Há quem seja a favor da pena de morte e contra o assassinato, isto é, a pessoa acredita que a punição com o fim da vida seja justa (em alguns casos) ao mesmo tempo que acredita que pessoas que terminam a vida de outras com homicídios seja errado. Pode parecer contraditório quando olha-se superficialmente, mas ao identificar a razão de tal opinião a contradição se desfaz.
O homicídio, ou assassinato, é caracterizado pela morte direta de uma pessoa por outra sem que o sistema jurídico intervenha. A decisão é tomada pela pessoa que comete a ação.
A pena de morte é caracterizada pela morte indireta do indivíduo, onde esse é morto através de algum aparato, o qual é planejado e ativado por terceiro. Isso significa que não há contato direto ou emocional entre que executa a ação (ativa o aparelho) e a pessoa que é morta. Ademais, a decisão para que esta ação seja tomada é feita por alguém que representa o Estado, o qual é representante da sociedade. Na prática isso significa que ninguém se sente responsável por esta ação de execução, já que a responsabilidade é da sociedade inteira, o que faz com que a responsabilidade individual seja tão pequena que não é percebida pelo indivíduo.
É por conta dessa sensação, provocada pelo relacionamento indireto, que nos leva a não sentirmos determinadas decisões judiciais ou legais. Por isso que ser a favor da pena de morte ser tão diferente de matar uma pessoa. Se a pessoa que é a favor da pena de morte fosse a responsável por executar a pena diretamente a sua opinião provavelmente mudaria porque o contato com o outro nos afeta, alterando a nossa opinião, e viver o homicídio matando o outro é outra sensação que também nos incomoda.
Ser a favor da pena de morte significa que a pessoa enxerga que o indivíduo a ser condenado não tem capacidade de viver em sociedade. A única maneira de deixar de viver em sociedade é mata-lo, já que isolá-lo em algum lugar não é uma opção, já que necessitaria de um lugar isolado para cada indivíduo incapaz de conviver com os demais porque isolá-los todos juntos é criar uma sociedade distante de nós. A Inglaterra fez isso, mandando condenados às novas terras na América e eles criaram uma sociedade, logo essa não é uma opção.
Talvez algumas pessoas, ainda mais quem idolatre os Estados Unidos queiram alegar que deu certo ao observar os resultados atuais, séculos depois.
Os Estados Unidos podem ser bons em muitas coisas, mas possuem as suas dificuldades e seus problemas. Logo a forma de colonização não é exemplo de criação de uma boa sociedade. Os problemas de homicídios, tão condenáveis, continuam acontecendo.
Ademais, as pessoas num ligar novo buscam formas de organização e produção para a manutenção de suas vidas. Uma vez seguras, buscam maneiras de otimizar suas produções e facilitar a vida. Isso significa que não depende unicamente da sociedade, mas das características locais. Se houver maneira de fazer agricultura farta, a sociedade se mantém e prospera com facilidade, porém se houver dificuldade guerras são travadas para o dominar a produção necessária à vida.
Dessa forma isolar os indivíduos indesejáveis pode não obter um bom resultado. Se eles forem mandados para regiões pouco produtivas ou eles não souberem como produzir, a escassez será tremenda e brigas e guerras serão travadas para se conquistar o necessário para sobreviver. Isso não é exemplo de uma sociedade funcional. Um exemplo de uma sociedade assim foi a Ilha Nazino, na União soviética, onde pessoas condenadas pelo governo (legislação) foram isoladas para uma região com condição insalubre à vida humana ou produtividade, além das pessoas não saberem como produzir naquela terra (veja em Aventuras na História · Caso Nazino: A terrível ilha canibal de Stalin).
Com isso vê-se que o isolamento não é uma opção. O que é possível é retirar a pessoa da sociedade através de sua morte ou restringindo a sua liberdade na sociedade. Esta última opção é a escolhida no Brasil através de apreensão ou condenação carcerária.
Outro fator que influencia uma pessoa acreditar que a pena de morte seja uma solução para indivíduos que cometem ações repudiáveis para a sociedade é que ao permanecer preso a manutenção de sua vida, bem como da estrutura em que ele vive, são mantidas pelo Estado, ou seja, pela sociedade, uma vez que o Estado apenas administra a vida financeira e judicial da sociedade ao coletar impostos e impor leis que a sociedade deseja. Isso significa que a sociedade paga para manter o indivíduo indesejável preso. Se este indivíduo morresse haveria mais dinheiro para investir em outras áreas já que não teria o gasto com o indivíduo indesejável. O questionamento que surge é: por que devemos pagar para tirar da sociedade uma pessoa que prejudicou a sociedade? Ao falar sociedade generaliza muito e a nossa percepção fica comprometida porque nos sentimos tão pequenos diante da sociedade, que é o coletivo em grande escala de indivíduos, que achamos que não fazemos diferente. Então reorganizando a frase para entendermos melhor porque nós somos a sociedade: por que EU devo pagar para manter um indivíduo que repudio preso se ele poderia ter escolhido não fazer coisa errada e seguido a lei? Em outras palavras: por que eu devo pagar pelo erro do outro? Ao chegar nesta ideia cada pessoa terá uma resposta porque possui valores individuais. Quem valoriza a vida de todos acima de tudo acredita que pagar pelo erro do outro é a melhor opção. Para quem acredita na escolha perceberá que a pessoa presa escolheu agir contra a lei e, portanto, ela deve pagar por seu erro (não agir em conformidade à legislação) pois, caso contrário, todos podem agir contra às leis que outros pagarão e isso vai contra a definição de justiça. Portanto, se essa premissa estiver correta a própria definição de justiça e tudo que advém dela estará errada, incluindo o próprio sistema jurídico.
Há quem sinta tanto repúdio por determinadas ações que não consegue aceitar que indivíduos que as cometem existam. A sua própria existência causa um mal estar neste indivíduo e isso pode ser visto nas perseguições e obsessões que vemos, tanto em ódio ou em “nome do amor”. No primeiro a pessoa não consegue se sentir bem em saber que o seu inimigo (pessoa que odeia) existe ou tenha a própria vida. Isso pode ser visto tanto no âmbito político quanto no pessoal. Um exemplo é quando uma pessoa comete um crime, cumpre a sua pena e pessoas continuam acreditando que não foi suficiente e buscam “justiça” (vingança na verdade), iniciando perseguição e fazendo o possível para prejudicar essa pessoa. Já no âmbito político vê-se manifestações contra um político em vez de manifestações a favor de alguma ação benéfica à sociedade. Isso mostra que o ódio a alguém faz a pessoa ficar obcecada por ela e sequer pensa em opções mais produtivas. Não é à toa que fala-se “fulano tem que morrer” mostrando que o seu repúdio é tão grande que não consegue viver sabendo que o outro existe.
Também há quem tenha crenças ditatoriais que proíbem determinadas ações, como matar. Há religiões que alegam que matar seja errado e somente por isso a pessoa alegue que matar seja errado e, então, a pena de morte seja errada. Não existe fundamento racional, apenas fé (crença sem exposição ou comprovação). É provável que essa pessoa não questione o assunto, aprofundando em seus fundamentos ou consequências, mas com certeza será interessante se isso acontece. Lembre-se: ser improvável não é ser impossível. Significa que as chances são poucas.
Quais outros argumentos pode-se usar para ser a favor ou contra a pena de morte? Comente!