sim, então ele provavelmente não é perfeito porque o ser humano não é. Se não, então não faz sentido imaginá-lo como humano ou agindo como humano.

As entidades divinas também sofrem alteração com a perspectiva de quem as crê. Quem acredita que é injustiçado acredita que Deus seja justo e fará justiça; quem deseja vingança acredita que Deus a fará; quem deseja amor acredita que Deus seja amor ou que oferecerá amor; quem deseja dias melhores acredita que Deus seja esperança e ofertará dias melhores, quem deseja guerra acredita em Deus(es) da Guerra, quem busca piedade acredita que Deus seja piedoso… Parece que Deus é o que a pessoa busca, não uma entidade em si, algo ou alguém definido e com características exatas. Parece que Deus é uma criação (da mente) humana que em momentos de grande ansiedade e intenso desejo pode ajudar a pessoa a se acalmar e se sentir melhor (entenda melhor em Hipocrisia: certa ou errada? Boa ou ruim? Por quê?). Porém a falta de explicação lógica e coerente impede que essa crença seja atestada como verdadeira. Assim, para quem deseja compreender o mundo ou algo não busca em religiões, fábulas ou entidades desconhecidas e de existência discutível. Elas buscam através de formas que ofereçam respostas. Já para quem busca mais satisfação ou amenizar suas dores emocionais a figura de alguém que resolverá os seus incômodos é a solução mais fácil e rápido: basta acreditar sem ter de se esforçar ou fazer algo.

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