Nostalgia: crença de que o passado era melhor.
Acredita-se que o passado era melhor porque isso dá a sensação de poder refazer o que era bom. Esta visão é mais agradável e fácil de acreditar do que imaginar algo para fazer de novo para um futuro melhor, pois criar é mais difícil do que reproduzir. Assim idealiza-se o passado para manter a crença de reproduzir algo bom, em vez de criar algo bom.
Essa nostalgia também acontece porque nós, como indivíduos, nunca enfrentamos nada pior antes. Assim, ao comparar o nosso passado com o presente temos a sensação de estarmos vivenciando o pior momento. Porém igualar o nosso passado individual com o passado da humanidade é de grande equívoco.
Acontece que temos lembranças de nossas infâncias e é comum crianças terem menos responsabilidades e problemas que adultos que chefiam a família. Com isso acreditamos que o passado, o nosso passado em que podíamos brincar sem pensar em como pagar as contas, era o normal de todas as pessoas, incluindo os de nossos pais. Os nossos pais possuem a mesma percepção, mas comparando com a infância deles, não com o período em que eles eram responsáveis por nós e nós éramos crianças. Perceba que este período muitas vezes foi difícil para eles, similar como nosso presente, quando somos nós que temos os mesmos deveres que eles.
A soma dessas suas ideias nos leva a concluir que o passado era melhor. Outras ideias, como análises sem lógica, também contribuem para tal percepção. Essas análises são as comparações feitas entre dados conhecidos e dados desconhecidos.
O ser humano ignora o desconhecido acreditando que não existe. Ele não pensa que não sabe tudo, ele “conclui” que sabe tudo e, portanto, nada mais existe ( veja A confusão de um pensamento e A estupidez humana). Essa percepção permite a próxima: acreditar que um desejo seja real (Por que confundimos desejo com realidade?). Então não ter um dado (dado desconhecido) favorece acreditarmos que esse dado pode ser o que desejarmos. Dessa maneira, se desejamos acreditar que não havia câncer no passado, concluímos que ele não existia e, portanto, o dado é zero. Ao comparar o dado atual (quantos casos de câncer) com o do “passado” percebemos que houve um grande aumento. É assim que vemos que a violência aumentou, que há mais mortes, mais doenças, que o câncer não existia ou que uma doença é altamente mortal, ainda que se desconheça o total de infectados. O fato de não ter registro de câncer não faz com que ele não tivesse existido assim como não contabilizar todos infectados impede a contabilização da proporção de pessoas infectadas/mortas, o qual é a mortalidade de uma doença.
Essa é uma distorção e manipulação muito comum. A mídia costuma usar esse mecanismo para influenciar ou criar uma determinada opinião em sua plateia. Também costumamos fazer isso em nosso cotidiano conosco e com outras pessoas.
É importante perceber que muitas vezes essas distorções são inconscientes e outras são feitas conscientes ou propositalmente.
Cuidado com a nostalgia e achar que os costumes antigos eram melhores.
Era costume casar com quem os pais escolhiam; era costume ter muitos filhos; era costume o marido ter o direito de fazer sexo com a esposa, mesmo que esta não quisesse; era costume tratar doenças com rezas e orações, não com remédios; era costume não tomar banho; era costume duelar até a morte para proteger a “honra”; era costume passar a vida infeliz, sobrevivendo como era possível, não em busca da felicidade; era costume não irmos a médicos ou fazer exames…. Haviam muitos costumes.
Se o passado era tão bom e os costumes eram melhores do que os atuais, por que as pessoas mudaram tudo isso? Elas fizeram leis, manifestações, guerras e brigas para mudar. Se queria mudar, então não era bom. Talvez a nossa idealização sobre o passado que nos cegue para o que realmente foi.
Observe os fatos e os analise, não os replique somente por ser normal, comum ou tradicional.